Diego Gurgel, repórter fotográfico na Agência de Notícias do Acre, teve a oportunidade de passar três dia com o povo Ashaninka da Aldeia Apiwtxa, vilarejo que fica a três horas de barco do município de Marechal Thaumaturgo, no Acre, e registrou o cotidiano dos indígenas.
Diego Gurgel, repórter fotográfico na Agência de Notícias do Acre, teve a oportunidade de passar três dia com o povo Ashaninka da Aldeia Apiwtxa, vilarejo que fica a três horas de barco do município de Marechal Thaumaturgo, no Acre, e registrou o cotidiano dos indígenas.
“A cada curva do rio, a impressão que tive é de que estava no cenário de um filme em que eu era o grande aventureiro. Ali, barrancos alcançam facilmente a altura de um prédio na cidade e, muito esporadicamente, surge uma habitação, onde sempre há alguém na janela olhando e timidamente acenando”, descreve o fotógrafo sobre o início de sua jornada.
Segundo ele, a cada “batida do motor”, perdia a noção do tempo e se encantava com tudo que o rodeava. “Pelas silhuetas, percebe-se uma mudança de vestimentas, língua e adereços. É a certeza de que chegamos na Apiwtxa”, explica.
Gurgel conta em detalhes as primeiras impressões, da vestimenta ao semblante dos moradores da aldeia. “Era com eles que eu iria passar os próximos três dias. Após instalar-me e tomar um banho, descansei daquela jornada cansativa e prazerosa. Na primeira manhã, acordei bem cedo para passear pelo povoado. A primeira cena que vi foi a de quatro crianças, talvez irmãos, numa atividade envolvente, em que estavam todos muito empenhados. Enquanto uma tentava incessantemente acender o fogo com um isqueiro, outra preparava uma panela com mandiocas já descascadas, e outra ainda trazia um tatu já limpo, pronto para ser assado”, conta.
O fotógrafo comenta que pode observar como cada pessoa desempenhava algum papel, principalmente mulheres e crianças: “Percebi que naquele lugar as pessoas são discretas, desfrutam seu lar com a família e, pelo capricho observado nas habitações, terreiros, plantas e árvores, são muito trabalhadores e prezam por um ambiente preservado”.
Coca Ashaninka
“Na varanda de sua casa estava Wewito Piãko, deitado em uma rede, mascando folha de coca, um hábito conhecido pelos moradores andinos, que geograficamente se localizam próximo à Apiwtxa. Chamou-me a atenção a maneira como Wewito fazia uso das folhas, diferente do que eu já havia usado na Cordilheira dos Andes. Além delas, mistura-se um cipó, e um preparado branco parecido com polvilho, que é armazenado numa pequena cabaça. O cipó é o txamayro, e esse pó branco é o ishiko. Enquanto a mescla torna-se um pouco amarga na boca, adiciona-se um pouco de ishiko à mistura com um “aplicador” de madeira cônico, tornando doce o sabor”, relembra.
O fotógrafo explica ainda que, assim como nos Andes, a coca é utilizada para disfarçar a fome, a sede, e tirar o desânimo, assim como dar uma “injeção” de energia em caso de trabalho braçal, ou em longas caminhadas de caça.
Cuidados com a pintura e artesanato
Uma das figuras que chamaram a atenção do fotógrafo foi Antônio Ashaninka, cacique da aldeia, por sua concentração enquanto estocava a pasta de urucum, que serve para pinturas tradicionais, em recipientes feitos de bambu, vedados com uma tampa de palha de milho, chamado pototsi. “Uma peça tão bem trabalhada que nos remete a algo vindo da cultura oriental”, comenta Gurgel. “Um a um, seu Antônio, sempre vestido com kusma e amarentsi [trajes típicos], um chapéu de penas e fibras muito bem construído, preenchia os gomos de bambu com a ajuda de uma fina tala de buriti”, destaca.
Contemplação da morada
Já ao cair da noite, de volta ao acampamento, Diego Gurgel relembra que viu Moisés Piãko fumando em seu poarentsi, um cachimbo entalhado. “Tentei ser o mais discreto possível, pois não queria interferir naquele momento íntimo daquele líder, que olhava em volta como se admirasse todo o trabalho feito pelo seu povo, numa vasta área farta de árvores e fruteiras”, concluiu. Veja alguns momentos registrados por Diego Gurgel: