Teatro Carlos Gomes

Aberto para o público em 1988, foi o palco do show Roraimeira por mais de dez anos. Sem o Carlos Gomes não seria possível realizar o que realizamos.

Hoje pela manhã concordei em conceder uma entrevista para um canal de televisão sobre o que parece ser, finalmente, a obra de reconstrução do Teatro Carlos Gomes. Abandonado e em ruínas há mais de uma década, é um espaço cultural histórico da cidade de Boa Vista e durante anos foi nosso único teatro. Embora seja uma construção com pouco mais de 60 anos, o Teatro Carlos Gomes ficou fechado quase a metade desse tempo. Um descaso inominável.

Teatro Carlos Gomes – Foto: Eliakin Rufino.

A repórter me pergunta se tenho alguma história interessante pra contar sobre o Teatro. Um filme passa na minha cabeça Tenho tantas histórias que não caberiam nos poucos minutos da reportagem. As primeiras histórias datam do final dos anos 60 e início dos 70. Eu frequentava semanalmente o programa do jornalista, professor e apresentador Jaber Xaud. Uma banda, formada por músicos profissionais, acompanhava as atrações musicais e o programa de calouros. Jaber Xaud perguntava quem escreveu O tempo e o vento, quem acertava ganhava um brinde.

Houve um momento em que o auditório foi transformado em um cinema. A primeira sala com ar refrigerado de Boa Vista. Lembro que o anúncio na rádio convidava o público para sentir o ar da montanha durante a sessão de cinema. Vi muitos filmes nesse cinema, lembro do alvoroço do público para ver A Noviça Rebelde. Artistas de Manaus se apresentavam no Carlos Gomes, entre eles o ventríloquo Oscarino Farias e seu boneco Peteleco. O Peteleco é o primeiro artista negro a fazer sucesso em Boa Vista.

Teatro Carlos Gomes – Foto: Eliakin Rufino.

E as lembranças mais recentes datam dos anos 80 quando, após anos de abandono, conseguimos que o governador da época, Getúlio Cruz, primeiro roraimense a governar Roraima, fizesse uma reforma completa e re-inaugurasse o Teatro. Aberto para o público em 1988, foi o palco do show Roraimeira por mais de dez anos. Sem o Carlos Gomes não seria possível realizar o que realizamos. Foi lá que gravamos, em abril de 2000, o primeiro CD gravado ao vivo em Roraima: O canto de Roraima e suas influências indígenas e caribenhas. Essa foi a lembrança que escolhi para responder a pergunta da repórter.

Eu já concedi inúmeras entrevistas sobre o abandono do teatro. Mas hoje pela manhã, a equipe de TV e eu, estávamos diante de uma cena nova: a presença de trabalhadores. Por enquanto eles se ocupam com a retirada do lixo acumulado após anos de abandono. Uma placa, na rua, em frente ao prédio em ruína, exibe em caixa alta a frase: “Aqui tem obra”. Espero que seja obra de arte. Porque eu já vi esse filme antes. Parece que vai rolar a reforma, ergue-se um tapume. A Casa de Cultura está oculta por um tapume há alguns anos. Aqui tem obra de tapume. Falta mesmo é obra de verdade. Estou, mais uma vez, esperançoso. Não permita Deus que eu morra sem entrar no Carlos Gomes! 

Teatro Carlos Gomes – Foto: Eliakin Rufino.

Sobre o Autor 

Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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