Ariquemes, a cidade que deu origem a outros 7 municípios em Rondônia

Planejada no final da década de 1970, Ariquemes possui avenidas largas e leis estaduais a fizeram ceder parte da sua área territorial para a criação de mais municípios no Estado

A terceira maior cidade de Rondônia, Ariquemes, foi planejada pelo arquiteto da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em desenvolvimento urbano pela Universidade de São Paulo (USP), Antônio Carlos Cabral Carpintero. O  município foi fundado em 21 de novembro de 1977 e seu nome é uma homenagem a tribo extinta de indígenas Arikeme, habitantes originais da região, que falavam o ‘txapakura’, pertencente ao tronco linguístico tupi. 

A cidade cresceu com base na migração, com muitos migrantes do Rio Grande do Sul e Paraná. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2021, o município possui mais de 111 mil habitantes atualmente.

Por volta de 1794, o Vale do Jamari, onde surgiu o núcleo que deu origem ao município de Ariquemes, era conhecido pela abundância de suas especiarias nativas, destacando o cacau e o látex da seringueira. A região habitada por extrativistas e índios possuía vários seringais, principalmente o Seringal Papagaios. Nessa época, a Amazônia era desconhecida.

A ocupação do Vale do Jamari ocorreu por volta de 1900, principalmente durante o primeiro ciclo da borracha, mas sua ocupação efetiva começou a partir de 1909 com a construção da linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antônio do Rio Madeira, uma maratona de muito trabalho e sacrifício, cuja expedição era chefiada pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, em sua terceira viagem pela Amazônia.

Foto: Reprodução/Arquivo/Yes Mania

Em 1915, essa região foi delimitada pela Resolução nº 735, de 6 de outubro, e denominado 3º Distrito do município de Santo Antônio do Rio Madeira.
O 1° Ciclo da borracha foi um período de grande migração nordestina, com os migrantes ocupando terras e extraindo riquezas naturais, especialmente o látex da borracha, de grande procura internacional por conta da 1° guerra mundial e do crescimento da indústria automobilística.

Nas aldeias construídas em pequenas clareiras abertas na mata, indígenas Arikeme plantavam roças de milho, macaxeira, batata doce, cará, algodão, e produziam farinha e cauim [bebida cozida e fermentada]. Antes do contato eles habitavam malocas retangulares com tetos bastante altos e saídas dos dois lados. Mais tarde as malocas foram se tornando minorias, predominando casas de madeira cobertas com telhas de amianto, prática introduzida pela Funai, segundo relato do Instituto Socioambiental (ISA).

A 200 quilômetros da capital Porto Velho, a cidade teve 19 projetos de assentamento entre 1974 e 2015, e recebeu 8,6 mil famílias. Com grande parte delas foi possível a criação de novos municípios.

Foto: Reprodução/Drone Ariquemes

O historiador Washington Heleno Cavalcante lembra que, em 1914, marechal Cândido Rondon resolveu criar um posto indígena que protegesse os Arikeme, à margem esquerda do Rio Jamari. O posto homenageou o ministro Rodolpho Miranda, que o havia convidado para chefiar o antigo Serviço e Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (vinculado ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio). Tinha 4,1 mil hectares e mais tarde fora ampliado para 90 mil ha.

Em 11 de outubro de 1977, a Lei nº 6.448 determinou a emancipação política de Ariquemes, atualmente com 4.427 mil quilômetros quadrados de extensão. O município foi instalado 41 dias depois, em 21 de novembro.

Mas leis estaduais o fizeram ceder parte da sua área territorial para a criação de mais municípios: 

  • Jaru: através da Lei nº 6.921, de 16 de junho de 1981
  • Machadinho d’Oeste: através da lei nº 198 de 11 de maio de 1988
  • Itapuã do Oeste: através da lei nº 364 de 13 de fevereiro de 1992
  • Alto Paraíso: através da lei nº 374 de 13 de fevereiro de 1992
  • Cacaulândia:  através da lei nº 375 de 13 de fevereiro de 1992
  • Monte Negro: através da lei nº 376 de 13 de fevereiro de 1992  
  • Rio Crespo: através da lei nº 378 de 13 de fevereiro de 1992

Há também o Garimpo Bom Futuro, um dos distritos do município com aproximadamente 2.500 habitantes, em 2018. Estima-se que cerca de 30 mil garimpeiros tenham colaborado com o primeiro lugar do Brasil na exploração do minério entre os anos de 1988 a 1990, que é localizado a 95 km de Ariquemes.

