A Cachoeira do Iauaretê é o primeiro bem imaterial a ser inscrito no Livro de Registro dos Lugares, em 2006, mas é o oitavo patrimônio imaterial brasileiro
A Cachoeira de Iauaretê, ou Cachoeira da Onça – Cachoeira de Iauaretê – Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos Rios Uaupés e Papuri – corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uaupés e Papuri, reunidos em dez comunidades, multiculturais na maioria, compostas pelas etnias de filiação linguística Tukano Oriental, Aruaque e Maku.
A cachoeira está localizada na região do Alto Rio Negro, distrito de Iauaretê, município de São Gabriel da Cachoeira (distante a 852 quilômetros de Manaus). Sua inscrição no Livro de Registro dos Lugares foi realizada em 2006. A Cachoeira do Iauaretê é o primeiro bem imaterial a ser inscrito no Livro, mas é o oitavo patrimônio imaterial brasileiro.
A região de Iauaretê é banhada pelos rios Uaupés e Papuri, que formam a chamada “cabeça do cachorro” no mapa do Brasil e delimitam um bom trecho da fronteira com a Colômbia. Também demarcam o limite oeste da Terra Indígena Alto Rio Negro, no noroeste do Amazonas. As calhas destes rios são habitadas por povos indígenas pertencentes a diversas etnias da família linguística Tukano Oriental, Aruak e Maku, distribuídos ao longo de suas margens e de seus afluentes em mais de uma centena de comunidades e povoados.
Leia também: A cidade mais indígena do Brasil: São Gabriel da Cachoeira
Cachoeira da Onça
Iauaretê é uma palavra de origem tupi, significa ‘Cachoeira da Onça’. O nome faz alusão aos primeiros moradores do local, os Yaí-Masa (palavra tukano traduzida por ‘gente-onça’), que habitavam a região no tempo em que os primeiros ancestrais dos povos indígenas chegaram. Conta-se que os Yaí-Masa começaram então a perseguir os ancestrais a fim de devorá-los, travando uma série de batalhas contra Ohkômi, ancestral do povo Tariano. Mas Ohkômi era esperto e sempre se transformava em algum animal, fruta ou objeto para fugir das investidas de seu perseguidor.
Vivendo em harmonia
As marcas dessa história são, atualmente, visíveis nos diversos acidentes geográficos que formam a Cachoeira da Onça: pedras, lajes, fendas, paranás e ilhas e cada local foi nomeado de acordo com o episódio dessas batalhas ancestrais. É o conjunto dessas marcas visíveis nas pedras que formam uma rede de pontos sagrados, distribuída num extenso trecho dos rios Uaupés e Papuri. Considerar esse local sagrado como Patrimônio Cultural do Brasil é uma forma de reconhecer a importância da memória coletiva dos povos indígenas para a formação cultural do país. É também o reconhecimento da íntima relação que há no universo indígena entre patrimônio cultural e ambiental, na conformação dessas paisagens.