Com drones, modelagem 3D e radar de satélite, especialistas buscam recuperar sítio arqueológico Kuelap, no Peru

Kuelap é um icônico sítio arqueológico da cultura Chachapoyas no Vale do Alto Utcubamba, na região amazônica peruana.

Foto: Reprodução/Agência Andina

Novas tecnologias, como drones infravermelhos, radares de satélite e modelagem 3D, desempenham um papel crucial na recuperação do monumento arqueológico Kuelap, ícone turístico da região amazônica no Peru, em busca de recuperar seu esplendor após o desabamento de parte do muro perimetral da fortaleza que ocorreu em abril do ano passado.

O World Monuments Fund Peru trabalha em estreita colaboração com o Ministério da Cultura, fornecendo informações obtidas graças às tecnologias para futuras ações de conservação no local.

Kuelap é um icônico sítio arqueológico da cultura Chachapoyas no Vale do Alto Utcubamba, na região amazônica, e continua em vias de ser recuperado com apoio também de instituições públicas e privadas, nacionais e estrangeiras. 

Reabriu recentemente as portas ao público com um circuito de visita parcial, no âmbito da conservação do monumento e da segurança de funcionários e visitantes.

Foto: Reprodução/Agência Andina

A restauração de Kuélap está sob a direção do ‘Programa de investigação arqueológica e interdisciplinar para fins de investigação, conservação e valorização do Complexo Arqueológico de Kuélap (PRIA-K)’, do Ministério da Cultura, chefiado pelo arqueólogo José Bastante.

A contribuição do WMF-Peru para Kuélap neste processo de recuperação concentrou-se principalmente em fornecer informações diagnósticas essenciais para orientar futuras pesquisas e ações de conservação.

A urgência de identificar as causas da sua deterioração, somada aos desafios de acesso, abriu portas à inovação tecnológica na gestão de projetos de conservação do patrimônio cultural.

Esta abordagem incorpora novas variáveis e considera o impacto das alterações climáticas, apoiada pelo compromisso do WMF em implementar tecnologias de ponta que estão a transformar a forma como se preserva o patrimônio peruano.

Apoio internacional 

Em Novembro de 2022, o WMF recebeu financiamento de emergência do Departamento de Estado dos Estados Unidos, através do Fundo do Embaixador para a Preservação Cultural, para um estudo de diagnóstico do movimento estrutural de Kuelap, utilizando radar de satélite.

Sob a liderança do diretor do projeto, Iván Ghezzi, foram utilizadas imagens de satélite de diferentes anos – técnica chamada MT-InSAR -, uma poderosa ferramenta que tem permitido o monitoramento contínuo das deformações apresentadas na fortaleza Kuelap.

Além disso, a reconstrução das informações climáticas utilizando tecnologia de satélite das últimas quatro décadas de precipitação sugere que uma das principais causas do colapso do muro perimetral ocorrido em 10 de abril de 2022 seriam as chuvas extraordinárias ocorridas entre 2018 e 2021.

Assim, os resultados fornecidos pelas tecnologias de satélite têm sido fundamentais para começar a formular estratégias e técnicas adequadas de consolidação e restauração.

Novas informações sobre a fortaleza

O projeto realizado por Ghezzi e seus associados com financiamento do Fundo do Embaixador, permitiu-lhe utilizar outras tecnologias de ponta, como o drone infravermelho térmico MAVIC 3, que facilita a identificação de novos elementos arquitetônicos na fortaleza, como bem como propor novas hipóteses interpretativas que permitam uma melhor compreensão do monumento e da sua problemática.

Por um lado, encontraram novas estruturas circulares, típicas da zona, que são interpretadas como habitações, e que não eram conhecidas nem apareciam nos planos porque estavam abaixo da superfície. Por outro lado, em Kuelap os pesquisadores não têm certeza se existia um sistema de drenagem artificial.

“Usando o drone infravermelho encontramos o que parece ser um canal, mas o sinal é fraco e é muito provável que remonte ao período Inca, não ao período Chachapoyas, para o qual precisamos saber se existiam canais”,

diz o pesquisador.

Foto: Reprodução/Agência Andina

“Em Kuelap há muito para descobrir, há elementos arquitetônicos que ainda não entendemos bem. O importante é que demonstramos que uma técnica relativamente nova no Peru pode detectar vestígios arqueológicos que não são observados, porque estão abaixo da superfície”, diz Iván Ghezzi..

Da mesma forma, destaca que: “Kuelap tem sido um exemplo extraordinário de como a tecnologia e as inovações podem transformar a preservação do patrimônio cultural. A combinação destas soluções permite um diagnóstico preciso e a possibilidade de propor medidas eficazes para a conservação deste tesouro arqueológico. A era digital nos dá uma ferramenta poderosa para compreender e proteger nosso passado”.

Fortaleza de Kuelap

Kuelap foi o centro político da civilização Chachapoya, uma cultura pré-colombiana que floresceu aproximadamente entre 900 e 1400 d.C.. Consistia em edifícios de uso civil, religioso e militar, bem como 420 casas circulares de pedra, que continham frisos geométricos, iconografia mural e talha em alto relevo.

A civilização Chachapoya entrou em colapso em meados do século XVI devido à conquista espanhola e Kuelap foi abandonada. As condições do local deterioraram-se ao longo do tempo devido ao fogo, à chuva, à erosão eólica e à falta de um sistema de drenagem eficaz, bem como ao crescimento das raízes das árvores.

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