Um alemão na Amazônia

O etnólogo passou por Manaus (AM) e Boa Vista (RR) relatando sua experiência.

O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924) quando desembarcou no porto da cidade de Manaus em 27 de maio de 1911 ficou surpreso com a modernização do porto e escreveu no seu diário: “O porto está irreconhecível. A Companhia Manaos-Harbour modernizou o porto por completo. Os transatlânticos podem atracar imediatamente nas pontes pelas quais se desembarca facilmente”.

Além da surpresa com as obras do porto, Theo Koch escreve sobre as mudanças na cidade de Manaus. “O centro da cidade mudou pouco, foram construídos alguns palácios e salas de cinema, sementes da cultura moderna. Pelas ruas toscas correm e saltam os automóveis. Fora isso, a vida é trabalhosa, porém leve e aventureira como há oito anos”. Refere-se a sua primeira viagem pela Amazônia nos anos 1902/1903.

Theodor Koch-Grünberg in Manaus (Brazil), 1903. (VK Mr KG_H_VIII) – Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/157039

Uma curiosidade anotada no seu diário é que “após intermináveis diligências e graças aos esforços do meu querido amigo Moers, um dos mais antigos membros da colônia alemã, e a benevolência das autoridades brasileiras, recebi minha bagagem de trinta e cinco volumes sem que fossem abertos na Aduana”. Ou seja, não é de hoje esse tipo de facilidade. Mesmo sendo ele um cientista, um pesquisador, esse tipo de benevolência das autoridades brasileiras revela uma postura colonizada, ilegal e servil.

No dia 16 de junho de 1911, a bordo da lancha “Macuchy”, Theo Koch zarpa com destino ao rio Branco. É nessa lancha que ele ouve música pela primeira vez. “Para festejar o momento nossa ‘orquestra’ toca sanfona, violão e um belo e estremecedor trompete”. É interessante esse relato porque essa formação musical, sanfona/violão/trompete, não se sabe se foi acidental, ocasional ou se era uma formação já consagrada. Uma lancha que servia de rebocador para o batelão Mucuripe, levava uma ‘orquestra’ formada por três instrumentos musicais. Não há no seu diário informação sobre o repertório. Como não há referência sobre alguém cantando, tudo indica que era um trio de música instrumental.

Dias depois, quando desembarca em Boa Vista, o pesquisador alemão voltará a ouvir música. Levado pelo comandante da lancha para um baile na casa de Terêncio Antônio de Lima, não gostou do que ouviu. “A festa era uma coisa bastante tediosa, como todas desse tipo. Não tem nada de original: danças europeias, valsas, mazurcas, quadrilhas, como se fossem nós. A ‘orquestra” da festa é composta por violão, flauta e um gramofone”. E para deixar registrado seu desprezo, ele escreve: “a única vista realmente reconfortante é de uma cachorra que se acomoda durante uma pausa da festa na sala, para amamentar seu filhote”.

Sobre o autor

Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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