Escolas públicas mais antigas de Manaus são linha do tempo para história da cidade

Parte de escolas públicas fundadas no século 19 ainda funcionam na capital. As mais antigas acompanham o processo histórico, político e social da cidade.

Alguns historiadores costumam dizer que a história de Manaus, capital do Amazonas, pode ser contada a partir dos monumentos, prédios, construções erguidas durante o processo de desenvolvimento da capital. 

A história da educação escolar não poderia ser diferente. Separada em partes, a fundação e formação das primeiras escolas de Manaus acompanham a linha do tempo de fatos políticos, econômicos e sociais da cidade.

A primeira escola que se tem notícia no Amazonas é datada de 1800 e não ficava situada em Manaus. Apenas 38 anos depois, a então Vila de Manaós, recebia sua primeira escola de ensino primário. Já no ensino secundário, sabe-se que a primeira instituição educacional foi o Seminário São José, fundado em 1948.

Colégio Amazonense D. Pedro II é considerada a instituição pública de ensino mais antiga da capital. Foto: Divulgação/SEC

A história do ensino em Manaus pode ser dividia em partes, como afirmou o pesquisador Durango Duarte, no livro ‘Manaus entre o passado e o presente’. É no período provincial, no governo de Francisco José Furtado, que é instalado o Estabelecimento dos Educandos Artífices, a primeira escola técnica de Manaus.

O Educandos Artífices marca um período da história da educação em Manaus e se caracteriza pela formação técnica dos alunos em regime de internato para meninos órfãos e carentes em meados de 1856, mas a instalação só ocorre dois anos depois.

“Era para a formação de operários para servir à sociedade, às vezes criavam em celas mesmo, tiravam filhos de indígenas, tinha uma utilidade para aquela sociedade dominadora e dura. Tinha até música, mas era pra fazer marceneiro, carpinteiro, mas tinham disciplinas”, 

afirmou o historiador Otoni Mesquita.

Colégio Amazonense D. Pedro II 

Mas é em 1864 que é criada a escola mais antiga de Manaus. O Colégio Amazonense D. Pedro II surgiu no governo do presidente da província, Adolfo Barros Cavalcante de Albuquerque Lacerda. Com o nome de Liceu Provincial Amazonense, a escola pública funcionou, primeiramente, nas dependências do Seminário de São José.

Anos depois, o Liceu passa para o prédio onde funciona até hoje, no Centro de Manaus. “A gente pode ver o prédio do Liceu, onde fica o colégio, como a instituição de ensino mais antiga de Manaus. Ele é anterior à chamada Belle Époque, da urbanização de Manaus feita por Eduardo Ribeiro. Ele foi inaugurado no período Imperial e muita coisa funcionava lá dentro pelo tamanho do prédio e pela própria demanda. As salas que hoje vemos cheia de alunos, não estavam tão cheias de alunos naquele tempo como hoje”, afirmou o historiador Helio Dantas. 

Segundo Dantas, nesse momento a educação no Amazonas está demarcada socialmente. Manaus não possui uma parte da sociedade classificada como classe média. “Tá bem dividia entre pobres e ricos. Se você era filho da elite, você provavelmente ia estudar no Liceu, que depois veio a se tornar Gymnasio, onde você se preparava para se tornar um engenheiro, médico ou advogado, que eram as três carreiras disponíveis no Brasil.

Instituto Benjamin Constant 

Autorizado legalmente em 1884, o presidente da Província, Theodoreto Souto, criou uma instituição voltada ao ensino primário e doméstico de meninas órfãs e pobres em Manaus. Com o nome de Azylo Orphanológico Elisa Souto, que foi extinto com no governo de Eduardo Ribeiro e denominado Instituto Benjamin Constant, em 1892. O currículo do asilo era composto, inicialmente, por duas disciplinas: primeiras letras e prendas domésticas. Para ser admitida no Instituto, era preciso ser órfã de pai e mãe, ter no mínimo 5 e no máximo 10 anos, não sofrer moléstia contagiosa ou repulsiva, não ter defeitos físicos, ser amazonense e ter tomado todas as vacinas.

