Tsimane, a comunidade indígena na Bolívia em que as pessoas envelhecem mais lentamente

A alimentação natural, o contato direto com a floresta e a rotina de atividades físicas são alguns dos fatores considerados determinantes para a longevidade.

Foto: Reprodução/Instagram-Unesco

O povo indígena Tsimane, que habita regiões da Amazônia boliviana, tem despertado atenção da comunidade científica internacional por seus índices de envelhecimento saudável. Estudos apontam que os indígenas apresentam uma das menores taxas de doenças cardiovasculares do mundo.

Vivendo em comunidades isoladas, os Tsimane mantêm hábitos de vida distintos dos padrões urbanos modernos. A alimentação natural, o contato direto com a floresta e a rotina de atividades físicas são alguns dos fatores considerados determinantes para a longevidade.

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Pesquisadores têm acompanhado essa população há mais de uma década, com levantamentos que envolvem exames clínicos, análises genéticas e estudos de campo. Os resultados revelam dados que contrastam com os números de países industrializados.

Entre as descobertas, os cientistas identificaram que os Tsimane possuem corações com sinais de envelhecimento muito mais tardios. Isso se reflete em uma expectativa de vida mais longa e com menos limitações de saúde.

Estilo de vida e hábitos alimentares

Os Tsimane vivem principalmente nas margens dos rios e em áreas de floresta, localizadas no departamento de Beni, na Bolívia. Estima-se que o grupo reúna cerca de 16 mil pessoas distribuídas em diferentes comunidades. A base da alimentação é composta por mandioca, banana, milho, peixe e carne de caça, além de frutas nativas da região. Esses alimentos garantem uma dieta rica em fibras e proteínas, com baixo consumo de gordura saturada.

Outro fator determinante é o nível de atividade física. Um estudo publicado na revista The Lancet em 2017, sob o título ‘Coronary atherosclerosis in indigenous South American Tsimane: a cross-sectional cohort study‘ destaca que o cotidiano dos Tsimane inclui caminhadas longas, cultivo da terra, caça e pesca.

Mesmo idosos continuam ativos em suas comunidades, desempenhando tarefas diárias sem interrupção. Esse padrão difere dos cenários urbanos, onde o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para doenças crônicas.

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Pesquisas realizadas pela Universidade da Califórnia e pelo Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos, mostraram que mais de 85% dos adultos Tsimane apresentavam artérias em excelente condição, mesmo em idades avançadas. O estudo envolveu exames de tomografia computadorizada para avaliar o acúmulo de cálcio nas artérias coronárias, considerado um dos principais indicadores de problemas cardíacos.

Além disso, as taxas de obesidade e diabetes entre os Tsimane são extremamente baixas em comparação com populações urbanas da América do Sul. Isso reforça a hipótese de que os fatores ambientais e culturais desempenham papel central no envelhecimento saudável dessa população.

Longevidade e estudos científicos

Mas envelhecimento entre os Tsimane não está livre de desafios. Apesar da baixa incidência de doenças cardiovasculares, o artigo publicado em 2007 destaca ainda que eles enfrentam riscos relacionados a infecções, acesso limitado a cuidados médicos e mortalidade infantil elevada. Ainda assim, os idosos conseguem manter qualidade de vida por mais tempo, preservando funções cognitivas e motoras.

Este mesmo estudo destacou que o coração dos Tsimane envelhece cerca de duas décadas mais devagar em comparação ao de adultos de sociedades industrializadas. Isso significa que um idoso de 70 anos entre os Tsimane pode apresentar condições cardíacas semelhantes às de um adulto de 50 anos nos centros urbanos.

A ciência tem buscado entender como esse padrão pode contribuir para a prevenção de doenças em outras populações. Pesquisadores apontam que a combinação entre dieta tradicional, intensa atividade física e baixo nível de exposição a alimentos processados cria um ambiente biológico favorável para o envelhecimento saudável.

Foto: Tsimane Health and Life History Project Team

A pesquisa destaca ainda que os Tsimane também demonstram níveis reduzidos de inflamação crônica, considerada um dos fatores que aceleram o envelhecimento celular. Mesmo em casos de infecções recorrentes, o organismo desses indígenas apresenta uma resposta diferenciada, o que contribui para a proteção contra doenças degenerativas.

Atualmente, os estudos sobre os Tsimane seguem em expansão, envolvendo equipes multidisciplinares da Bolívia, dos Estados Unidos e de outros países. O objetivo é compreender melhor os mecanismos de saúde dessa população, mas, ao mesmo tempo, respeitar sua cultura e modo de vida.

Desafios dos Tsiname

Apesar dos benefícios naturais de seu estilo de vida, os Tsimane enfrentam pressões externas. O avanço de atividades extrativistas, o desmatamento e a aproximação com áreas urbanas têm trazido mudanças culturais e alimentares. A introdução de produtos industrializados em algumas comunidades já começa a alterar padrões de saúde observados por pesquisadores.

Organizações locais e internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), alertam para a necessidade de políticas que garantam a preservação do território e a proteção da cultura dos Tsimane. Manter os hábitos tradicionais é visto como fundamental não apenas para a sobrevivência do povo, mas também para a continuidade dos estudos científicos que ajudam a compreender o envelhecimento humano.

A longevidade dos Tsimane se tornou um campo de observação relevante para a ciência global. Seu modo de vida, baseado em práticas ancestrais, mostra como fatores ambientais e culturais podem moldar a saúde ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, o futuro desse povo depende da proteção de suas terras e de sua autonomia frente às mudanças externas que já começam a impactar suas comunidades.

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