Fipo Biopellet é uma startup criada na UEA. Foto: Reprodução/UEA
A bioeconomia da Amazônia ganha cada vez mais força com iniciativas que unem ciência, inovação e sustentabilidade. Um dos exemplos mais promissores é a Fipo Biopellet, startup criada a partir de pesquisas desenvolvidas na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e que hoje transforma caroços de frutos amazônicos em bioplásticos de alta performance, levando soluções sustentáveis para a indústria e promovendo renda para comunidades locais.
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O doutor em Biotecnologia e professor na UEA, Antonio Kieling, coordenador da pesquisa que deu origem à empresa, relembra que tudo começou em 2011, dentro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica (Pibic).
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O projeto inicial investigava o uso do caroço de tucumã em compósitos plásticos e evoluiu, anos depois, para a tese de doutorado defendida na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com o professor de Química, Genilson Santana.
“Foi uma caminhada de mais de uma década. A Iniciação Científica foi fundamental para validar a ideia, testar a viabilidade e abrir caminhos para transformar um conceito acadêmico em uma empresa real”, afirmou Kieling ao Portal Amazônia.

Da pesquisa ao mercado
Ainda em 2019, surgiu a AGJTech, embrião da atual Fipo Biopellet. Apesar dos desafios da pandemia, a equipe desenvolveu peças de bicicleta ecossustentáveis, como pedais e discos de roda, utilizando resíduos de fibras amazônicas e polímeros recicláveis. Dessa experiência nasceram os primeiros biopellets, grânulos produzidos a partir de fibras de tucumã, açaí e outros frutos amazônicos, compatíveis com moldagens industriais.
O marco internacional veio em 2021, quando a pesquisa foi publicada na revista Fibers and Polymers, no artigo ‘Wood-plastic composite based on recycled polypropylene and Amazonian Tucumã (Astrocaryum aculeatum) endocarp waste‘. O reconhecimento científico reforçou o potencial do material, principalmente pelas propriedades mecânicas que garantem a qualidade dos produtos plásticos.
Em 2024, a empresa consolidou sua identidade sob o nome Fipo Biopellet e passou a integrar a Amazonas Venture Builder (AVB). Já em 2025, a startup ganhou um espaço dedicado na Incubadora da UEA (INUEA). Hoje, tem capacidade de produzir até 20 toneladas mensais de biopellets, fortalecendo a bioeconomia regional.
Diferencial da Fipo Biopellet
Um dos diferenciais da Fipo Biopellet é a diversidade de matérias-primas utilizadas. Além do tucumã, que foi a base inicial, a empresa incorporou caroços de açaí, bacaba, buriti, cupuaçu, guaraná, inajá, castanha-do-brasil e pupunha. Essa estratégia solucionou o desafio da sazonalidade do tucumã e garantiu escala de produção sem comprometer a qualidade.
Os biopellets apresentam desempenho comparável aos plásticos convencionais, mas com um diferencial: reduzem a emissão de carbono entre 2,5% e 40%, dependendo da aplicação.
“Conseguimos unir sustentabilidade e performance em um mesmo produto”, garantiu Kieling.

Valor para a floresta e para as comunidades
A inovação não se limita ao aspecto tecnológico. A startup, segundo o professor, também cria impacto social ao comprar resíduos diretamente de produtores locais, sobretudo os caroços que representam até 40% do peso do fruto e geralmente eram descartados.
Assim, agrega valor à floresta em pé e gera renda para comunidades agroextrativistas, consideradas guardiãs da biodiversidade amazônica.
“A floresta precisa estar de pé para termos matéria-prima. Nosso trabalho mostra que é possível transformar resíduos em produtos de alto valor agregado, promovendo desenvolvimento econômico sem destruir o meio ambiente”, ressaltou o professor.

Inovação reconhecida
Atualmente, a tecnologia da Fipo Biopellet está em processo de patente, o que reforça sua posição como referência em inovação sustentável. A startup se consolida como uma ponte entre a produção tradicional da Amazônia e a indústria de alta tecnologia, oferecendo soluções alinhadas às práticas ESG (ambientais, sociais e de governança).
Com uma trajetória que começou nos laboratórios da UEA e ganhou o mundo através da ciência, a Fipo Biopellet simboliza o potencial transformador da pesquisa acadêmica quando conectada às necessidades da sociedade e da floresta.