Era obrigatório permanecer no Instituto até a idade de 18 anos. As meninas estavam, então, sujeitas a um regime disciplinar rigoroso no local.

No final do século 19 e início do século 20, Manaus passa por uma intensa transformação econômica e social. O ciclo da borracha traz a prosperidade para a cidade que vive um desenvolvimento intenso, principalmente no governo de Eduardo Ribeiro. É nesse período que acontece a ampliação das escolas na capital. 

Grupos Escolares 

A pesquisadora Assislene Mota destaca, no final do século 19, a criação dos Grupos Escolares em Manaus, que se constituem como escolas-modelos e usam métodos pedagógicos considerados revolucionários para a época. 

“Os Grupos Escolares constituíram um projeto inovador da escola primária, que consolidou o ensino público, cujo objetivo era de formar o cidadão republicano, atribuindo, assim, à educação um poder restaurador das transformações sociais”, 

afirmou a professora.

Grupo Escolar Gonçalves Dias. Foto: Divulgação/SEC

Os Grupos Escolares entram na lei em agosto de 1893 e ampliam o acesso da população à escola pública. São eles:

  • Grupo Escolar Saldanha Marinho
  • Grupo Escolar Marechal Hermes
  • Grupo Escolar José Paranaguá
  • Grupo Escolar Barão do Rio Branco
  • Grupo Escolar Presidente Bernardes

“De acordo com o Relatório Geral da Instrução Pública, nos primeiros anos da República existiam na capital amazonense 46 escolas primárias mantidas pelos cofres do Estado, sendo uma complementar para o ensino misto. Destas, oito eram destinadas ao sexo masculino e 37 para o ensino misto”, afirmou Mota. 

Grupo Escolar Saldanha Marinho (1911). Foto: Divulgação/SEC

Sólon de Lucena 

Em 1897, foi criado, no Amazonas, o Curso Comercial, com duração de quatro anos e que funcionava anexado ao Gymnasio Amazonense. Esse curso tinha como objetivo preparar o aluno para o mercado de trabalho. Mas foi em 1909 que foi criada a Escola Municipal de Comércio, aprovada pelo superintendente Agnello Bittencourt.

Na década de 1920 o governo passou por dificuldades financeiras que afetaram a instituição. Nesse momento, o Amazonas chega a pedir auxílio para outros estados da Federação. O pedido é acatado pelo então governador da Paraíba, Sólon Barbosa de Lucena, que enviou uma contribuição financeira para a Escola Municipal de Comércio, que recebeu o nome do governador em homenagem e passou a ficar sob responsabilidade do estado. 

Instituto de Educação do Amazonas (IEA) 

 O Instituto de Educação do Amazonas (IEA) é a escola mais recente, mas origina-se de uma série de mudanças e adaptações durante o fim do século 19 e início do 20. A denominação atual foi oficializada em 1940 com o Decreto-lei assinado pelo então interventor federal Álvaro Botelho Maia.

IEA em 1940. Foto: Divulgação/SEC

A sede onde hoje funciona a escola, na Rua Ramos Ferreira, foi erguida dos alicerces que serviriam para o prédio do Palácio do Governo. Em 1940, em meio as obras, foi encontrado uma caixa de documentos datados do fim do século 19 escritos pelo governador Eduardo Ribeiro, além de jornais da época e moedas.

Já em 1946, o IEA recebeu a instalação de uma escola para o ensino prático do magistério, chamada Grupo Escolar Princesa Izabel, que apenas 30 anos depois ganha um prédio próprio ao lado do Instituto.

Entre 1963 e 1972, o prédio também foi espaço para a Assembleia Legislativa do Estado. O prédio dessa instituição possui, hoje, 30 salas de aula, e desde 2009 funciona como uma Escola-Piloto de Ensino Médio de Tempo Integral. 

*Por Indiara Bessa, acervo do g1 Amazonas


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