O biólogo e pesquisador da University Lancaster (Reino Unido), e da Universidade Federal de Lavras (MG), Daniel J. Tregidgo, passou oito meses convivendo com ribeirinhos do Rio Purus, interior de Manaus, no Amazonas. Além de conhecer a vida deles, experimentou diversos peixes, o que o fez voltar com muitos amigos, mas também preocupações. O peixe mais popular do Amazonas, o tambaqui, é cada vez mais difícil de ser capturado. E quando cai na rede, já não tem o mesmo tamanho de antes. As informações são do O Eco.
No artigo ‘Rainforest metropolis casts 1,000-km defaunation shadow‘ publicado esta semana na ‘Proceedings of the National Academy of Sciences‘ (PNAS), ele e outros autores demonstram que o consumo de tambaqui em Manaus causa efeitos na população de peixes a até mil quilômetros rio acima, no Purus. Entrevistas com 392 pescadores indicam que perto da cidade de Manaus tanto o tamanho do peixe quanto as taxas de captura caem pela metade.
Em regiões mais distantes do Rio Purus, o estudo registrou que, em média, os peixes capturados pesavam entre 19 e 24 quilos, enquanto mais perto da foz, no Rio Solimões, a média era de oito a 11 quilos. “Fico triste por vários motivos”, afirma Tregidgo. “Eu pessoalmente gosto de peixe e vi que os ribeirinhos não têm muitas fontes de renda. O tambaqui é muito importante para a renda deles. E como biólogo, todos querem que a população de peixes se recupere”, continuou.
Ele destaca que os resultados do estudo são importantes porque mostram os efeitos da urbanização sobre a floresta. E lembra que dois terços da biodiversidade do planeta está em áreas tropicais. Nestas regiões, o rápido aumento da população humana, a urbanização e mudanças econômicas estão levando a um aumento da demanda das cidades por alimentos.
De acordo com o biólogo, é dada bastante atenção à expansão de fazendas para a produção de carne, mas recursos de pesca e da vida selvagem também são importantes para milhões de pessoas que vivem nos trópicos.
Efeitos
Não há risco de extinção, ressalta o autor do artigo. Porém, a redução no tamanho afeta o consumo. Há efeitos também sobre a floresta: “O tambaqui grande pode dispersar sementes em distâncias maiores. Os menores não fazem um trabalho tão bom”.
O biólogo não vê a proibição da pesca como solução para o problema. De acordo com ele, isso criaria mais um problema para os pescadores. Para ele, o ideal seria aproveitar mais a diversidade dos peixes amazônicos e aumentar a variedade de espécies consumidas em Manaus. Apesar de ter algumas preferências, Tregidgo não indica especificamente outro peixe para o consumo, diz que o importante é variar.
“Os rios da Amazônia são muito produtivos e podem alimentar muita gente de um jeito sustentável”, explica. “Por exemplo, a gente anotou 80 espécies de peixes no estudo, que os ribeirinhos pegaram para vender e comer. Não acho que o povo dessa cidade deveria parar de comer seu peixe favorito [o tambaqui], mas deveria variar mais para comer mais tipos de peixes do que agora”, sugeriu.