Pescadores relatam escassez de peixes mesmo com cheia do Rio Negro. Foto: Alexandro Pereira
Mesmo com a cheia do Rio Negro, moradores do bairro Puraquequara, na Zona Leste de Manaus, enfrentam dificuldades com a escassez de peixes. A pesca, principal fonte de renda das comunidades ribeirinhas da região, caiu drasticamente no período de elevação do nível dos rios no estado – que acontece entre os meses de outubro e julho.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Leia também: Cheia do Rio Negro: Confira as 10 marcas recordes já registradas, desde 1902
Francisco Mateus, de 67 anos, é pescador e diz que a situação é uma das piores que já enfrentou. “Tá faltando o peixe. Os outros anos, numa época dessas, a gente tinha bastante peixe”, contou. Segundo ele, a atividade teve queda de mais de 80%
Para o pescador, os efeitos das secas severas registradas nos últimos anos ainda impactam diretamente o ciclo natural da pesca.
“Os peixes não se reproduzem de uma hora pra outra. Eles têm um período de reprodução e para crescer. Por isso essa escassez hoje do pescado na nossa região”, explicou.
egundo o biólogo e especialista em ecologia aquática, Edinbergh Caldas Oliveira, a situação é resultado das secas extremas de 2023 e 2024.
Leia também: Documentário “A Cheia Histórica do Rio Negro” participa de Festival Nacional

“Isso ocasionou a diminuição dos estoques de peixes para os pescadores que dependem dessa captura para sobreviver. Com as grandes vazantes que tivemos, a qualidade da água foi prejudicada, o que afeta diretamente a sobrevivência das larvas e alevinos das espécies”, afirmou.
Com a queda na pesca, a renda e a alimentação das famílias ribeirinhas também foram comprometidas. “Se você não consegue o pescado, não tem renda. Então fica difícil”, completou Francisco.
No dia 10 de julho, o nível do Rio Negro chegou a 29,01 metros, após baixar quatro centímetros na semana. Especialistas apontam que esse comportamento pode indicar o início da estabilidade do rio, com tendência de vazante nos próximos dias.
Segundo a Defesa Civil do Estado, 42 dos 62 municípios do Amazonas estão em situação de emergência, com mais de 530 mil pessoas afetadas pelas cheias.
Leia também: Cheia histórica: confira imagens aéreas da enchente do Rio Negro

Leia também: Cheia obriga moradores de bairros afetados a viver entre lixo e risco à saúde em Manaus
No Puraquequara, moradores relatam que, diferente dos anos anteriores, não receberam nenhum tipo de assistência do poder público.
“Todo ano a gente recebia o rancho. Ajudavam com algum dinheirinho também. Mas, infelizmente, este ano não veio nada. Ninguém está recebendo nada da Defesa Civil, nem do Estado, nem da prefeitura”, disse o pescador Sérgio Matheus da Silva.
Em nota, a Prefeitura de Manaus informou que, mesmo com o início da descida das águas, segue monitorando a situação das comunidades ribeirinhas. A gestão anunciou que enviará, na próxima semana, cestas básicas para moradores atingidos pela cheia, incluindo a comunidade São Francisco do Mainã, no Puraquequara.
Já o Governo do Amazonas informou que tem atendido os municípios em situação de emergência, mas Manaus não fez este decreto, e, por esse motivo, o atendimento às comunidades localizadas na zona rural da capital é de responsabilidade da Prefeitura de Manaus.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo G1 Amazonas, escrito por Alexandre Hisayasu, e com fotos de Alexandro Pereira.
