O estudo, que reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros, se baseia em dados coletados nos últimos 40 anos.
Um estudo publicado pela revista científica Science Advances, revela que o aquecimento global está afetando o tamanho dos pássaros da Amazônia. O estudo, que reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros associados ao Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), se vale de dados morfométricos coletados nos últimos 40 anos.
A morfometria é o estudo das formas de uma mesma população de animais. Uma das suas aplicações é a análise das formas e tamanhos que organismos vivos podem assumir conforme o ambiente no qual se desenvolvem. Estudos anteriores feitos com pássaros migratórios já haviam sugerido que o impacto do clima no tamanho das aves. Na época, não foi possível associar com exatidão esses dois fatores porque o processo migratório pode ocasionar outros fatores de impacto, como perda de habitat ou a caça.
Dessa vez, os pesquisadores concentraram suas análises comparativas em 77 espécies de aves não-migratórias da floresta Amazônica e o resultado foi o mesmo: pássaros cada vez menores diante de um clima cada vez mais quente. A pesquisa aconteceu no Centro de Biodiversidade da Amazônia, próximo a Manaus, na Amazônia brasileira. Desde a década de 1970, a região esquentou 1,65ºC na estação seca e 1,0ºC na estação chuvosa. “Todas as 77 espécies apresentaram massa média menor desde o início dos anos 1980”, afirmam os pesquisadores no estudo.
Outra alteração que chamou a atenção dos cientistas foi o aumento no tamanho das asas. Segundo eles, paralelamente à redução no tamanho, um terço das espécies (69%) apresentaram asas mais longas. “As mudanças morfológicas sazonais e de longo prazo sugerem uma resposta às mudanças climáticas e destacam suas consequências generalizadas, mesmo no coração da maior floresta tropical do mundo”, afirmam os pesquisadores.
Mas qual é a explicação de tudo isso?
Segundo os pesquisadores, além dos pássaros estarem se adaptando à temperaturas crescentes, os declínios na massa podem ser causados por tensões nutricionais. A massa foi negativamente associada a estações secas mais extremas, aumentando a possibilidade de que a condição das aves diminuísse em anos estressantes com menor disponibilidade de alimento.
Diante de um ambiente em mudança, as respostas biológicas das espécies são limitadas à extinção, mudanças de distribuição e adaptação. A morfologia das aves está se transformando em corpos mais leves e asas mais longas. Juntas, as proporções do corpo estão se adaptando para um voo mais eficiente e com menor produção de calor metabólico.
“Independentemente do mecanismo por trás dessas mudanças, a morfologia das aves revela a sensibilidade da biota amazônica à atividade humana global”, afirmam os pesquisadores.