Bombas atingiram pontos importantes da cidade, como o Teatro Amazonas, o hospital Beneficente Português e o Mercado Adolpho Lisboa
Uma das principais metrópoles do Norte do Brasil, a cidade de Manaus é famosa pelo seu polo industrial e pelas inúmeras belezas naturais que a cercam. Mas quem passa pela capital do Amazonas pode nem imaginar que a cidade já foi bombardeada pouco mais de um século atrás, em 1910. Quem conta esse curioso caso da história manauara é o geógrafo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Rafael Bentes.
Conta a história que, na manhã do sábado, 8 de outubro de 1910, Manaus acordou sob bombardeio pelos navios da Flotilha do Amazonas, como é chamada a tropa da Marinha no estado. Em seguida, militares do Exército e da Marinha tentaram tomar o antigo Palácio do Governo, atual Paço da Liberdade, no centro histórico da capital.
Segundo Rafael, era uma tentativa de golpe contra o então governador do Amazonas, Antonio Bittencourt, e baseada em um documento questionável. “A Assembleia Legislativa resolveu fazer o impeachment do governador. O problema é que naquele dia não houve sessão e até mesmo as assinaturas foram forjadas”, relata.
Entre as razões para a cassação de Bittencourt estavam o descumprimento de algumas determinações legais, especialmente aquelas relacionadas a questões comerciais, além de acusações de má gestão financeira.
Os bombardeios daquele sábado atingiram pontos importantes de Manaus, como o Teatro Amazonas, o hospital Beneficente Português e o Mercado Adolpho Lisboa.
Na ocasião, os golpistas exigiam que Antônio Bittencourt deixasse o Palácio do Governo e entregasse o cargo para seu vice, Sá Peixoto. Rafael conta que os bombardeios começaram a partir do embate entre os policiais, que defendiam Bittencourt, e os militares golpistas. Chegaram até a divulgar panfletos anunciando novos bombardeios caso o governador não renunciasse.
“Assustada, parte da população fugiu para lugares mais distantes, deixando tudo para trás”. O geógrafo conta ainda que civis morreram em meio ao tiroteio.
Após os conflitos e com uma arma apontada contra a cabeça, o governador Antonio Bittencourt enfim renunciou, mas foi reconduzido ao cargo pelo então presidente Nilo Peçanha.
Segundo Rafael, algumas marcas do bombardeio sobreviveram até os dias de hoje. “Quem quiser dar uma olhada por trás do Mercado Adolpho Lisboa ou no cemitério São João Batista irá encontrar as marcas daquele dia”, lembra.
Erro de pontuação
Uma outra versão para o caso é a do historiador Antonio José Souto Loreto, no livro História da Navegação na Amazônia, de 2007, que dá conta de que o bombardeio foi feito em decorrência de um erro de pontuação.
De acordo com esta versão, o comandante da Flotilha teria recebido um telegrama, como resposta a uma consulta se deveria ou não bombardear a cidade, com os seguintes dizeres: “Não tenha prudência“.
Acredita-se que, na verdade, os telegrafistas haviam esquecido de acrescentar, após a palavra não, uma vírgula ou um ponto e que a frase correta deveria ser? “Não, tenha prudência”.