Dados divulgados pelo TSE mostram que as abstenções entre jovens entre 16 e 24 anos de idade tem crescido a cada nova eleição
A festa da Democracia tem contado cada vez menos com a participação dos jovens brasileiros. Dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostram que as abstenções entre jovens entre 16 e 24 anos de idade tem crescido a cada nova eleição. Nas últimas, disputadas em 2020, a média de abstenção chegou a 29%.
Uma pesquisa divulgada pelo TSE em 2017 mostrou que na prática, os jovens não participam do pleito, não embarcam no processo e nem discutem com familiares ou amigos os rumos eleitorais do passado. Este cenário parece inimaginável quando contrastado com imagens de protestos e manifestações Brasil afora, onde a juventude representa das pessoas nas ruas.
De acordo com a pesquisa, as desmotivações para o ato de votar foram bem mais fortes que as motivações, principalmente entre os pesquisados de 16 e 17 anos e os de menor escolaridade.
Entre eles, o voto é encarado como um instrumento inócuo, especialmente porque não enxergam as mudanças operadas pós-eleição e, sobretudo, porque esse jovem ainda não necessita de mudanças.
Para a maioria dos entrevistados, ficou a ideia de que os “políticos são todos iguais”, pois os entrevistados declararam que eles decepcionam a cada ação, são desonestos, corruptos e não apresentam sinal de que irão mudar suas personalidades. Segundo o pensamento da maioria, o voto muda apenas a vida do político, e para melhor.
Crise de representatividade
O professor de ciências políticas da Universidade de São Paulo, José Álvaro Moisés, ressalta que muitos desses jovens manifestantes de hoje são filhos da geração de jovens que penou ao lutar por democracia ao longo das décadas de 60 e 70, nos anos de chumbo da ditadura militar. Mas, onde teria falhado a nossa tão suada e recente democracia?
“Na sua maioria, são filhos deste período democrático que nasceu a partir de 1988. Ou seja, a democracia fez promessas para essa juventude, mas ao não cumprir as promessas democráticas, de alguma maneira fechou as portas, bloqueou o anseio e a energia de participação. Isso, agora, está sendo recuperado nas ruas.”
Outro cientista político, Carlos Ranulfo prefere por o dedo na ferida da crise de representatividade, sobretudo dos partidos políticos. Ele também reconhece que a política ainda é vista como empecilho para os jovens.
“Porque a democracia e a política são um pouco enfadonhas. A democracia, quando se estabiliza, não tem nada de emocionante: é negociação, voto. O jovem quer outras coisas. Se juntarmos a isso o fato de que os partidos brasileiros não têm muita capacidade de dialogar hoje com a juventude, então, a gente entende porque a juventude vai para as ruas dizer: ‘sem partidos’. Isso não quer dizer que a juventude esteja certa, só quer dizer que ela está distante da política.”
Índices recordes
Mesmo com o voto obrigatório, a abstenção no processo eleitoral de 2020 é a maior verificada nas últimas décadas. Para o sociólogo Marcos Coimbra, os altos índices de abstenção não podem ser ignorados.
“Os processos eleitorais têm se tornado cada vez mais frios, no que tange ao aprofundamento das pautas que afetam mais diretamente o povo. A propaganda dos candidatos na TV e no rádio tornou-se algo quase impossível, porque o tempo de exposição de propostas foi reduzido ao mínimo, num quadro de pulverização de candidaturas, também estimulado pela lei eleitoral”, avalia o sociólogo.
Coimbra levanta um questionamento: Como é possível ter um debate profundo sobre os graves problemas sociais das cidades brasileiras em menos de um minuto?
“A abstenção reflete também o modelo eleitoral adotado, e como a cidadania reage a ele”, explica o sociólogo. Para ele, um dos fatores que influenciam o comportamento político, é o que os pesquisadores chamam de ciclo da vida, ou seja, a disposição para participar dos pleitos varia em cada etapa da vida biológica e social dos indivíduos.