Nova espécie de borboleta na Amazônia surpreende ao viver em sociedade com formigas

Até o momento, sua ocorrência da borboleta foi confirmada na região norte do Mato Grosso, em áreas de floresta associadas a bosques de bambu.

Annulata kaminskii é nova espécie de borboleta registrada nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Cristalino. Foto: Reprodução/Unicamp

Nas densas florestas da Amazônia meridional, cientistas identificaram uma nova espécie de borboleta: Annulata kaminskii. O registro ocorreu nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Cristalino, em Alta Floresta, distante a 790 quilômetros de Cuiabá, e revelou à ciência um fenômeno nunca antes documentado no mundo: uma complexa interação entre planta, insetos e formigas.

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O estudo, liderado por Noemy Seraphim, Luísa Mota, Patrícia Machado e André Freitas, foi publicado na revista científica Neotropical Entomology e contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Nova espécie da borboleta foi batizada em homenagem ao pesquisador Lucas Kaminski
Nova espécie da borboleta foi batizada em homenagem ao pesquisador Lucas Kaminski, referência no estudo da família Riodinidae, à qual o inseto pertence. Foto: Reprodução/Unicamp

Segundo a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a nova espécie foi batizada em homenagem ao pesquisador Lucas Kaminski, referência no estudo da família Riodinidae, à qual o inseto pertence.

Diferente da maioria das borboletas, as lagartas da Annulata kaminskii não se alimentam de folhas. Durante essa fase de vida, elas mantêm uma dieta líquida composta por néctar e cera produzidos por cochonilhas que vivem em bambus. Em troca, liberam uma secreção adocicada que serve de alimento para duas espécies de formigas: Camponotus femoratus e Crematogaster levior.

A relação chama atenção por outro motivo: uma das formigas envolvidas é conhecida pelo comportamento extremamente agressivo, mas, nesse caso, convive pacificamente com a outra para proteger as lagartas. Essa parceria funciona como um sistema de “guarda-costas” contra predadores, um exemplo notável de cooperação interespecífica.

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O fenômeno da mirmecofilia

De acordo com a Unicamp, organismos que vivem associados a formigas são chamados de “mirmecófilos”. Essa característica é relativamente comum nas famílias Lycaenidae e Riodinidae, mas o caso da Annulata kaminskii se destaca por sua singularidade.

Na imagem, a formiga Camponotus femoratu ao lado da lagarta (borboleta) e das cochonilhas. Foto: Reprodução/Unicamp

As lagartas dessa espécie são afitófagas, ou seja, não se alimentam de plantas. Elas utilizam movimentos da cabeça para solicitar néctar às cochonilhas, comportamento observado pela primeira vez nesse contexto. Além disso, produzem dois tipos distintos de líquidos consumidos pelas formigas: pequenas gotículas oriundas de órgãos especializados chamados ‘órgãos nectários tentaculares’ e um segundo tipo, gotas maiores de exsudato anal. Segundo os pesquisadores, é a primeira vez que esse tipo de exsudato é registrado em larvas de borboletas mirmecófilas.

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Habitat

Pertencente ao gênero Annulata, a Annulata kaminskii foi oficialmente descrita em 2025. Até o momento, sua ocorrência foi confirmada apenas na região norte do Mato Grosso, em áreas de floresta associadas a bosques de bambu.

Annulata kaminskii é nova espécie de borboleta registrada nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Cristalino — Foto: Luísa Mota

O habitat é crucial para manter essa interação: o bambu abriga as cochonilhas, que sugam a seiva da planta e produzem as substâncias consumidas pelas lagartas. Essa cadeia de interdependência conecta três grupos distintos, plantas, insetos e formigas, em um exemplo raro e sofisticado de relação ecológica.

A descoberta reforça a importância da preservação da Amazônia, não apenas por sua biodiversidade, mas também pelas complexas interações que abriga e que ainda permanecem desconhecidas da ciência. Confira:

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