Está tudo muito bom, maaas…

Como posso ser acusado de perfeccionista? Se fosse, não faria muita coisa, inclusive escrever (embora evite reler o que escrevo depois, pois sempre encontro o que poderia melhorar).

Aconteceu há mais de 20 anos. Iniciava um trabalho de consultoria para um grupo de comunicação e, como de costume, solicitei à área de TI do cliente o desenvolvimento de um sistema, que implantávamos simultaneamente em outros grupos. Era comum que, após a reunião de briefing inicial, a primeira devolutiva do escopo fosse distante do solicitado, uma vez que o sistema tinha uma certa complexidade. Não foi o que ocorreu daquela vez que, em linhas gerais, aproximou-se do que havia sido pedido. Minha reação natural foi de dar os parabéns e elogiar sinceramente a equipe, especialmente o coordenador, um profissional terceirizado, que liderava o projeto. Precisava ainda de ajustes, mas ele havia compreendido bem os pontos essenciais, o que era um bom início.

Nas reuniões seguintes, ocorreu o mesmo. O trabalho avançava, ele estava de parabéns, massss…era necessário ainda um ajuste ou outro. Para minha surpresa, na terceira vez, este profissional, com um tom muito irritado, disse algo como: “você me dá os parabéns, mas nunca está satisfeito”. A partir daí, sua postura mudou completamente, demonstrando sempre impaciência.

Foto: Reprodução/LinkedIn

Mais recentemente, uma pessoa que trabalha comigo e, de cujo trabalho aprecio muito, disse-me sobre um projeto que ela apresentava, já com algumas lágrimas nos olhos: “puxa, você tem sempre uma coisa para consertar, parece que nunca está satisfeito”. Foram palavras parecidas com a de minha esposa quando lhe mostrei um vídeo que havia sido encomendado e que, realmente, ficou muito bom, merecendo o produtor os parabéns. Precisaria acertar apenas alguns detalhes. Disse ela: “muito bom, massss….ele deve achar que você nunca está satisfeito, que é perfeccionista”.

Perfeccionista, eu? Sou inteiramente contrário ao perfeccionismo. O perfeccionismo bloqueia o indivíduo, afeta a nossa autoestima e a dos outros e impede que façamos uso de nosso maior potencial. Meu trabalho é fazer com que os meus clientes façam uso deste potencial, combatendo justamente o perfeccionismo e a excessiva autocobrança. Como posso ser acusado de perfeccionista? Se fosse, não faria muita coisa, inclusive escrever (embora evite reler o que escrevo depois, pois sempre encontro o que poderia melhorar).

Confrontado com a realidade que me coloca entre a busca de maior qualidade (meu discurso para mim mesmo) e o perfeccionismo (o que as pessoas em minha volta percebem melhor do que eu), sou obrigado a dar o braço a torcer.

Recorro a neurociência para lembrar que foram muitas gerações (que eu acrescentaria, encarnações) para criar um modelo mental de enxergar primeiro o negativo, o defeito, o que pode melhorar. Se foi isto que nos trouxe até aqui e nos fez sobreviver como espécie, não é o que nos fará feliz e a quem está ao nosso redor. Como pessoa e profissional, creio que estou indo bem, massss…é preciso melhorar. Que seja ainda nesta encarnação.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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