Celebração múltipla, congrega diversos bens culturais associados, divididos entre plano expressivo, composto pelas performances musicais e coreográficas, e o plano material, composto pelos artesanatos, como a confecção de instrumentos musicais.
O Bumba meu boi do Maranhão é uma celebração múltipla que congrega diversos bens culturais associados, divididos entre plano expressivo, composto pelas performances dramáticas, musicais e coreográficas, e o plano material, composto pelos artesanatos, como os bordados do boi, confecção de instrumentos musicais artesanais, entre outros. Em todo seu universo, destaca-se também a riqueza das tramas e personagens.
O Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão foi inscrito no Livro de Registro de Celebrações, em 2011. Em 2019, a manifestação popular recebeu da Unesco o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o bumba meu boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal, que mobilizam promessas e marcam algumas datas comemorativas.
Os cultos religiosos afro-brasileiros do Maranhão, como o Tambor de Mina e o Terecô, também estão presentes nessa celebração, uma vez que ocorre o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual. O bumba meu boi é uma festa tradicional em que a figura do boi é o elemento central, porém reúne diversas outras manifestações culturais e assim se configura como um vasto “complexo cultural”.
Muitas vezes definido como um folguedo popular, o bumba meu boi extrapola o aspecto lúdico da brincadeira para fazer sentido como uma grande celebração em cujo centro gravitacional encontram-se o boi, o seu ciclo vital e o universo místico-religioso. É vivenciado pelos brincantes ao longo de todo o ano. As apresentações dos Bois ocorrem em todo o estado do Maranhão e concentram-se durante os festejos juninos.
Seu ciclo festivo e de apresentações pode ser apreendido em quatro etapas: os ensaios, o batismo do boi, as apresentações e a morte. Comporta diversos estilos de brincar – chamados de sotaques – sem que, contudo, se tornem manifestações distintas.
Em geral, dividem-se os sotaques em cinco – baixada, matraca, zabumba, costa-de-mão e orquestra – contudo, estes estilos não são os únicos e existem ainda muitas variações, assim como os bois alternativos. Alguns aspectos intrinsecamente relacionados à celebração são o boi, a festa, os rituais, a devoção aos santos associados à manifestação, as músicas, as danças, as performances dramáticas, os personagens, os artesanatos e demais ofícios, os instrumentos, os diversos estilos (sotaques) de brincar o bumba meu boi e o caráter lúdico.
Nessa grande celebração cultural se articulam várias formas de expressão e saberes. e se confundem fé, festa e arte, em uma mistura de devoção, crenças, mitos, alegria, cores, dança, música, teatro e artesanato, entre outros elementos. Considerado a mais importante manifestação da cultura popular do Estado, tem seu ciclo festivo dividido em quatro etapas: os ensaios, o batismo, as apresentações públicas ou brincadas, e a morte.
Ciclo festivo
Em São Luís, as apresentações acontecem em arraiais distribuídos pelo Centro e bairros da cidade, em sua grande maioria coordenados pelo governo do Estado e prefeituras municipais; em casas de particulares ou em arraiais de instituições ou de entidades.
O período das apresentações é coroado por dois grandes encontros de grupos de Bumba-meu-boi: a alvorada na Capela de São Pedro, na Madre Deus, no dia 29; e o desfile da Av. São Marçal, no João Paulo, no dia 30. São realizadas apresentações públicas durante o mês de julho, de quinta-feira a domingo, como parte de um projeto de uma entidade privada com patrocínio de empresas sediadas em São Luís.
A apresentação do grupo segue, frequentemente, uma sequência orientada pelas toadas com as seguintes etapas: o guarnicê ou reunida, preparação do grupo para dar início à brincadeira, quando os brincantes se agrupam para a etapa seguinte; o lá vai, aviso de que o grupo já está saindo para brincar; o boa noite; o chegou ou licença, quando o Boi pede permissão para dançar; a saudação, uma espécie de louvação do Boi ao dono do espaço de apresentação e à assistência; a encenação do auto; o urrou, momento em que o Boi ressuscita; e a despedida, marcando o final da apresentação. Atualmente, algumas dessas etapas são suprimidas, inclusive a apresentação do auto.
Na saudação, são cantadas toadas de tema livre que podem abordar sentimentos, elogios a pessoas consideradas pelo grupo, ecologia, questões sociais e assuntos da atualidade, como crise na economia ou na política. Esse aspecto caracteriza o Bumba-meu-boi como uma revista, na qual são tratados, muitas vezes de forma jocosa, fatos atuais.
Patrimônio cultural
Em 2011, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) atribuiu o título de patrimônio cultural do Brasil ao Bumba Meu Boi do Maranhão. O primeiro passo para o reconhecimento internacional desta manifestação foi dado no início deste ano, quando o Iphan entregou um dossiê de sua candidatura ao Ministério das Relações Exteriores para concorrer ao título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, concedido pela Unesco a outras manifestações tais como o frevo e o samba.
Por todo o Brasil
O festejo Bumba Meu Boi nasceu no Maranhão há mais de três séculos e depois disseminou-se por diversos outros estados brasileiros, incorporando novos elementos de dança, música e figurino. Ao migrar do litoral para o interior do Nordeste e para as outras regiões do país, recebeu diversas denominações de acordo com o local.
É o Boi Bumbá no Amazonas e no Pará; Bumba de Reis ou Reis de Boi no Espírito Santo; Boi Pintadinho no Rio de Janeiro; e Boizinho no Rio Grande do Sul, por exemplo. Nas regiões onde esta tradição está mais arraigada, a festa do Bumba Meu Boi ocorre o ano inteiro, porém, as comemorações se concentram durante os festejos juninos.