Denúncias mostram que indígenas são internados em barraco de lona na TI Yanomami

Território Yanomami vive crise sanitária na saúde. Procurado, o Ministério da Saúde informou que "está ciente da realidade".

“Não tem estrutura de internação […] Me preocupa muito”. É o que afirma a liderança Yanomami Xicão Yanomami, de 31 anos, da região do Parima, sobre um barraco de lona usado para internação de indígenas doentes no posto de saúde do local, na Terra Indígena Yanomami.

Um vídeo feito por ele e enviado à Rede Amazônica no dia 11 de junho mostra as condições precárias, onde os indígenas aparecem em redes debaixo do espaço de madeira improvisada, lona e chão batido. O local fica a poucos metros da Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) do Parima.

Procurado, o Ministério da Saúde informou que “está ciente da realidade da estrutura da UBSI da região de Parima e que dentro do projeto de reestruturação das estruturas de saúde na TI Yanomami, a ela é uma das unidades consideradas como prioridade para receber adequações para melhor atender à população indígena”.

Justificou ainda que não há desassistência, visto que em território são realizados apenas os primeiros atendimentos inerentes à atenção primária de saúde e, em caso de necessidade de internação, foi garantido pelo governo federal logística suficiente para a remoção dos pacientes e tratamento em local com suporte adequado.

A unidade, segundo Xicão Yanomami, atende a indígenas que vivem em seis comunidades na região: Makabey, Xaruna, Wanapik, Kahosik, Macuxiano, Parima. Há pelo menos 10 anos os indígenas cobram melhorias no local, segundo a liderança.

“Até agora não deram resposta sobre fazer uma estrutura de hospital de internação aqui para o meu povo. Me preocupa muito, por isso eu estou fazendo esse trabalho [denúncia] para que venha alguém fazer uma estrutura para que meus parentes fiquem internados e fazer um tratamento melhor”, disse Xicão Yanomami.

No relato, Xicão afirma que o posto tem remédios para atender os indígenas, mas o que preocupa é a falta de espaço adequado para internar os pacientes.

A Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial e enfrenta uma crise sem precedentes, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa. A crise foi agravada pelo avanço do garimpo ilegal, principalmente nos últimos anos.

Além de melhorias na estrutura, o líder indígena cobrou do governo federal um técnico de laboratório fixo na unidade de saúde. Isto porque, segundo ele, os exames precisam sair da comunidade para análise, o que dificulta no diagnóstico rápido de doenças como malária e tratamento dos indígenas.

Foto: Reprodução/g1 Roraima

“O pessoal da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] manda [técnico de laboratório], eles ficam 15 dias e voltam de novo. Fica muita gente sem fazer coleta de exame. Aqui já teve sete casos de morte de tuberculose. Isso é uma preocupação grande muito também”.

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, informou que acompanha a situação junto à Secretaria e Distrito Sanitário Especial Indígena (Sesai) e informou que está na lista de prioridades a construção de um local de internação no posto do Parima.

Terra Yanomami

O território está em emergência sanitária na saúde desde janeiro do ano passado. A medida foi decretada pelo governo federal para levar atendimento de saúde aos indígenas e também para retirar garimpeiros da região.

Mesmo com o enfrentamento, um ano após o governo decretar emergência, o garimpo ilegal e a crise humanitária permanecem na região.

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) estima que cerca de sete mil garimpeiros ilegais continuam em atividade no território. O número de invasores diminuiu 65% em um ano, se comparado ao início das operações do governo federal, quando havia 20 mil invasores no território.

*Por Lucas Wilame e Samantha Rufino, da Rede Amazônica AP

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