A alimentação e a nutrição inadequadas são responsáveis por até 20% dos casos de câncer nos países em desenvolvimento, como o Brasil.
Em 2017, a Lei nº 8.535 instituiu o dia 28 de setembro como o Dia Estadual de Conscientização e Orientação Sobre o Câncer de Estômago. A criação da data tem por objetivo esclarecer a sociedade sobre a doença que é o segundo tipo mais incidente em homens e o terceiro em mulheres no Pará. As preocupações previstas nos objetivos da lei são fundamentadas num problema de saúde pública que no Pará tem forte ligação com o padrão alimentar da população.
A alimentação e a nutrição inadequadas são responsáveis por até 20% dos casos de câncer nos países em desenvolvimento, como o Brasil, e por 35% das mortes por câncer. O cirurgião oncológico do Centro de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital Ophir Loyola, Alessandro França, alerta que uma dieta não balanceada é um dos principais motivos para a elevada taxa de incidência na região, onde ocorre o alto consumo das nitrosaminas, substâncias potencialmente cancerígenas.
“As refeições têm como base a proteína salgada como carne de sol, camarão, charque, peixe e aqueles conservados em salmoura, a mandioca e os carboidratos. Somando-se a isso, o consumo irregular de fibras, verduras, legumes e frutas frescas prejudica a ingestão de vitaminas e sais minerais que protegem a estrutura celular”, explica.
Os residentes na região do salgado são os mais afetados. “As pessoas que se alimentam com alimentos ricos em nitritos e nitratos (alimentações conservadas em sal) apresentam um risco bem maior. Tanto que pessoas destas regiões que se mudam para outras áreas acabam diminuindo o risco de ter câncer de estômago pela mudança às exposições ambientais”, frisa.
O câncer gástrico é mais frequente no sexo masculino, uma realidade que não é peculiar dos paraenses, mas afeta todo o planeta. “Isso não ocorre devido a diferenças genéticas entre os sexos e sim porque o homem se expõe mais aos riscos para adquirir essa neoplasia”, esclarece.
Prevenção e tratamento
A doença é multifatorial, além da dieta, o excesso de peso, a obesidade, o tabagismo, o consumo de álcool, a ingestão de água proveniente de poços com alta concentração de nitrato, ter parentes de primeiro grau com histórico da doença e infecções a longo prazo pela H. Pylori pode causar o câncer de estômago.
O diagnóstico é feito pela endoscopia digestiva alta e biópsia. Em caso de tumor pequeno e localizado, as chances de cura chegam a 90%. Porém, nos primeiros estágios se apresenta de forma inespecífica e pode ser confundido com outras doenças como gastrite, úlceras pépticas e doenças de refluxo.
O tratamento, geralmente, é cirúrgico e tem a radioterapia e a quimioterapia como adjuvantes, mas nunca são usadas isoladamente como tratamento curativo. A cirurgia é capaz de curar o paciente eliminando o câncer, desde que o mesmo seja diagnosticado precocemente. Em fase inicial (bem avaliada) pode ser realizada a ressecção por endoscopia, mas essa não é a realidade no estado. O alívio proporcionado pela automedicação durante os primeiros sintomas faz com que a procura por assistência médica seja tardia, reduzindo a possibilidade de cura.
“Os sintomas quando se manifestam, como sangramento (que pode ocorrer em patologias benignas), perda de peso ou a dor com intensidade muito forte, normalmente, o câncer está em estágio avançado. Quando esses sintomas se tornam irremediáveis ou bem mais evidentes é que as pessoas em geral procuram atendimento médico. Por isso a importância do diagnóstico precoce que permite melhores resultados”, destaca o cirurgião oncológico.