Wuriu Manchineri participa da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade em Cali na Colômbia. Foto: Wuriu Manchineri/Arquivo pessoal
Vice-diretor da Manxinerune Tsihi Pukte Hajene (Matpha), uma organização civil ligada ao povo Manchineri no Acre, o ativista Wuriu Manchineri, de 28 anos, está desde esta segunda-feira (21) em Cali na Colômbia, para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP 16).
Com o tema ‘Paz com a Natureza’, o evento, um dos mais importantes para discussão de questões ambientais, busca discutir e encontrar soluções sustentáveis para o planeta.
“É muito importante porque acaba que a COP, ela reconhece a população, no caso os povos indígenas, como participantes diretos e não só como ouvintes, mas como propositores de ações, propositores de ideias, de soluções”, ressaltou.
Wuriu participa do evento a convite da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) como representante da Matpha. Se juntando a representantes de mais de 190 países e membros da sociedade civil organizada.
Segundo Wuriu, as COP’s só eram abertas para a população indígena como ouvintes e agora é possível ter voz nesses espaços e fazer parte da discussão. Ele ressalta ainda os apoios da Coiab, Greenpeace e Hivos, organização de cooperação internacional que presta apoio a organizações da sociedade civil, para ter voz nesses eventos.
“Segunda-feira eu participei de uma mesa que fala sobre a importância da biodiversidade, no caso como a demarcação dos territórios indígenas afeta diretamente a conservação da biodiversidade”, comentou ele.
Ele diz ainda que quer usar seu tempo no evento para reafirmar a necessidade das políticas indígenas de garantia de direitos e políticas coerentes para o cuidado da vida, segurança jurídica dos territórios indígenas e estratégias eficazes para políticas locais, nacionais e internacionais de combate às crises de biodiversidade e climática.
“Estou muito feliz de estar conseguindo discutir sobre algumas ideias, de estar mostrando a importância dos povos indígenas na conservação do meio ambiente. O meu sentimento, é um sentimento de alegria por poder participar, é um sentimento de gratidão pela confiança das organizações, no caso pela confiança da Coiab de ter me chamado para essa COP, e vamos para a luta”, festeja.
Quem é Wuriu Manchineri?
Além de vice-presidente de sua organização, o ativista indígena estuda Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e direito na União Educacional do Norte. É conselheiro no Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) e bolsista pelo Programa de Educação Tutorial (PET) – Conexões de Saberes Comunidades Indígenas.
De acordo com a Matpha, desde 2007 o movimento Indígena luta contra o PL do Marco Temporal, que afeta diretamente o direito ao território dos povos indígenas, garantido no artigo 231 da Constituição Federal. O Projeto de Lei foi aprovado pela Câmara Federal, porém, a tese foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O movimento indígena segue lutando para impedir que a medida seja implementada no Brasil.
Povo Manchineri
O Povo Manchineri tem a maior concentração aldeada no município de Assis Brasil, nas Terras Indígenas do Riozinho do Iaco e Mamoadate (Assis Brasil e Sena Madureira). Também há Manchineris de contexto urbano que se concentram em Rio Branco.
Elcio Manchineri, pai de Wuriu, cresceu em contexto de aldeia Mamoadate e depois veio para o contexto urbano. Hoje ele é o coordenador da COIAB.
COP 16
Durante o evento, o Brasil terá papel importante nas discussões sobre a implementação do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês), adotado na última COP 15, no Canadá, reforçando sua posição como um dos países mais ricos em biodiversidade e com agenda ambiciosa voltada para o desenvolvimento sustentável e a proteção ambiental.
Foram definidas 23 metas para 2030 que objetivam deter e reverter a perda de biodiversidade para colocar a natureza em um caminho de recuperação para o benefício das pessoas e do planeta, conservando e usando de forma sustentável a biodiversidade e garantindo a distribuição justa e equitativa dos benefícios do uso de recursos genéticos.
O GBF inclui medidas específicas, incluindo a colocação de 30% do planeta e 30% dos ecossistemas degradados sob proteção até 2030. Ele também contém propostas para aumentar o financiamento aos países em desenvolvimento – um dos principais pontos de controvérsia durante as discussões.
*Por Hellen Monteiro, da Rede Amazônica AC