As autoridades em saúde de Cruzeiro do Sul, interior do Acre, estão adotando medidas para controlar o foco da doença de chagas no município, após nove pessoas serem diagnosticadas com a doença na cidade.
Durante a última semana, todos os agentes de saúde da cidade participaram de uma capacitação para orientar a população sobre como se prevenir, além dos cuidados com os pacientes que apresentarem os sintomas.
O diretor técnico da Secretaria Municipal de Saúde, Lindomar Ferreira, diz que o intuito é capacitar os profissionais da cidade.
“A gente teve como meta e objetivo também trazer os nossos profissionais ao conhecimento e também tá capacitando e orientando pra que eles possam desenvolver um trabalho qualificado e também para as pessoas que precisam nas unidades básicas de saúde”, diz.
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Higiene
O açaí é um produto extraído da floresta nativa da região e gera renda para muitas famílias que vivem da produção do alimento. Para evitar impactos na economia local, a Vigilância Sanitária do município também vai atuar para garantir a qualidade do produto.
O técnico da Vigilância Epidemiológica do Estado, Advagner Prado, orienta que, para evitar a transmissão, é importante manter os cuidados com manipulação dos alimentos.
“Nós temos cinco fases pra fazer a higienização desse fruto: a primeira fase quando ele vem do setor primário, do campo, é fazer uma lavagem na água tratada. Logo depois fazer a imersão de 2 a 5 gotas de hipoclorito, num período de 20 a 30 minutos. Depois fazer a imersão da água fervente de até 10 segundos, não é necessário deixar de molho. Só colocar o fruto, faz uma contagem de 10 segundos e retira e faz o tratamento, a limpeza de fruto por fruto com água tratada. E só assim o fruto tá pronto para ser consumido, para ser batido. Também ter o cuidado nos equipamentos onde esse fruto vai ser processado. Essa mesma lavagem tem que ser nos equipamentos”, explica ele.
A coordenadora da Vigilância Sanitária de Cruzeiro do Sul afirma que os empresários que vendem o açaí serão orientados sobre as práticas de manipulação do alimento.
“Com relação ao nosso trabalho de Vigilância Sanitária, nós já estamos fazendo a busca ativa nos locais, para identificar quais são os locais que fabricam açaí. É uma parceria com os agentes de saúde, que eles vão identificar e passar os endereços pra Vigilância Sanitária, para nossa equipe ir aos locais e orientar sobre as boas práticas de manipulação”, assegura.
Casos registrados
Nove pessoas foram diagnosticadas com Doença de Chagas em Cruzeiro do Sul, interior do Acre, após participarem de uma festa de aniversário há cerca de um mês no bairro Miritizal. Ao todo, 14 pessoas buscaram atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com sintomas da doença após a festa. Cinco casos ainda estão sob análise.
A Secretaria Municipal de Saúde suspeita que a contaminação possa ter ocorrido após as vítimas tomarem dois vinhos derivados de frutas típicas da região Amazônica: açaí e patuá.
A Vigilância Epidemiológica do município segue com os estudos para esclarecer como os pacientes foram contaminados com a doença, que é transmitida pelo barbeiro. O inseto geralmente é encontrado em palmeiras e a principal suspeita é que a contaminação tenha ocorrido por meio do consumo de açaí.
Os pacientes passaram sentir os sintomas após o consumo do alimento que foi produzido por um morador do local. Alguns também se alimentaram com patoá, outro alimento extraído de palmeira que também é consumido na região.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, nenhum paciente evoluiu para quadros graves. Um deles já teve alta e oito ainda estão no hospital, mas podem receber alta a qualquer momento. As famílias estão mais tranquilas com a melhora do estado de saúde dos pacientes.
Na casa da doméstica Graciete Lima, dos onze filhos, três foram hospitalizados após exames atestarem que eles contraíram a doença. Ela também reclama dos sintomas e já passou por exames, mas os resultados foram negativos.
“Tão falando que foi do açaí né, e do patoá, mas do patoá eu não tive contato com o patoá, só com o açaí. A gente comprou aí do vizinho. Todos tomaram”, comenta ela.
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Sobre a doença
A doença de Chagas é transmitida pelo inseto conhecido como “barbeiro”. Infectado, o inseto ao picar uma pessoa sadia deposita fezes contaminadas no ferimento, permitindo a entrada do parasita Trypanosoma cruzi na corrente sanguínea.
A transmissão pode ser via oral, por meio de alimentos contaminados pelas fezes do protozoário, devido à falta de controle de higiene e de cuidados no momento do processamento. O açaí é um dos principais meios de contaminação.
Sintomas
Na fase aguda, os principais sintomas são:
- – dor de cabeça,
- – febre,
- – cansaço,
- – edema facial e dos membros inferiores,
- – taquicardia,
- – palpitação e dor no peito,
- – falta de ar.
Como os sintomas iniciais parecem com o de outras doenças, a pessoa deve procurar a unidade de saúde mais próxima para atendimento médico imediato e realizar exames.
O diagnóstico precoce é fundamental nos casos de doença de Chagas, pois quanto mais tempo leva para o paciente iniciar o tratamento, mais danos o parasito causa no organismo, principalmente no coração e sistema digestivo.
Um paciente com suspeita da doença precisa ser logo notificado e imediatamente encaminhado para exame e início do tratamento.
O paciente com Chagas deve receber medicamento específico por dois meses e permanecer sob acompanhamento pelo período de 5 anos na atenção básica municipal e, quando necessário, por especialista cardiologista, infectologista e gastroenterologista.
Por Mazinho Rogério, Hellen Monteiro, JAC 2ª edição e g1 AC — Rio Branco*