Casa da Criança: obra social de Manaus celebra a infância há mais de 70 anos

Localizada no Centro Histórico da capital amazonense, a Casa da Criança é uma creche-escola que oferece assistência social e ensino para crianças de 2 a 5 anos de idade oriundas de famílias carentes.

Casa da Criança foi criada em 1948. Foto: Adneison Severiano/Acervo Rede Amazônica AM

Comemorado nacionalmente no dia 12 de outubro, o Dia das Crianças é uma data que celebra a importância da infância, o seu desenvolvimento integral e, principalmente, a garantia dos direitos à saúde, bem-estar e educação infantil.

As creches, por exemplo, são cruciais para o processo de aprendizagem e formação cognitiva, emocional, física e social das crianças.

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Dito isso, você sabia que existe uma instituição em Manaus (AM) que cumpre essa função social há 77 anos de forma voluntária?

Localizada no Centro Histórico da capital amazonense, a Casa da Criança é uma creche-escola que oferece assistência social e ensino para crianças de 2 a 5 anos de idade oriundas de famílias carentes.

Casa da criança em manaus
A entidade, desde 1948, garante acolhimento, cuidado e segurança para pais e filhos em situação de vulnerabilidade social até os dias atuais. Foto: Reprodução

Origem da Casa da Criança

Nos anos 1940, Manaus possuía aproximadamente 54 mil crianças de zero a nove anos de idade que não sabiam ler ou escrever, segundo os dados do IBGE. A maioria era proveniente de famílias onde os pais se ausentavam para trabalhar e deixavam os filhos desacompanhados em casa.

Essa realidade motivou o então bispo da cidade, Dom João da Matta Andrade e Amaral, a idealizar um lugar onde trabalhos de assistência social e educação pudessem ser desenvolvidos para elas.

Fachada da Casa em sua inauguração, em 1948. No recorte, bispo Dom João da Matta. Foto: Reprodução

Diante da preocupação, a Diocese de Manaus realizou a compra de dois terrenos localizados na Avenida Ramos Ferreira, no Centro da cidade, para a construção da Casa. A obra foi inaugurada em 1º de fevereiro de 1948, numa grande procissão que iniciou do Colégio Santa Doroteia, situado na Avenida Joaquim Nabuco, até o novo local, que já contava com um prédio construído denominado de Pavilhão Central.

Terreno comprado para a construção. Foto: Arquivo Casa da Criança

No evento, D. João da Matta anunciou a entrega da Casa da Criança, sob a direção das Três Filhas da Caridade: as Irmãs Hermínia Gomes de Matos, Maria Colares Carvalho e Madalena Silva.

Ciente de que elas não seriam remuneradas, o bispo disse para todos os presentes naquela ocasião: “Ajudem as Irmãs nesta Obra Benemérita. Elas não têm remuneração, mas confio em vocês, que elas não passarão por grandes necessidades”.

Procissão de inauguração, em 1º de fevereiro de 1948. Foto: Arquivo Casa da Criança

A fala do bispo enraizou a solidariedade, união e sentimento de amor ao próximo da sociedade manauara como pilares essenciais para o funcionamento da instituição, algo que perdura até hoje.

Primeiros passos

Sob o comando das Três Filhas da Caridade, a Casa iniciou as atividades com 60 crianças de ambos os sexos, em regime de internato e semi-internato. A maioria assistida eram aquelas encaminhadas pelo juiz, abandonadas na porta da instituição e as que vinham somente para passar o dia. A Casa também recepcionou, naquele período, jovens oriundas do interior do Estado, que viriam trabalhar em Manaus e não tinham onde morar.

Acima, Irmã Laura com as primeiras crianças matriculadas. Abaixo, Dom João com as jovens oriundas do interior e abrigadas na Casa. Fotos: Arquivo Casa da Criança

As primeiras professoras desenvolveram atividades pedagógicas e um trabalho apostólico para as crianças, com base na educação vicentina, sistema de ensino baseado nos princípios católicos e na formação religiosa dos pequenos, destacando os valores da igualdade, fraternidade, amor e justiça. Tal método educacional permanece até os dias atuais.

Fotos: Arquivo Casa da Criança

No ano seguinte, a instituição ganhou novas instalações, como:

  • o pavilhão Dom João da Matta, em 1949, destinado às meninas;
  • a lavanderia, em janeiro de 1950;
  • em 1951, o pavilhão Irmã Rosalie Rendu funcionou como berçário, atendendo a 100 crianças;
  • em 1952, o pavilhão Martagão Gesteira, destinado aos meninos e à cozinha;
  • o pavilhão Margarida Nassau, destinado às meninas de quatro e cinco anos;
  • e a capela da Medalha Milagrosa, em 1956.

Isso sem falar do prédio principal, destinado para a parte administrativa da Casa da Criança.

Como é hoje?

Atualmente, a creche-escola conta a dedicação de cinco irmãs, incluindo a diretora-presidente Ir. Maria da Cruz da Conceição Silva. Cerca de 300 crianças, com idades entre 2 e 5 anos, são atendidas hoje pela entidade, com foco prioritário na área da assistência social, sendo a educação infantil um complemento das ações sociais. O horário de funcionamento é das 7h às 15h30.

