Auto publicação: a saga de escritores independentes para conquistar o sonho de publicar suas obras

Autores independentes afirmam que viver de literatura no Brasil pode ser difícil, principalmente com os altos preços para as publicações de livros físicos.

A internet gerou mudanças para diferentes áreas do mercado de trabalho. De repente, vários processos foram automatizados. Com um clique, os internautas têm acessos à milhares de informações, seja através das mídias sociais ou sites de notícias. 

A vida dos apaixonados por literatura também foi impactada por causa da internet, uma vez que o universo online proporcionou a criação de diversos sites e aplicativos para quem ama ler.

E viver de literatura no Brasil pode ser difícil, principalmente, com os altos preços para as publicações de livros físicos. Devido a esse fator, junto com a falta de incentivo para escritores e a praticidade da internet, muitos autores tem recorrido à publicação digital.

Literatura como hobby

Há dez anos, o manacapurense Henrique Oliveira, escreve romances focados no público LGBTQIA+. Ele já tem mais de dez publicações na plataforma de livros Wattpad. Oliveira se considera um escritor amador e, por enquanto, não tem pretensão de publicar uma de suas obras em livro físico.

“Primeiro, que o custo de publicação é alto e para mim não vale a pena gastar tanto assim. E através das plataformas digitais, por exemplo, podemos colocar o texto ‘cru’ e ir editando aos poucos. Fora, que algumas obras podem alcançar uma boa repercussão”, explicou.

O escritor amador enxerga a literatura como válvula de escape e critica a falta de auxílio para as pessoas que desejam viver de literatura. “Eu gosto de escrever, mas não vejo isso como uma profissão. É mais uma maneira de externalizar minhas ideias. Infelizmente, o Brasil é um lugar que incentiva pouco os autores, então, viver da profissão é muito complicado”, justificou.

Foto: Reprodução/Pixabay

Auto publicação 

As pessoas podem ter acesso a obras literárias de diversas formas atualmente, não mais somente pelos livros físicos. O manauara Gutyerrez Filho, encontrou uma plataforma de auto publicação, algo que barateou a versão física do seu livro ‘O Clube da Meia Noite’.

Todos os processos de publicação foram realizados por meio de uma plataforma online e a edição do texto ficou por conta dos amigos de Gutyerrez, que ajudavam a revisar erros ortográficos e outros detalhes da obra. A campanha de promoção da obra também é responsabilidade do próprio autor, que contou com ajuda de um designer.

O preço do livro é R$ 30 (já contando com o preço da impressão feita pela própria plataforma). “Os livros foram comprados por parentes e amigos de outros Estados. Parei a divulgação, pois estou focado em outras obras. Porém, a auto publicação serviu para o que eu estava pretendendo fazer”, afirmou o escritor. 

Gutyerrez comenta que o mercado literário virtual, a cada dia, ganha novos escritores e a competição cresce mais. A diferença, destaca, “é usar todas as armas para divulgar bem a sua própria obra”. 

“No mínimo, o autor precisa entender de marketing digital. Em 2017 criei a página ‘Clube da Meia Noite’ e fui criando uma identidade digital para o livro que lancei em 2020. Por causa da comunidade, gerou uma expectativa nos seguidores, inclusive, alguns compraram o livro”, 

recomenda.

Experiência 

Em 2014, o até então autor independente Mário Bentes criou o Grupo Lendari, um selo editorial especializado em ficção fantástica, ficção científica, terror e horror, thriller e policial. Bentes atualmente é reconhecido pela iniciativa e conta que a ideia surgiu quando participou de uma edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

De acordo com ele, o mercado das editoras funciona de maneiras diferentes: enquanto as grandes editoras investem em obras estrangeiras, as menores (pequenas e médias) investem em autores nacionais, mas a demanda de autores interessados em lançar uma obra é maior que as oportunidades disponíveis. “Minha editora, por exemplo, investe em autores nacionais desde 2014. Com as coletâneas e as obras de publicação tradicional, já lançamos mais de 350 autores”, contou Bentes.

Sobre a auto publicação, Bentes acredita que é uma faca de dois gumes “por que enquanto as editoras funcionam como curadoras de conteúdo, ou seja, avaliam se vale a pena ou não investir em uma obra, plataformas como a Amazon só visam aumentar seus títulos disponíveis, sem se importar com a qualidade”.

Exercício de paciência 

O processo de publicação de uma editora é lenta e exige muito do autor, principalmente paciência. Em primeiro lugar, a editora lança chamados de publicação. Depois de um período, analisam as obras de melhor qualidade e com potencial de vendas, já que as editoras arcam com os custos na modalidade tradicional.

Após ser escolhida, as obras entram em preparação, com ajuste do autor, reescrita se necessárias, até a versão final. O próximo passo é a diagramação e a conversão para e-book (e no caso das editoras, é totalmente diferente de lançar diretamente na Amazon). Por fim, as obras são impressas e enviadas para venda.

“Uma grande verdade que precisa ser encarada é que, no geral, os autores são ansiosos e impacientes. Eles querem uma resposta imediata para a publicação, e não funciona assim. Já recebi uma obra e, 24 horas depois, um ultimato do autor exigindo resposta se a editora iria publicar ou não. Eu dispensei. Não funciona assim”, 

exemplificou o autor.

Para driblar a ansiedade de ter um livro publicado, Bentes dá uma dica aos aspirantes a escritores: “Apesar da facilidade, não tenha pressa em publicar. Publicar é tornar público de forma irreversível. Já vi muitos autores iniciantes reclamarem de falta de apoio ao autor nacional porque recebeu críticas negativas aos seus textos. É preciso aprender e ter maturidade para lidar com comentários ruins”.

O escritor destaca que o mercado ainda faz questão do livro físico, “mas os custos ainda são impeditivos, especialmente com gráficas”. Ele explica que o livro digital também tem custos parecidos com o físico, com exceção da impressão e logística. “Importante considerar todas as variáveis e ter pés no chão, sempre”.

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