Foto: Selma Carvalho
Símbolo da economia amazonense durante o ciclo da borracha, o Complexo Booth Line foi construído no século XIX e possuía um conjunto de 17 edificações que abrigavam exportadoras, companhias de navegação e até agência bancária.
Inspirado na arquitetura portuguesa, o complexo ganhou popularidade na primeira metade do século XX, durante o processo de exportação em massa do látex da borracha, feito que ocasionou em um intenso desenvolvimento da região amazônica, em especial nas cidades de Manaus e Belém.
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O termo “Booth Line” vem da companhia de navegação inglesa fundada em 1886 pelos irmãos Alfred e Charles Booth. Apesar de ser conhecido por ‘Complexo Booth Line’, a companhia abrigava apenas uma parte do ambiente.
Ao Portal Amazônia, o historiador Roger Carpinteiro Péres explica que o complexo, no qual a Booth Line estava inserido, fazia parte de um plano de embelezamento da capital amazonense.
“Esse quarteirão faz parte do plano de embelezamento da gestão do governador Eduardo Ribeiro. Ele era um quarteirão que parte dele já existia, com alguns edifícios remanescentes ainda do período provincial e uma outra parte era desocupada. Manaus vivia, em 1894, o início da República e, também, um processo de transformação na sua feição arquitetônica”, pontuou.
Edifícios no quarteirão
Dentre as empresas e companhias presentes no espaço estavam o Bank of London, Sholtz & Cia, a primeira agência de Manaus do Banco do Brasil, o Tribunal de Contas do Estado, a exportadora B.A Antunes, entre outros empreendimentos.
Além do Booth Line, outras empresas de navegação permaneceram no lugar, como Lloyd Brasileiro e Hamburg-Sudameris.
“Diversas companhias de navegação faziam a rota Manaus-Europa, Manaus-Estados Unidos, dentre elas, a que provavelmente ficou mais famosa foi a Booth Line pois permaneceu fazendo essa rota durante décadas, então ela chegou até aqui, até os nossos tempos mais atuais, e o primeiro escritório dela ficava de frente à Casa do Tesouro, lá que funcionava a Booth Line”, comentou Péres.
Revitalização
No 355º aniversário de Manaus, popularmente conhecida como “Paris dos Trópicos”, o complexo passa por um processo de restauração com investimento de R$ 150 milhões. O investimento é 100% privado.
O prédio está sob responsabilidade da Fundação Doimo, sediada em Belo Horizonte (MG), com o objetivo de se tornar um ‘Mercado de Origem da Amazônia’.
De acordo com a Fundação:
“O Mercado de Origem da Amazônia está sendo preparado para se tornar um verdadeiro centro da agricultura, artesanato, arte e cultura amazônica. A feira será o grande ponto de partida para consolidar esse projeto transformador, que busca fortalecer a economia local e valorizar as tradições da nossa região”.
O designer de interiores do projeto, Jean Almeida, em suas redes sociais, explicou:
“Este é um projeto de iluminação bem diferenciado, porque aqui a gente está falando de uma obra que é um restauro. E nada mais nada menos que a gente tem que levar em consideração todos os elementos arquitetônicos que ele já existe no espaço e elementos que a gente vai valorizar através da iluminação. Por se tratar de um projeto de restauro, a gente tem que levar em consideração cada elemento. Então a gente tem que vir a loco para realmente ver o que a gente consegue valorizar”.
Achados históricos
De acordo com André Melo, que administra uma página sobre a história de Manaus nas redes sociais, no decorrer do processo de revitalização do local, foram encontrados vestígios do modo como se realizava uma construção na Belle Époque.
“Foram encontradas conchas do mar, provavelmente vindas juntas com o óleo de fígado de baleia que era utilizado no rejunte das pedras jacaré. Nos porões foram encontradas galerias subterrâneas que não se sabia de sua existência”, contou ao Portal.
“A revitalização do Complexo Booth Line marca um passo importante na transformação do centro histórico da cidade. Além de preservar o patrimônio cultural, o projeto estimulará a economia local e criará novas oportunidades para a população, unindo o passado e o futuro da Amazônia”, completou a Fundação em resposta ao Portal Amazônia.