Fotógrafo de Cuiabá expõe registros inéditos de povos indígenas do Brasil

Foto: Antônio Carlos Banavita/Cedida

O produtor e documentarista de Cuiabá, Antônio Carlos Banavita, dedica-se há quase 30 anos à observação e registro dos povos indígenas da Amazônia brasileira. Desde a infância em contato com etnias do Mato Grosso, desenvolveu também gosto pela fotografia e passou a guardar momentos ímpares de suas experiências em milhares imagens. Algumas delas podem ser vistas na exposição ‘Olhar indígena‘, na Unidade Sesc Casa do Artesão até o dia 30 de novembro, com entrada gratuita.

“São quase trinta anos sempre de amizade, de admiração. Eu gosto de fotografia e gosto de índio. Eu digo que a fotografia não é uma profissão porque não vivo de fotografia, mas é um hobby que levo muito a sério. Essa exposição é uma coletânea de várias fotos de momentos diferentes. Tem fotos com 10 anos, ou 15. Não foram feitas para uma exposição”, revelou Banavita ao Portal Amazônia.

“Meu acervo é muito grande, mas quase tudo inédito, nunca tinha feito exposição, publicações em lugar nenhum. Até que uma artista, professora, me cobrou dizendo: ‘você não pode ficar com esse material só pra você. Nós merecemos e eles, os indígenas, também'”, revelou. A exposição passou por Rondonópolis antes de chegar a Cuiabá.

Com pelo menos 30 fotos, das etnias Bororo, Kamayura, Matis, Wuara, Kayapo, Rikbaktsa, Nanbikuara e Ikipeng, Banavita comenta que um dos seus objetivos com a exposição é mostrar como a cultura indígena é importante para o Brasil e para a formação da identidade do brasileiro. “Um detalhe que considero importante, é que minhas fotos não são produzidas e nem passam por nenhum ajuste digital, são impressas como foram feitas no momento do click. Tenho um olhar de documentarista, gosto de registrar as coisas acontecendo, nada com produção, nada pre ensaiado”, enfatizou.

A relação com os indígenas começou por volta dos oito anos de idade. “Quando criança, morava em uma cidade do interior, e lá tinha um povo, o Bororo. Mas a cidade, apesar de pequena, hostilizava, tratava os indígenas como se eles não fossem seres humanos. Infelizmente, ainda hoje vemos muito isso. Via eles passarem com as crianças, e ficava, no alto dos meus sete a oito anos, sem entender, como aqueles seres não eram gente. Era mais ou menos assim. E ficava olhando e pensando, mas é igual a gente. Isso me deixava intrigado, mas nunca falei disso. Não tinha entendimento para questionar, só observava com meu olhar de criança curiosa”, lembrou. Os questionamentos ficaram guardados e anos depois, com a visita de americanos à Rondonópolis, ele e o pai acompanharam os visitantes até uma aldeia. “Eu fui e não desci do carro, pois era um perigo. Era o que se falava, e perigo nada, quanta bobagem. E sempre, lia, apesar de pouca literatura boa sobre o tema, só se via esse olhar troncho da realidade dos indígenas”, afirmou.

Assim, em 1988, já na área da comunicação, Banavita conta que foi gravar uma cerimônia com os Bakairi e desse dia em diante nunca mais se afastou. “Sinto que apesar das diferenças, temos muita coisa em comum, e aprendo muito com eles”, assegurou.

Sobre a exposição, Banavita convida todos que possam ir. “Acho importante que as pessoas vejam, e que comecem a repensar alguns conceitos, mudar esse olhar. Primeiro fugir desse preconceito do índio genérico, cada um tem sua característica. E abrir a cabeça dessas pessoas, de quanta sabedoria tem nesses povos, quanta beleza na sua cultura, detalhes como, índio não se enfeita, aquilo tudo tem uma razão de ser, é uma identidade”, concluiu.

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