Insegurança alimentar no contexto amazônico é discutida por pesquisadores e gestores públicos

Segundo o estudo, a grande maioria de lares chefiadas por pessoas autodeclaradas pardas ou pretas no Brasil sofre com a fome.

Dados do II Inquérito de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (II VIGISAN), desenvolvido pela Rede de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), indicam que mais de 15 milhões de brasileiras(os) viviam sob formas mais severas de insegurança alimentar entre novembro de 2021 e abril de 2022.

Isto significa que essas pessoas estavam sujeitas ao uso de estratégias social e humanamente inaceitáveis para obtenção de alimentos violando a sua dignidade e seu direito humano à alimentação adequada.

Nas regiões Norte e Nordeste, que concentram a população com menor renda do Brasil (conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é onde se encontrava o maior percentual de famílias em situação de fome. No início de 2022, as famílias cujos responsáveis se identificavam como pretos ou pardos eram proporcionalmente mais afetadas pela insegurança alimentar.

Essas e outras questões foram discutidas no I Encontro da Amazônia Legal de Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional, realizado nos dias 24 e 25 de julho de 2024, no auditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará (ICSA/UFPA).

A comunidade acadêmica, gestores públicos e diversos atores reuniram-se com o objetivo de identificar elementos para a criação de uma agenda de pesquisa voltada ao campo da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional na Amazônia Legal. 

Fotografia posada da professora Sandra Maria Chaves. Ela é uma mulher negra, de cabelos brancos, cacheados e curtos. Ela veste uma blusa na cor laranja e uma calça na cor preta. Usa colar tradicional indígena e brincos na cor dourada.
Foto: Heloísa Torres

Além da professora Sandra Chaves (UFBA), desejaram boas-vindas às(aos) participantes a professora da Faculdade de Nutrição da UFPA, Nadya Alves-Santos; a diretora do Departamento de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Patrícia Chaves Gentil; a representante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), Maria Alídes Sousa; e a coordenadora de portfólio do Instituto Ibirapitanga, Manu Justo.

Após a mesa de abertura, foi realizado o painel Insegurança alimentar e nutricional no Brasil e na Amazônia Legal: situação recente, determinantes e desafios, no qual foram apresentados os principais dados do II VIGISAN. 

Segundo o estudo, uma em cada cinco famílias chefiadas por pessoas autodeclaradas pardas ou pretas no Brasil sofre com a fome (17% e 20,6% respectivamente), o dobro em comparação aos lares chefiados por pessoas brancas (10,6%). Quando se considera o gênero: 22% dos lares chefiados por mulheres autodeclaradas pardas ou pretas sofrem com a fome, quase o dobro em relação a famílias comandadas por mulheres brancas (13,5%).

A fome também foi uma realidade para 23,8% das famílias que tinham crianças menores de 10 anos de idade e eram chefiadas por mulheres negras. Neste grupo, apenas 21,3% dos lares encontravam-se em segurança alimentar, menos da metade do que foi encontrado nos lares chefiados por homens brancos (52,5%) e quase metade do que ocorre nos domicílios chefiados por mulheres brancas (39,5%).

“Os dados revelam a desigualdade social do Brasil. As evidências científicas produzidas pelo II VIGISAN são importantes para o planejamento de políticas públicas relacionadas à saúde, à produção de pobreza e ao combate à fome e à miséria da população brasileira”, afirmou a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rosana Salles da Costa, que é responsável pela avaliação da Escala Brasileira de Segurança Alimentar no diagnóstico de Insegurança Alimentar em estudos populacionais.

O evento ainda contou com outros dois painéis: Desafios e perspectivas para a Soberania e Segurança Alimentar Nutricional na Amazônia Legal Brasileira: um olhar a partir dos Estados; e Fome, Crises e apontamentos na Amazônia Legal. A programação contou também um mostra de experiências em soberania e segurança alimentar e nutricional na Amazônia Legal e reunião de grupos de trabalhos.

*Com informações da UFPA.

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