De acordo com a direção, os pequenos que são atendidos no local residem em diversos bairros da cidade de Manaus, especialmente nas adjacências do Centro, incluindo zonas com maior vulnerabilidade social como as zonas Sul e Leste.

“Nossa atuação está direcionada principalmente para garantir a proteção social de crianças em situação de risco ou vulnerabilidade, promovendo acolhimento, cuidado, nutrição e segurança. Os pais ou responsáveis são, em sua maioria, trabalhadores informais, como ambulantes, domésticas e outras categorias de baixa renda, sem condições de arcar com uma creche particular. Por isso, confiam em nossa instituição como espaço de proteção e cuidado para seus filhos”, frisa a diretora.

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De mãe para filha

Ívina, aos 3 anos de idade, na Casa da Criança. Foto: Ívina Garcia/Arquivo Pessoal

Foi exatamente esse cenário que colocou a Casa da Criança na rotina da amazonense Ívina Garcia. A jornalista de 28 anos conta que estudou na instituição devido à falta de tempo da mãe, que trabalhava o dia todo e não tinha condições de arcar com uma creche.

“Como minha mãe trabalhava o dia todo, minha família decidiu me colocar lá porque o ensino era integral e também era próximo de casa. Estudei entre 2000 e 2002 lá e foi um período muito importante para mim”, conta a ex-aluna da Casa da Criança.

A mesma dificuldade da mãe também motivou Ívina a matricular a sua filha, Ágata, na Casa da Criança. Porém, com um fator a mais determinante: a pandemia da Covid-19.

Filha da Ívina, Ágata Garcia, também aos três anos de idade, foi aluna da Casa. Foto: Ívina Garcia/Arquivo Pessoal

“Minha filha estudou entre 2020 e 2021. Ela teve pouco tempo no local e sem muitas atividades presenciais por conta da pandemia na época, mesmo assim, ela gostou muito de lá. Foi uma ajuda muito grande ter ela lá, pois eu tinha acabado de mudar de trabalho e meu horário coincidia com os horários dela. Então, foi incrível”, relatou a mãe.

Morando atualmente em São Paulo, Ívina destacou a importância da Casa da Criança tanto na sua formação pessoal quanto na da filha.

“Fico feliz pela atuação da Casa da Criança na minha vida e da Ágata, por ela ter criado boas memórias como eu criei. Acredito que seja uma creche muito boa, tanto na estrutura quanto no ensino também, não é só um lugar onde as crianças ficam brincando o dia todo”, finaliza.

Doações

Apesar da forte atuação social em prol da população carente, a Casa da Criança depende exclusivamente de doações para sua manutenção. Segundo a direção, ajudas proveniente de órgãos públicos, empresas privadas e também de ex-alunos continuam sendo a principal fonte de recursos para o custeio das atividades.

“A instituição continua a se manter por meio das doações provenientes de benfeitores e da sociedade manauara em geral. Com a providência divina, podemos afirmar que não passamos por necessidades graves. O trabalho diário é árduo, mas, sob a intercessão de Nossa Senhora e as graças de Deus, conseguimos seguir adiante e levar esta obra benemérita com fé e perseverança”, afirma a diretora.

Irmã Maria da Cruz, diretora-presidente da Casa da Criança desde 2018. Foto: Reprodução

A Irmã detalha que colaboradores como professores, técnicos administrativos e funcionários terceirizados são cedidos por entidades públicas, porém, o custo mensal ainda é bastante significativo.

“Apesar da forte rede de apoio, a Casa da Criança tem alta demanda por recursos financeiros e materiais para manter suas atividades e atender com qualidade. O custo mensal é significativo, mas varia conforme as doações e convênios ativos. A principal necessidade é garantir a manutenção da estrutura, alimentação, folha de pagamento dos funcionários”, frisa Maria da Cruz, que está à frente do local desde 2018.

As estimativas apontam que, em 77 anos de história, a Casa da Criança já beneficiou aproximadamente 25 mil crianças com ações sociais.

Ajuda

Para ajudar a Casa da Criança com equipamentos e outras formas, basta entrar em contato pelo telefone (92) 3232-5282. Quem quiser doar, as contas para o recebimento de ajudas financeiras são:

Banco do Brasil: Agência 1862; Conta 39841-1
Bradesco: Agência 0320-4; Conta 037032-0

“Nossa missão é cuidar, educar e transformar vidas. É desta forma que vamos contribuir para um futuro mais justo e humano para as nossas crianças, que possamos garantir um lugar seguro, digno e acolhedor, onde suas necessidades básicas sejam atendidas e seus direitos assegurados”, finalizou a Irmã.

Fontes

GUIMARÃES, Erilane de Souza. ‘A Casa da Criança de Manaus: história de uma instituição educativa’. Sorocaba, SP, 2012.

*Por Dayson Valente, para o Portal Amazônia

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