Armadilhas usadas na floresta para estudos que podem ajudar até na saúde humana

Com o apoio da USP e autorização do IBAMA, nossa equipe se aventurou por trilhas densas, rios caudalosos e clareiras misteriosas, sempre com olhos atentos e equipamentos prontos para registrar cada descoberta.

Por Flávio Terassini – ticksman@gmail.com

Com muito entusiasmo, embarquei numa expedição pela Amazônia para pesquisar espécies nativas e aprofundar os conhecimentos sobre doenças tropicais que afetam tanto a fauna quanto a população local. Com o apoio da USP e autorização do IBAMA, nossa equipe se aventurou por trilhas densas, rios caudalosos e clareiras misteriosas, sempre com olhos atentos e equipamentos prontos para registrar cada descoberta.

Nosso foco principal estava na investigação de doenças como o mal de Chagas e a febre maculosa, enfermidades que ainda desafiam a ciência devido à sua complexidade e à forma como se espalham pelo ambiente. Essas doenças estão diretamente ligadas a vetores, como insetos e aracnídeos, que habitam os recantos mais isolados e, muitas vezes, pouco explorados da floresta. Por isso, a pesquisa exigiu uma combinação de biologia de campo e metodologias rigorosas para coleta e estudo de espécies.

Para coletar dados e amostras de forma eficiente, montei armadilhas com diferentes métodos, desde iscas aromáticas até redes finas, destinadas a capturar insetos e aracnídeos sem lhes causar qualquer dano. Esse trabalho de campo é desafiador e, ao mesmo tempo, recompensador, pois a cada armadilha montada, a expectativa cresce: “O que será que vamos encontrar desta vez?”

Entre os encontros mais marcantes e até, digamos, impressionantes, destaco as famosas aranhas-caranguejeiras, ícones da biodiversidade amazônica. Esses animais, com suas patas longas e movimentos precisos, parecem intimidantes à primeira vista, mas têm um papel vital nos ecossistemas locais. As caranguejeiras atuam como predadoras, controlando a população de pequenos invertebrados e até alguns vertebrados, ajudando a manter o equilíbrio natural.

Diferentemente do que muitos imaginam, as aranhas-caranguejeiras da Amazônia são, na maior parte, inofensivas para os seres humanos. Seu veneno não é letal para nós, mas é essencial para caçar e digerir suas presas, como insetos e pequenos anfíbios. Curiosamente, algumas espécies de caranguejeiras que encontrei ao longo da expedição mostraram comportamentos únicos, como a habilidade de liberar cerdas urticantes de suas pernas como mecanismo de defesa, que podem causar irritação na pele e nos olhos de possíveis predadores ou curiosos descuidados.

A observação de uma caranguejeira em seu habitat natural é uma experiência que envolve uma mistura de respeito e fascínio. Esses aracnídeos se movimentam lentamente, mas, ao mesmo tempo, revelam uma postura de prontidão e agilidade. Suas cores variam do marrom escuro ao preto, com alguns reflexos brilhantes que destacam sua presença na floresta úmida e cheia de mistérios. Em uma noite particularmente silenciosa, enquanto revisava uma armadilha montada ao pé de uma árvore centenária, deparei-me com uma caranguejeira de tamanho notável. Sua calma era impressionante; parecia observar o entorno com uma espécie de curiosidade meticulosa, como se analisasse a intrusão humana com a mesma atenção que eu aplicava ao estudá-la.

No final, a expedição pela Amazônia foi uma experiência não só científica, mas também pessoal, pois permitiu um contato direto com a natureza em seu estado mais puro e um entendimento mais profundo do delicado equilíbrio entre fauna e flora que compõem esse bioma essencial para o planeta.

Sobre o autor

Ticksman é o Flávio Aparecido Terassini, biólogo, professor universitário desde 2006, mestre em Ciências pela USP e doutorando pelo Bionorte.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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