Tem sentido existir o Dia da Mulher?

Ouço de uma executiva que, em reunião com o presidente de um dos maiores grupos brasileiros, ele não dirigia o olhar ou a palavra a ela, mas somente ao colega-homem que estava ao seu lado.

Minha crença até aqui era de que não havia mais sentido existir este dia. Talvez no passado, pensava eu, mas não hoje. Não há o que discutir. O talento e as características próprias das mulheres, mais do que provaram que são imprescindíveis em qualquer atividade humana. Se queremos um mundo melhor, um país mais digno, empresas mais saudáveis e produtivas, famílias mais harmônicas, precisamos de características, ditas femininas. Se queremos que a felicidade predomine no mundo, precisamos de mais sensibilidade, percepção, intuição e amor maternal, forças de natureza humana e predominantemente presentes nas mulheres. Não que nós homens não possamos desenvolvê-las. Podemos, se nos educarmos para isso e percebermos a força que representa o que antes era considerado fragilidade.

Como disse, pensei que já não era necessário existir este dia. Quando iniciei a minha carreira como executivo, e muito tempo depois, quando me tornei consultor, as posições de diretoria e de gerência eram cem por cento ocupadas por homens. Interessante como nenhum de nós percebia isso, de tão natural que era. Hoje, em algumas empresas e setores, elas são maioria nestas posições e tal quadro não se deu por um ato de consciência e de concessão dos homens, mas de uma conquista legítima. Não quer dizer, porém, que este ganho quantitativo signifique igualdade de condições. A cultura hegemônica continua sendo masculina. E, como sempre alerto, há risco de qualquer hegemonia se tornar opressora e desrespeitosa.

Repito mais uma vez: pensei que não seria mais necessário existir o Dia da Mulher. Por elas serem maioria, por serem o que são e por já terem conquistado o que conquistaram, provando o que não precisariam provar, faria sentido ainda existir este dia?

Contrariando minhas crenças e quebrando o que me parecia tão óbvio, descubro que sim. Que alguns de nós ainda vive na Idade da Pedra e se nega a enxergar o que está na cara de todos. Se não conseguimos perceber o visível, o material, como intuir o invisível, o imaterial, a essência das pessoas e dos acontecimentos?

Ouço de uma executiva que, em reunião com o presidente de um dos maiores grupos brasileiros, ele não dirigia o olhar ou a palavra a ela, mas somente ao colega-homem que estava ao seu lado, mesmo sendo da mesma posição hierárquica.

De outra mulher escuto que ela é tratada bem na sua empresa, como se fosse um homem, complementa ironicamente. Para isso, ela tem que demonstrar que a sua prioridade é a empresa e não a família. Que não vai faltar a reuniões para ir às festinhas da escola dos filhos e que, se alguns deles estiver doentinho, os avós darão um jeito.

Uma terceira diz que o marido a chama de burra, além de outras violências morais. É ela quem paga a maior parte das despesas da casa, e ao chegar à noite, faz a comida, limpa a casa e cuida da roupa da família. Não há reconhecimento, mas obrigação. Afinal, ela é a mulher.

Absurdos. Absurdos. Absurdos. Sim, tivemos avanços, mas ainda convivemos com estes absurdos. E por mais absurdo que seja, ainda precisamos do Dia da Mulher. Quem fala aqui é um homem que mesmo sendo pai de duas mulheres fortes e maravilhosas, demorou a perceber que sim, ainda precisamos deste dia especial.

Parabéns a todas as mulheres, de todas as raças, de todas as idades, de todos os tipos. Um dia não fará sentido existir este dia. Enquanto isso, comemorem. Vocês merecem. 

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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