“Ouro tocantinense” é transformado em belos artesanatos por meio das mãos habilidosas de mulheres artesãs das comunidades quilombolas.
O capim dourado é encontrado no Parque Estadual do Jalapão em Tocantins. São nas veredas dessa terra, em pleno cerrado, que nasce o capim dourado, símbolo da tradição de comunidades indígenas e quilombolas da região.
O Jalapão é um destino turístico muito visitado e prestigiado, sendo encontradas as “hastes finas de ouro” que são colhidas uma vez ao ano e com a autorização dos órgãos ambientais.
Esse “ouro tocantinense” é transformado em belos artesanatos por meio das mãos habilidosas de mulheres artesãs das comunidades quilombolas de Mumbuca, Rio Novo e Prata.
No Jalapão, além do capim que reluz como ouro, o turista tem a oportunidade de conhecer belas paisagens, desfrutar das cachoeiras, trilhas, grutas, dunas, rios, lagoas, cânions, fervedouros etc, garantindo renda para a população quilombola da região.
O capim dourado possui um brilho especial, reluzente, sendo transformado em bolsas, mandalas, cestos, brincos, colares, vasos, chapéus, objetos de decoração, semijoias entre outros. Muitos desses produtos são comercializados pela internet e em alguns aeroportos do país, mas muita gente desconhece a origem e a produção desse belo artesanato tocantinense.
As artesãs das comunidades quilombolas se organizam, por meio de associações e produzem seus artesanatos, fomentando o empreendedorismo e o empoderamento das mulheres.
Para a experiente artesã Dita, que produz artesanato com o capim dourado desde os 15 anos de idade, “é uma forma de manter a sobrevivência da família, garante o pão na mesa, conhece pessoas de vários lugares e divulga uma tradição familiar”.
O capim dourado é um atrativo especial para o turista que visita o Jalapão e vivencia o ecoturismo porque irá conhecer in loco uma arte que colabora na sustentabilidade de comunidades quilombolas. Dona Dita, por exemplo, na confecção de seus brincos inclui as sementes de açaí, deixando a peça muito mais bonita.
A experiência de visitar o Jalapão é uma oportunidade única de conhecer modos de vida tradicionais, contemplar a natureza exuberante e saborear a deliciosa gastronomia local.
Dona Chica, uma senhora muito simpática e moradora da Comunidade de Mumbuca fala com orgulho do pioneirismo de sua família em descobrir e trabalhar com o capim dourado, “sendo bastante importante para a sobrevivência de nossa comunidade e manutenção dos saberes e tradições”.
Outro local muito especial para conhecer é a Cabana da Jane, uma oca de palha revestida de talo de buriti. A artesã Jane é uma liderança entre as mulheres e na sua oca expõe vários objetos de decoração para casa, bijuterias, mandalas, fruteiras, cestos e outros produtos feitos com o capim dourado.
Jane lembra com saudades da época da telenovela ‘O Outro Lado do Paraíso’, exibida entre 2017 e 2018 pela Rede Globo de Televisão. “O cenário da gravação dessa novela foi no Jalapão, o que ajudou muito na divulgação das belezas da região e do artesanato produzido na nossa comunidade. As atrizes usavam nossas peças e era um orgulho pra nós”, comenta a artesã na hora de conversar com os visitantes.
Sem dúvida, toda essa divulgação fortaleceu a identidade das comunidades quilombolas para o ecoturismo, a valorização das mulheres porque antes o artesanato não tinha o valor merecido, como lembra alguns moradores da comunidade de Mumbuca.
Como disse o escritor João Guimarães Rosa “o Jalapão é uma região bela, rude e grandiosa”.
Outro registro é a hospitalidade do povo tocantinense. Quem chega em Palmas já percebe o quanto a população local tem orgulho de sua cidade e atende muito bem o turista. Deixo os meus agradecimentos ao guia Ulisses da Tour Vip Jalapão e à Paula Toledo pelos diálogos, trocas de experiências e oportunidade de conhecer algumas belezas de Tocantins, especialmente o majestoso e inesquecível Jalapão.
Que o belo capim que reluz como ouro possa proporcionar as comunidades quilombolas, especialmente às mulheres guerreiras e lutadoras, uma vida próspera, digna, reluzente de fartura, abundância e sustentabilidade.
Que esta experiência de Olhar Amazônia com pertencimento possa ser multiplicada para a definição de campos possíveis de ação nas políticas públicas destinadas às populações tradicionais. Continue nos acompanhando e envie suas sugestões no e-mail: lucileydefeitosa@amazoniaribeirinha.com
Sobre a autora
Lucileyde Feitosa é professora, Pós-Doutora em Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho/Portugal), Pós-Doutora em Geografia pela Universidade do Minho/Portugal, Doutora em Geografia/UFPR, Integrante do Movimento Jornalismo e Ciência na Amazônia e colunista do portalamaoznia.com e da Rádio CBN Amazônia/Porto Velho.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista