No município de Itapiranga, 69,3% dos domicílios da área urbana estão em insegurança alimentar.
“Identificar, estimar e analisar a prevalência de insegurança alimentar (IA) e de insegurança hídrica (IH) domiciliar em um município do médio Amazonas, e os fatores associados, no contexto da pandemia da Covid-19″ foi o objetivo principal da pesquisa desenvolvida por Mayline Menezes da Mata, docente do curso de Nutrição do Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB), situado em Coari, para o curso de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para desenvolver o estudo, Mayline partiu de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2004 a 2013, que apresentou bons resultados quanto ao declínio de todas as formas de insegurança alimentar, e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2017-2018, que mostraram uma tendência de crescimento da IA no país (36,7), principalmente, em sua forma grave, a fome.
“Ressalta-se que tal agravamento ocorreu anteriormente à pandemia da Covid-19, em decorrência de um conjunto de políticas pautadas na austeridade fiscal, iniciadas em 2013, com cortes orçamentários que fragilizaram as políticas sociais, de redução da fome, da miséria, da segurança alimentar e nutricional, violando direitos básicos, entre eles o direito humano à alimentação adequada (DHAA) e o direito à água para consumo humano”, registra a pesquisadora.
Segundo a doutora, já em 2020 foi possível verificar a maior intensidade em relação ao nível de IA no Brasil, quando se constatou que 116,8 milhões de brasileiros conviviam com algum nível de fome conforme dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil. “Destaco que essa pesquisa é inédita, é a primeira a abordar a experiência da insegurança alimentar e da insegurança hídrica de modo inter-relacionado no Brasil. Acreditamos que a pandemia pode ter ampliado a IA, dado o conjunto de medidas anteriormente adotadas no Governo Temer e agravadas no Governo Bolsonaro. Considerando que na pandemia a renda foi fortemente comprometida, importante marcador da IA”, informa.
De acordo com a pesquisa, a fome atinge a população brasileira de maneira distinta, sendo as regiões Norte e Nordeste as mais afetadas. Já em relação à insegurança hídrica (IH), em 2020, 12% da população brasileira sofreu com o problema, tendo a região Norte como maior afetada, mesmo tendo a Bacia Amazônica em seu território.
Metodologia
Para análise da insegurança alimentar, foi utilizada a Ebia, Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, é uma escala binária (sim ou não) que permite classificar os domicílios em segurança alimentar e insegurança, bem como classificar em níveis, leve, moderado ou grave. Leve quando há preocupação com a eminência da falta de alimentos no domicílio, a moderada refere-se à restrição quantitativa e a grave é condição da fome.
Já para a análise da insegurança hídrica, utilizamos uma escala de experiência denominada HWISE (The Household Water Insecurity Experiences Scale), composta por 12 itens, que possibilita classificar o domicílio em situação de segurança ou insegurança hídrica. A escala é recente, foi desenvolvida e validada para 27 países do Sul Global.
A pesquisa envolve dois tipos de dados, secundários, obtidos em bancos públicos e dados primários. A coleta de dados primários foi no período de agosto a novembro de 2021 e os dados secundários de agosto a dezembro de 2021 com 1143 famílias do município de Itapiranga das áreas urbana e rural. Os dados secundários serviram para compreendermos a magnitude do problema do acesso/distribuição da água no estado do Amazonas.
Conclusão
Os resultados apontaram que IH exerce forte influência sobre a IA, principalmente na situação mais grave, a fome. No município de Itapiranga, 69,3% dos domicílios da área urbana estão em insegurança alimentar, sendo:
30,8% em Insegurança alimentar Leve
32,6% em insegurança alimentar moderada
36,7% em insegurança alimentar grave
Segundo a pesquisadora, um resultado importante para destacar, é a prevalência de insegurança hídrica na área urbana do município de Itapiranga, 46,2%.
“Verificou-se que a IA e IH estão inter-relacionadas, mediante a análise estatística, aplicamos o modelo de regressão logística multinomial, assim, conseguimos afirmar que a IH está independentemente associada a IA, e que nos domicílios onde há IH maior é chance da forma grave. Logo, a IH influencia a IA, sobretudo a sua forma grave”,
revelou.