A palavra agronegócio, nunca esteve tanto em evidência e atualmente está presente nos jornais, rádios, TV entre outras mídias de comunicação. Isso decorre do fato de que nas últimas décadas o Brasil se destaca no cenário internacional e o setor tem tido uma participação considerável na economia brasileira, mas, não se trata apenas de grandes oportunidades de negócios esse setor apresenta riscos principalmente ao meio ambiente.
Nesse sentido, o texto busca atrair a atenção para esse importante tema, que avança os limites do debate econômico e o principal alvo é estimular a disseminação do conhecimento, proporcionando aos leitores um arcabouço teórico e no sentido de formar um saudável debate diante do tema apresentado.
De acordo com cálculos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em parceria com a CNA, em 2020 o agronegócio brasileiro alcançou participação de 26,6% no Produto Interno Bruto do Brasil, contra 20,5% em 2019. Já a participação do agro na soma dos bens e serviços do país em 1970 era de 7,5%.
O agronegócio e a cadeia produtiva que explora direta e indiretamente produtos do campo, tais como: a agricultura, piscicultura, pecuária entre outros, associado à grande extensão territorial assim como a diversidade dos ecossistemas no Brasil, fazem com que o país seja uma potência na agroindústria mundial.
O agronegócio brasileiro e responsável por mais de um terço das exportações balança comercial, estima-se que a cada R$ 3,00 gerados na economia nacional R$ 1,00 venha da agroindústria, além do que o setor é responsável por gerar 37% dos empregos criados. Esse desempenho coloca o país em perspectiva de na próxima década ser o maior produtor de comodities como farelo de soja, cana de açúcar, café e outros produtos da pecuária.
A vasta extensão de áreas inexploradas, o clima, a abundância hídrica, associado ao baixo custo da terra têm propiciado a expansão do agronegócio na Amazônia, mas essas atividades produtivas trazem consigo uma preocupação ambiental; por conta das mudanças que causam ao meio ambiente e ao ecossistema da Amazônia, principalmente com crescimento do desmatamento das áreas de floresta nativa.
É fato que o crescimento econômico proporciona uma melhoria nas condições sociais de um país. Mas como dito anteriormente, precisamos avaliar também a que custos. Além do desmatamento, a expansão do Agronegócio na Amazônia desperta outras preocupações que precisam e devem ser consideradas, tais como: aumento da pressão sobre a biodiversidade, aquecimento global, diminuição das áreas preservadas e mais recente até a segurança alimentar.
Concomitantemente e não menos importante, considerando as relações internacionais e o cenário atual, poderemos até vir a sofrer sanções econômicas externas de alguns parceiros comercias num futuro próximo, fato esse que se apresentaria como um contraposto ao crescimento econômico decorrente da expansão da fronteira agrícola.
Dentro desse contexto é importante ressaltar que as queimadas que atingem a floresta Amazônica juntamente com o desflorestamento desenfreado tornaram a floresta em um emissor de gás carbônico na atmosfera, em estudo realizados pelo instituto Nacional de pesquisa espacial (INPE), apontou que a floresta emite 0,29 bilhões de toneladas a mais que absorve.
Nos últimos 35 anos a floresta Amazônica teve sua imagem alterada, estima-se que uma área aproximada de 44 milhões de hectares, foram desmatadas de acordo com a ONG MapBrasil, essa área corresponde a nove vezes o tamanho o estado do Rio de Janeiro. Além do que atividades como o extrativismo florestal e mineral ilegal e o aumento de áreas com pastagens tem causado um aumento considerável sobre a velocidade de perda de áreas de floresta nativa.
Por outro lado, o aumento do uso de inseticidas e pesticidas, que tem como objetivo a eliminação de insetos e plantas indesejadas nas lavouras visando assegurar a produtividade em larga escala no campo, proporcionam, em contrapartida, alteração do equilíbrio do ecossistema e causam poluição do solo e dos lençóis freáticos aos quais são expostos. Em 2019, o Ministério do Meio Ambiente autorizou o uso de mais 63 espécies de pesticidas totalizando 365 tipos de agrotóxico em no Brasil, a medida gera discussão entre os ruralistas, que afirmam que a redução do uso desses produtos no Brasil ocasionará a perda de competitividade em relação aos países onde as leis sejam menos rígidas em relação ao uso de substancias tóxicas no cultivo agrícola.
Esse argumento por si só não se sustenta, na visão dos autores e de vasta bibliografia científica publicada, uma vez que o aumento de competividade proporcionado pelo uso dessas substâncias, num segundo momento é inativado pelo aumento dos custos para a sociedade decorrentes da implementação de medidas visando mitigar os impactos ambientais decorrentes do uso das mesmas.
É importante ressalta ainda que, o uso destes produtos afeta também os seres vivos, tais como: microrganismos, peixes e outros animais, bem como os próprios seres humanos. De acordo com o Instituto do Câncer (INCA), os fungicidas, pesticidas e outros tipos de agrotóxicos ultrapassam as casca e superfícies dos alimentos in natura e estão presentes até mesmo nos alimentos processados como cereais matinais, biscoitos e até mesmo nas pizzas.
Por outro lado, muitos estudos já comprovaram que a fertilidade do solo da floresta é muito baixa, a maioria do nitrogênio encontra-se na estrutura das árvores. Por isso após com a queimada esse nitrogênio é incorporado no solo e isso proporciona inicialmente que a produtividade inicial seja alta e depois com o decorrer do tempo vai diminuindo. E como o valor da terra é baixo, ocorre a expansão da área utilizada na atividade, ou seja, é mais viável do ponto de vista financeiro expandir a área do que investir em correção e adubação do solo, uma vez que o solo se torna extremamente ácido.
Paralelamente a isso, vários estudos de Valoração Ambiental demonstram que os ativos ambientais provenientes da floresta em pé possuem valor econômico superior aos gerados pelas atividades agropecuárias considerando uma análise de médio e longo prazo, e isso se torna mais perceptível principalmente quando é considerado o custo associado a variável perda de biodiversidade. Lembrando que na análise econômica o que define curto, médio e longo prazo é variação no uso dos fatores de produção (terra, capital e trabalho) e não o tempo propriamente dito.
Por outro lado, considerando somente a análise de curto prazo, caracterizado pela não alteração no uso dos fatores de produção qualquer outra abordagem que não seja a financeira se torna quase que impraticável, uma vez que os custos e benefícios ambientais e sociais são difíceis de serem estimados nesse caso, uma vez que não há alteração no uso dos fatores de produção.
Concluindo, diante das informações apresentadas é inevitável e importante fazermos pelo menos um questionamento: “os benefícios do agronegócio são maiores que os custos sejam financeiros, ambientais ou até mesmo sociais considerando uma análise de médio e longo prazo? “.
A agroindústria brasileira é responsável pela geração de empregos, avanços tecnológicos e lucros econômicos no pais, embora, afete os ecossistemas causando prejuízos ambientais. Assim, como dito anteriormente, a proposta principal do texto não é expressar uma opinião ou conclusão definitiva para a pergunta sugerida, mas sim propor uma reflexão bem como um longo e interessante debate pela sociedade a respeito do tema que se mostra tão imprescindível no momento.
* Possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Amazonas. Desenvolvi pesquisas na área de Contabilidade Ambiental, Matemática Financeira e Econometria, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nas seguintes áreas: valoração ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impactos ambientais e gerenciamento de processos. Link do Curriculum lattes: Contato: jbarbosa@ufam.edu.br
**Graduando do curso de Ciências Econômicas da UFAM, Link do Curriculum lattes: Contato: cassioangelsou@gmail.com