Garimpo Bom Futuro

Antigamente, o município de Ariquemes abrangia desde a margem esquerda do Rio Jaru até a linha 105 do projeto Marechal Dutra. Nela se situa o Garimpo Bom Futuro, considerado a maior reserva mundial a céu aberto de minério de estanho (cassiterita). Nos anos 1970, as reservas eram exploradas por grupos multinacionais, hoje, todo minério é extraído e comercializado por cooperativas.

No auge de sua exploração, o Bom Futuro reuniu cerca de 5 mil pessoas, das quais, uns 500 requeiros, mulheres e crianças sem amparo trabalhista. Desse contingente, 30% eram analfabetos e os outros 70% não tinham concluído o 2° grau.

A malária sempre atacou na região, e o número de homicídios logo no início chegou a dez por semana, entre 1987 e 1989. Mais de 400 mulheres se prostituíam no garimpo, o que fez aumentar o índice de doenças sexualmente transmissíveis e o consumo de drogas.

“Ainda no ano de 1914, os Arikemes foram transferidos de sua área de convívio, o rio Massangana, para o Posto Indígena Rodolpho Miranda. Dos 600 indígenas localizados pela Comissão Rondon em 1909, restavam apenas 60”, escreve Washington Cavalcante. “Após o pedido de Rondon, a abertura das aldeias Arikeme para o homem branco causou vários danos: sífilis, prostituição, aculturação, moléstias urbanas, raptos de crianças, casamento com não índios, todos responsáveis pela dizimação da etnia”, prossegue.

“Agora, o Posto Rodolpho Miranda apresentava-se como esperança de perpetuação do grupo. No dia 4 de fevereiro de 1918 o jornal Alto Madeira veicula uma matéria intitulada ‘Promissor início de proveitosa proteção aos nossos aborígenes’, apresentando os inúmeros benefícios trazidos pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio). Dentre as benfeitorias divulgadas pelo jornal em 1918 podemos claramente perceber um imaginário de catequização dos indígenas pelo SPI, uma vez que ao Posto Rodolpho Miranda contava com uma escola primária, uma ateliê de costura, uma oficina de marcenaria, um engenho de cana com capacidade para cinco toneladas por dia, atividades propriamente desempenhadas pela sociedade não indígena”, acrescenta.

Em 1975, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Governo do Território e Prefeitura de Porto Velho iniciaram os projetos de assentamento dirigido Marechal Dutra e Burareiro. No entanto, já em 1972, o Incra havia enviado técnicos à região do Jamari para estudar a desapropriação de terras públicas nas quais nasceram o Marechal* e o Burareiro**, o primeiro para incentivar a cultura cafeeira, o segundo para lavouras de cacau.

Cada assentado no Burareiro (5º grande projeto do Incra em Rondônia) recebia um lote de 250 hectares, enquanto o lotes do Marechal media 100 hectares. Entre 1975 e 1977 entravam no território federal 3.150 famílias, a maioria desembarcando de caminhões paus-de-arara e de ônibus. De 1974 a 1996, os dois projetos assentaram 4.832 colonos, com autorizações de ocupação e títulos definitivos.

* Marechal Eurico Gaspar Dutra foi um militar cuiabano que se tornou o 16º presidente brasileiro, pelo Partido Social Democrático, que governou de 31 de janeiro de 1946 até 31 de janeiro de 1951.

** Na Bahia, burara é a tradução do tupi ymbyrá rá, “madeira que se solta”, ou “árvore caída na estrada”.  

Com informações do Governo de Rondônia e da Câmara de Ariquemes

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