Levantamento mostra que viajar de Rondônia para estados vizinhos custa mais caro que ir para outros países. Foto: Ana Clara Marinho/TV Globo
Você sabia que viajar de Rondônia para estados vizinhos pode custar muito mais caro que embarcar para outros países? É o que mostra um levantamento feito pelo Grupo Rede Amazônica por meio da Google Flights, plataforma que monitora tarifas em tempo real.
De acordo com a pesquisa, entre março e abril de 2026, período considerado fora do “pico”, mostra que para sair de Rondônia e chegar em Boa Vista, em Roraima, por exemplo, o passageiro precisará desembolsar mais que o dobro do valor que pagaria se quisesse ir para os Estados Unidos.
Os valores de Rondônia para outros estados:
- Porto Velho → Boa Vista (RR)
Distância aproximada: 1,5 mil km
Preço: R$ 7 mil ou mais

- Porto Velho → Nova Iorque (EUA)
Distância aproximada: 5 mil km (mais de três vezes maior)
Preço: cerca de R$ 3 mil

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Outro exemplo é um voo entre Porto Velho e Macapá (AP), que chega a custar quase ou até mais do que o valor de uma viagem internacional para países como Chile ou Argentina
- Porto Velho → Macapá (AP)
Distância: 1,8 mil km
Preço: mais de R$ 3 mil - Porto Velho → Buenos Aires (Argentina)
Distância: 3 mil km
Preço: R$ 2,6 mil - Porto Velho → Santiago (Chile)
Distância: 3,5 mil km
Preço: R$ 2,6 mil
Além disso, sair para outras regiões do Brasil, como o Sul, mesmo em áreas turísticas, é mais barato do que visitar os conterrâneos do Norte.
- Porto Alegre (RS): em média, por R$ 1,7 mil
- Florianópolis (SC): cerca de R$ 2,1 mil.
Os preços citados na reportagem foram levantados no mês de novembro. As tarifas aéreas são dinâmicas e podem variar conforme a data da viagem, antecedência da compra, disponibilidade de assentos, sazonalidade e demanda.
Por que isso acontece?
O professor de Engenharia de Transportes, Evandro José da Silva, explica que os preços não seguem apenas a lógica da distância percorrida. O que pesa é o yield, indicador que mede a receita por passageiro por quilômetro voado.
Na Região Norte, poucas cidades têm grande volume de passageiros. Isso significa que rotas com baixa demanda acabam ficando muito mais caras.
“Nesta região, devido a fatores sociais e econômicos, temos poucas cidades com alta densidade de tráfego”, diz Evandro.
Rotas movimentadas, como Manaus–Guarulhos ou Belém–Guarulhos, têm preços semelhantes aos de outras regiões. Já trechos menos procurados, como Porto Velho–Boa Vista, sofrem com tarifas elevadas.
Por outro lado, passagens internacionais seguem outra lógica: companhias aéreas aplicam estratégias de Revenue Management, oferecendo promoções em voos longos para atrair passageiros. Além disso, os custos e impostos são diferentes entre voos domésticos e internacionais.
“São serviços distintos. É bem possível que a tarifa mais cara em um voo doméstico seja alta em relação a uma tarifa promocional de voo internacional”, afirma.
Resultado: um voo de 5 mil km pode ser mais barato do que um de 1,5 mil km.
Preço do combustível
O especialista aponta que os custos da aviação são amplamente globalizados, mas reconhece um item que influencia a operação na Região Norte: o combustível.
Segundo ele, o preço do combustível é maior em estados como Roraima, Rondônia e Amazonas. Isso encarece a operação, mas, segundo o especialista, não explica sozinho tarifas tão elevadas.
“Não consigo identificar fatores tão importantes que justifiquem custos maiores para as companhias aéreas”, afirma.
Falta de concorrência
O Brasil, segundo ele, enfrenta dificuldades como alta judicialização e intervenções políticas frequentes, fatores que afastam novas empresas. O professor também ressalta que, para ampliar a conectividade no Norte, é necessário fortalecer a base econômica da região.
“Temos apenas três grandes companhias aéreas e isso é um indicador de que falta atrair mais interessados. A aviação caminha junto com o desenvolvimento econômico e social. Todos colhemos os frutos de uma sociedade mais igualitária, inclusive pagando menos pelo bilhete aéreo”, afirma.
Cabotagem aérea
Uma alternativa em debate para reduzir o preço das passagens é a cabotagem aérea. A proposta, que permite a operação de trechos domésticos por companhias estrangeiras, ainda depende de alterações na legislação e segue em tramitação no Congresso Nacional.
De acordo com o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), o projeto de lei que trata do tema continua aguardando análise, assim como o requerimento de urgência apresentado em setembro, que ainda não foi apreciado pelos parlamentares.
“A abertura à cabotagem pode ampliar a concorrência, estimular a oferta de voos e reduzir tarifas, especialmente na Amazônia Legal, onde a conectividade aérea é limitada”, cita o MPor.
Enquanto isso, o governo já avançou em outra frente: a criação de uma linha de crédito para companhias aéreas via Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), com apoio do BNDES. As normas foram aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 30 de outubro, e a assinatura do contrato está prevista para a primeira quinzena de dezembro.
Caso o texto da cabotagem seja aprovado, o MPor estima um prazo de até seis meses para concluir a regulamentação complementar, que deve envolver adaptações nas normas da Anac.
O que dizem as companhias aéreas?
Em nota, a Azul afirmou que as tarifas aéreas são dinâmicas e variam conforme fatores como trecho, sazonalidade, compra antecipada, disponibilidade de assentos, oferta e demanda. A companhia também destacou que elementos externos, como variação do dólar e preço do combustível de aviação, influenciam diretamente no valor final das passagens.

A empresa orienta passageiros a comprar os bilhetes com antecedência e a manter flexibilidade de datas e horários. A Azul também recomenda considerar mais de um aeroporto quando possível, pois em períodos de maior demanda, como férias e datas comemorativas, costumam ter tarifas mais altas.
Sobre a malha aérea em Rondônia, a companhia informou que monitora constantemente o mercado e avalia possibilidades de expansão. No entanto, não há previsão de abertura de novas rotas ou aumento da frequência de voos saindo de Porto Velho.
O Grupo Rede Amazônica também entrou em contato com a Anac e as companhias aéreas Latam e a Gol, mas até a última atualização desta reportagem não obteve retorno.
*Por Amanda Oliveira, da Rede Amazônica RO
