Eu sou Panc

O livro ‘Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil – guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas’ é uma verdadeira descoberta do Brasil.

Ontem, terça-feira, 18 de abril, final de tarde, sentei na minha cadeira preguiçosa para relaxar e liguei a TV no Amazon Sat. No ar, o programa Sítio Panc, apresentado pelo pesquisador Valdely Kinupp (toda sexta, 12h). O episódio, que estava sendo reprisado, é sobre o Cosmo-amarelo (Cosmos sulphureus) “uma hortaliça florífera e folhosa comumente cultivada como ornamental e em algumas regiões tornando-se espontânea”. Trata-se de uma PANC – Planta Alimentícia Não Convencional. O programa está disponível no Youtube, no canal do Sítio Panc. Já são 90 episódios disponíveis para quem quer (re)conhecer novas plantas e novos sabores.

Valdely é o autor do livro. Foto: Juliana Neves/Amazon Sat

Valdely Kinupp publicou em 2015, em parceria com Harri Lorenzi, o livro ‘Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil – guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas’. Um livro que é uma verdadeira descoberta do Brasil. “E não é uma tarefa tão simples… logo trabalhamos com uma lista grande de cerca de 600 espécies e incluímos as 351 mais promissoras que conseguimos fechar primeiro. As demais ficam aguardando sua oportunidade”, ele explica no prefácio. E pra quem pensa que 351 ainda é pouco, o autor informa que “90% do alimento mundial atualmente vêm de apenas 20 espécies”. Uma pobreza.

Ganhei o livro de presente da minha filha Odara, no ano em que foi lançado e virou meu livro de cabeceira. Ou melhor, meu livro de cima da mesa, de consulta permanente. Como ganhei o livro de presente, tenho também presenteado, indicado, citado, recomendado. É preciso sair não só da monotonia alimentar mas principalmente da alimentação colonizada. O livro mostra que a ‘erva daninha’, o mato da horta, são alimentícios, são saborosos, são nativos, são autóctones.

Foto: Eliakin Rufino/Acervo pessoal

O livro sempre me leva para o quintal da minha infância. Havia erva-de-jabuti por todo o quintal mas não ia para nossa mesa. Minha mãe, na época, não sabia o potencial da Peperômia. Ela está na página 592 do livro. Como era costume ter alguns jabutis no quintal, a erva-de-jabuti era servida para aqueles que o próprio nome da erva indicava. Mas mamãe já sabia e nós consumimos durante toda a infância o cariru, que está na página 684 do livro. A erva-de-jabuti nunca vi na feira, mas o cariru é oferecido regularmente. Como diz o autor, come couve quem quer. Quem ainda não tem o livro.

O livro tem me ajudado muito na minha tarefa diária de cozinhar. Passei a incluir as Panc no meu cardápio e a servir para os amigos. Há três receitas ilustradas com fotos de todas as 351 espécies presentes no livro. É um achado. É uma descoberta. É um novo prazer incluir nas refeições todas essas plantas alimentícias que o desconhecimento e o preconceito afastaram de nossas mesas. Esse jeito de fazer ciência merece todo o meu aplauso. Parabéns ao Valdely Kinupp e ao Amazon Sat. Não dá pra pensar no fim da fome sem a inclusão das Panc na panela, na mesa, na vida das pessoas. Para os leitores da coluna, a minha preparação de omelete de urtiga-vermelha, página 698 do livro. O vídeo foi produzido pela minha filha Odara Rufino, que me deu o livro e gosta de comer as Panc que eu preparo.

Sobre o autor

Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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