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A Ayahuasca é um chá feito a partir da infusão de duas ervas amazônicas – o cipó de Mariri (Banisteriopsis caapi) e as folhas de Chacrona (Psychotria viridis) – que é muito utilizado em rituais religiosos. A combinação de ervas possui potenciais alucinógenos e são essenciais em cerimônias criadas por antigas tribos amazônicas.
Segundo a crença, o chá promove uma expansão da consciência para encontrar respostas para angústias. A pessoa que ingerir a infusão das ervas terá uma espécie de “miração”, como é chamado no ritual, e poderá encontrar a solução para os problemas durante o processo.
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Atualmente existem três religiões principais que realizam a ingestão do chá para os rituais com a Ayahuasca: o Santo Daime, a União do Vegetal e a Barquinha. As três possuem diferentes vertentes religiosas, porém encontram no consumo do chá durante os seus rituais uma forma de expansão da consciência e autoconhecimento.
Na composição das ervas do cipó e as folhas, há o DMT (dimetiltriptamina) e beta-carbolinas, que funcionam como agonistas – um fármaco que possui afinidade com um receptor influenciando no resultado de uma ação bioquímica – nos receptores de serotonina, aumentando seu nível no cérebro. A serotonina é popularmente conhecida como um ‘hormônio regulador do humor’, proporcionando bem-estar e prazer.
De acordo com o artigo ‘Potential therapeutic use of ayahuasca: A literature review’, ensaios clínicos abertos, realizados em uma unidade de internação psiquiátrica, apresentaram resultados em humanos de redução significativa nos escores depressivos, devido a presença de beta-carbolinas, que diminuem o inibidor de serotonina, ocasionando no aumento desse ‘hormônio’.
Alterações no metabolismo da serotonina após o consumo de Ayahuasca resultam na inibição da MAO (monoamina oxidase), que é responsável por danificá-la, o que resulta no acúmulo de serotonina no cérebro. Logo, segundo o artigo, o aumento dos níveis de serotonina são resultados positivos da ingestão da Ayahuasca, ou Huasca, podendo ser uma alternativa para pessoas em tratamento de depressão e ansiedade.
Há também pesquisas no uso do chá de Ayahuasca para o tratamento de dependências em outros psicoativos, como o álcool. Nos experimentos realizados em camundongos os resultados se mostraram positivos, a partir da ingestão de etanol nos animais, o chá de Huasca mostrou-se capaz de atenuar significativamente o desenvolvimento da sensibilidade comportamental induzida por etanol, sem afetar a atividade locomotora espontânea.
Pesquisa ainda é limitada
Entretanto, devido a questões ideológicas e políticas, o tratamento terapêutico com Ayahuasca não é permitido pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), sendo permitido apenas para rituais religiosos. Logo, não é possível, eticamente, realizar mais testes.
Segundo a psicóloga clínica Alcilene Moreira: “embora alguns estudos indiquem potenciais benefícios da Ayahuasca no tratamento de ansiedade e depressão, é fundamental ressaltar que a pesquisa nessa área ainda é limitada e os mecanismos de ação exatos não são totalmente compreendidos”.
Ainda de acordo com Alcilene, “a Ayahuasca é uma substância complexa com efeitos psicodélicos e pode desencadear experiências intensas e desafiadoras”, por isso, os efeitos mais apresentados da infusão, de acordo com diversos relatos, são mudanças na percepção de tempo, de cores, de luminosidade e de realidade.
Também pode causar alterações da memória; náuseas e vômitos; dificuldade de concentração; dificuldade de comunicação e entre outros. Porém muitos fatores influenciam nos efeitos, podendo ser variáveis de pessoa para pessoa, alerta a psicóloga.
Alcilene afirmou que “existem relatos de pessoas que pontuam os benefícios da Ayahuasca no tratamento de dependências, mas as evidências científicas ainda são insuficientes para afirmar que seja um tratamento eficaz e seguro”.
A especialista alerta que “a Ayahuasca pode induzir experiências profundas que levam à reflexão sobre o uso de outras substâncias, mas não há garantias de que isso resulte em uma mudança duradoura no comportamento”.
*Com informações do artigo ‘Panorama Contemporâneo do Uso Terapêutico de Substâncias Psicodélicas: Ayahuasca e Psilocibina‘
**Por Heloíse Bastos, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar