Tikuna, guarani, kaiapó, munduruku. Essas são apenas algumas das etnias indígenas mais conhecidas do Brasil. Imagine conseguir produzir registros fotográficos dessas e outras 300 etnias que povoam o País? Esse é o objetivo do fotógrafo e documentarista mineiro Renato Soares, criador do projeto ‘Ameríndios do Brasil‘, que já passou por estados da Amazônia como o Amapá e o Mato Grosso.
Nascido na cidade de Carmo do Rio Claro, em Minas Gerais, Soares contou ao Portal Amazônia que seu interesse pelas raízes indígenas do território brasileiro surgiu na infância. “Costumo dizer que não tive escolha, é como se a fotografia já fosse parte de mim. E o interesse pelos indígenas é mais antigo que a fotografia”, afirmou. “Sempre gostei do personagem índio, lia a respeito, tive contato com alguns grupos ainda menino. Quando surgiu a fotografia, a primeira coisa que pensei foi fotografar os índios. Demorou, mas logo já estava lá com eles”, lembrou.
Para Soares, o índio é um personagem desconhecido, mas que faz parte do DNA do brasileiro, ainda que seja desrespeitado e renegado. O fotógrafo se considera conhecedor da história indígena, e afirma que as pessoas preferem exaltar a descendência européia do que “se reconhecer” no índio. “Nos últimos 15 anos comecei a fotografar com mais intensidade as aldeias. Corremos o risco de ser esquecidos quando não somos vistos. As pessoas parecem que querem manter escondido o índio na mata, para proteger, e é pior. O que o índio quer senão o mesmo que nós? Eles querem conforto, segurança, querem estar bem e acho interessante que sejam vistos e tenham acesso ao mesmo que nós”, defende.
Viagens imersivas
A principal ideia de Renato Soares é mostrar o lado positivo do cotidiano dos indígenas, ou seja, fugir dos estereótipos. As viagens são imersivas em comunidades. O documentarista diz que parou de contar as visitas quando chegou a 60ª. “Eu só fotografo a vida de uma maneira positiva. Não mostro tristeza, não gosto disso. Quero mostrar o que tem de melhor, ajudar a ter orgulho. Sou um profissional e meu objetivo é trabalhar com eles. Tem funcionado”, afirma. Essas viagens são realizadas com recursos próprios, proveniente do que lucra com a venda das fotos. “Vendo fotos, junto o dinheiro e viajo”, resume.
Assim, para custear as caras viagens às comunidades indígenas, a venda das fotografias é feita por meio de uma agência e a maior demanda é para livros didáticos. “As pessoas perguntam por que eu não vendo mais para museus, colecionadores, mas nesses casos são mais difíceis. Já o livro didático é um dos mais especiais, pois todo mundo nas escolas vê esse livros. Assim atinjo um público ainda maior e faço com que o indígena seja reconhecido muito mais rápido”, avalia.
Soares diz que o trabalho é uma verdadeira parceria com os indígenas e que 33% da arrecadação do que é vendido das fotografias é repassado a comunidade de origem por meio das associações. Os interessados em adquirir as fotos podem entrar em contato pelo e-mail renato@imagensdobrasil.art.br.
Segundo Renato, o mais interessante para ele é perceber que os indígenas passaram a se ver com mais orgulho. “Eu sinto orgulho quando percebo que as pessoas passam a ver e entender o outro. Fotografar o outro é difícil porque você tem que ter respeito, é como se fotografasse a si mesmo. Fazer com que seja reconhecido é mais difícil ainda, não é um trabalho simples. Mas sou incansável. O mais importante é mostrar, fazer com que eles sejam conhecidos e respeitados”, conclui. O fotógrafo irá dia 15 deste mês para o Xingu finalizar um documentário.
Confira alguns dos registros de Renato Soares: