Segundo os especialistas, o aumento do desmatamento na Amazônia deve-se a diminuição das fiscalizações ambientais a partir do avanço dos casos da Covid-19
Nem a pandemia do novo coronavírus foi capaz de frear o desmatamento na Amazônia este ano. Só no período que vai de agosto de 2019 até o dia 31 de julho deste ano, a área desmatada na região é equivalente a um 1.095.000 campos de futebol. Os dados são do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e apontam que o espaço atingido chegou a 9.205 KM² nesse período. No ano passado, esse número tinha ficado em 6.844 KM², ou seja, um aumento de 34,5%.
Para o especialista em sensoriamento remoto do Instituto Sócio Ambiental (ISA), Ricardo Abad, o aumento do desmatamento na Amazônia deve-se a diminuição das fiscalizações ambientais a partir do avanço dos casos da Covid-19. “O Ibama está tendo menos fiscalização por causa da Covid-19. Então, pela falta de fiscalização muitas áreas protegidas estão sendo invadidas”, declarou.
Se comparados apenas os dados dos meses de julho de 2019 e 2020, houve queda no desmatamento, neste mês do ano. Em 2020, os dados apontam para 1.654 KM² de áreas com alertas de desmate. No ano passado, o total foi de 2,2 mil KM². Mas as informações anuais do levantamento feito pelo Inpe registram um aumento de 34,4% nos alertas de desmatamento da região, também entre agosto de 2019 e julho de 2020. A taxa oficial anual de desmatamento na Amazônia é calculada considerando todo o período de seca, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte.
Quando se analisa os estados da Amazônia, o Pará lidera o ranking dos Estados que mais desmataram este ano. O Estado registrou 43% do total desmatado na região, seguido do Amazonas (21%), Mato Grosso (14%), Rondônia (14%), Acre (7%) e Roraima (1%). O total devastado no Pará foi de 1.093 KM², equivalente a três vezes a área da cidade de Belo Horizonte.
Altamira, no sudeste do Pará, é a cidade com maior índice de desmatamento entre os municípios. Em seguida, vem Porto Velho (RO), Novo Progresso e Itaituba, também no Pará.
“Temos observado que existe um padrão bem definido. Infelizmente, não conseguimos enfrentar adequadamente. O primeiro que estão chegando aqui são aqueles que querem desrespeitar as leis, seja empresa privada ou fazendeiro˜, afirmou o integrante do movimento Xingu Vivo, Luiz Teixeira, sobre o desmatamento ligado a grilarem de terras.
Já o Ministério Público Federal, no Pará, adotou nos últimos 30 dias, uma série de medidas para cobrar do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o cumprimento de compromissos assumidos pela autarquia para a redução do desmatamento e para a regularização socioambiental dos assentamentos no Pará e em outros estados da Amazônia Legal.
O procurador da república, Felipe de Moura Palha, explica que os compromissos foram estabelecidos em termo assinado no mês de agosto de 2013, que estabelecia prazo de até sete anos para o cumprimento das obrigações. De acordo com ele, o prazo venceu e o INCRA não cumpriu a maioria dos itens do acordo.
“Há sete anos, quando se descobriu que uma parte do desmatamento na Amazônia eram cometidos dentro das áreas do próprio Incra. Diversas ações foram propostas para obrigar a União a tomar medidas, como por exemplo, cadastro dos assentados, licenciamento ambiental, cadastro ambiental, entre outros”, destacou.