Estação das Docas sediará a 1ª Mostra das Cachaças Paraenses

Promover a troca de conhecimentos sobre a evolução da cana-de-açúcar e da cachaça no Estado do Pará é o objetivo da 1ª Mostra das Cachaças Paraenses, a ser realizada nos dias 13, 14 e 15 de setembro (sexta-feira a domingo), na Estação das Docas, em Belém. Expositores de diferentes regiões do Estado participarão da mostra no Armazém 2, das 18 às 22 h, com entrada franca.

A data de abertura do evento não foi escolhida por acaso. O dia 13 de setembro é considerado o Dia Nacional da Cachaça, cuja origem está diretamente ligada à cultura brasileira. Seis produtores dos municípios de Abaetetuba, Altamira, Belém e Ulianópolis apresentarão ao público toda a versatilidade da bebida. Durante a programação haverá degustação gratuita das versões tradicionais e saborizadas da bebida, como as cachaças de jambu, bacuri e açaí. A idade mínima para participação 18 anos.

Foto:Divulgação

Histórico

Muito se discute sobre a chegada da cana-de-açúcar ao Brasil. Para alguns especialistas, as primeiras mudas teriam sido trazidas por Martim Afonso de Sousa, por volta de 1532. Porém, é muito provável que a cana tenha se instalado em solo brasileiro anteriormente, pouco tempo depois da descoberta do País. A chamada cana-crioula foi, por aproximadamente 300 anos, a única a servir de fonte de açúcar e alimento. O Pará foi a porta de entrada para a chegada da cana-caiana – nome derivado de sua origem, Cayenne (Caiena), capital da Guiana Francesa – no Brasil, por volta de 1790.

A forma como a cachaça foi descoberta é, no mínimo, curiosa. Nos engenhos de açúcar, durante a fervura da garapa, surgia uma espuma de impurezas que era retirada dos tachos e servida como alimento nos cochos para os animais. Dentro dos cochos a espuma fermentava naturalmente, transformando-se num líquido que parecia revigorar os animais. Os escravos decidiram experimentar aquele caldo, e gostaram tanto que passaram a consumi-lo com frequência. A notícia sobre o consumo da bebida logo chegou aos ouvidos dos senhores de engenho, os quais, já conhecendo técnicas de destilação, passaram a aplicá-las ao fermentado de cana-de-açúcar, dando origem à cachaça.

Na Amazônia

A cachaça chegou à região amazônica durante a colonização europeia, no final do século XVI e começo do XVII. Holandeses, ingleses e franceses, que possuíam extensas plantações de cana-de-açúcar, estimularam a comercialização do açúcar na região. A lavoura de cana proliferou no Pará pelas margens dos rios Guamá e Capim, no Acará, Moju e Igarapé-Miri.

Foto:Divulgação

O pesquisador Arthur César Ferreira Reis aponta que, entre 1662 e 1667, sete engenhos movimentavam a economia de Belém. Há registros que os primeiros engenhos no Pará foram instalados pelos holandeses, possivelmente  antes de 1600, e o primeiro engenho português começou a funcionar entre 1616 e 1618. Ainda hoje é possível rememorar a fase áurea da cana-de-açúcar no Estado por meio da observação dos antigos engenhos, como o Engenho do Murutucu, à margem direita do Rio Guamá.

Em se tratando de produção legalizada e comercial, entre a última década do século XX e primeira do século XXI não havia registro de engenhos em atividade no Pará. Entretanto, em 2016, a cidade de Abaetetuba, conhecida como “Terra da Cachaça”, foi escolhida pelo engenheiro químico Omilton Quaresma e seus sócios para receber um engenho moderno, que passou a produzir cachaças tradicionais, envelhecidas e bebidas alcoólicas mistas. Outro engenho viria a ser registrado quase no mesmo período por Marcino Duarte, na cidade de Ulianópolis, na região sudeste.

Apesar do longo período sem engenhos no Pará, outros produtores vinham desenvolvendo bebidas alcoólicas mistas e licores, com cachaça adquirida de outros estados, associada a matérias-primas vegetais regionais. A de maior destaque foi a “cachaça com jambu”, que teria sido criada por Leo Porto, em Belém.

‘Terroir único’

Segundo Omilton Quaresma, apesar do número ainda tímido de produtores regionais, a produção de cachaça paraense vem acompanhando o crescimento nacional do segmento de bebidas alcoólicas, mistas e licores, com destaque para tendências em inovações nacionais e internacionais, dado o uso dos vastos recursos naturais disponíveis na região. “Como todos os destilados mundo afora, a cachaça paraense apresenta um ‘terroir’ único, dado as características climáticas, solo, água e cultura de sua região. Entretanto, os aspectos químicos e sensoriais são influenciados diretamente pela forma de fazer de cada produtor e por sua microrregião, onde explora leveduras próprias de seu canavial no processo de fermentação do caldo de cana, aplica determinada técnica específica em seu processo de destilação, ou ainda elabora um blend excepcional a ser engarrafado”, explica Omilton Quaresma, um dos expositores da 1ª Mostra.

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A cachaça paraense “Indiazinha Ouro”, que também estará na Mostra, figura no III Ranking da Cúpula da Cachaça (2018-2019) como a 19ª melhor cachaça envelhecida/armazenada em madeira do Brasil. Também recebeu a medalha de prata no Concurso Mundial de Bruxelas (Bélgica), em 2018. Esse contexto consolida a vocação paraense para a produção de destilados de alta qualidade.

A abertura da 1ª Mostra das Cachaças Paraenses, no dia 13, também terá a apresentação do grupo de carimbó Muiraquitã, no Projeto Pôr do Som, às 18h30. No domingo (15), último dia da Mostra, a Estação das Docas também estará com uma programação musical especial, com shows dos paraenses Ana Selma e Banda Sonora, das 17 às 19 h. As apresentações serão gratuitas, na orla.

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