Camponesas do lavrado

Mulheres agricultoras, pequenas produtoras, praticantes da agricultura familiar, produzem alimentos orgânicos e saudáveis, mas estão realizando a venda dos seus produtos na calçada em frente ao espaço anterior, que está em obras.

Mulheres agricultoras, pequenas produtoras, praticantes da agricultura familiar, produzem em seus lotes, sítios e chácaras, alimentos orgânicos e saudáveis. Legumes, hortaliças, frutas e verduras. A Universidade Federal de Roraima criou o projeto ‘Camponesas do lavrado’, para apoiar essas trabalhadoras do campo, ou melhor, do lavrado. Pessoa interessada se cadastra, paga uma taxa mensal e recebe toda semana uma bolsa com vegetais e frutos da estação. Os professores orientam essas mulheres com técnicas de plantio e de venda dos produtos. Digno de nota. Nota 10.

Foto: Eliakin Rufino/Acervo pessoal

Além disso, através de um esforço próprio e usando seus próprios veículos, essas mulheres também vendem sua produção, todos os sábados pela manhã, em uma feirinha no bairro Caranã. Para apoiar essa iniciativa a Secretaria de Agricultura do Estado, instalou umas tendas onde cada agricultora tinha seu espaço protegido da chuva e do sol. Isso, infelizmente acabou. Eu sou frequentador da feira e sábado passado fiquei chocado em ver essas mulheres, há quase dois meses, no olho da rua.

As produtoras agrícolas estão realizando a venda dos seus produtos na calçada em frente ao espaço anterior, que está em obras. Conversei com algumas mulheres e elas me disseram que sequer foram avisadas. As tendas de plástico foram retiradas e iniciou-se a obra de construção de um novo teto para abrigar as camponesas. Parece uma boa justificativa. Mas o que foi construído para ser o novo teto da feira é digno de nota. E não é nota 10.

Foto: Eliakin Rufino/Acervo pessoal

A construção lembra uma asa voadora, voando bem alto nos céus do lavrado. Com um espaço diminuto para o comércio dos produtos da feira e com esse teto tão alto, perguntei a elas o que achavam da nova construção. Uma delas me disse que a única maneira de não se molharem, é se não chover. Porque uma chuva com vento vai lavar todo o espaço da feira. Chuva e sol. O teto só protege do sol do meio-dia. Que projeto é esse? Que arquitetura é essa? Na verdade é uma arquitetura feita para lugar nenhum e para nenhum lugar. É um equívoco. Um teto para abrigar uma feirinha de agricultura familiar não é assim. Eu sei, elas sabem, basta olhar.

Aqui em Roraima, há muitos anos, somos presenteados com esse tipo de arquitetura. Uma arquitetura que não leva em consideração o vento, o sol, a chuva, as condições climáticas. É muito comum nós assistirmos a falência desse tipo de arquitetura que não pensa, que não prevê, que ignora as condições locais. Nós, os artistas do Movimento Roraimeira, regionalizamos a arte da música, da literatura, da fotografia e das artes visuais. Falta ainda a arquitetura. Creio que as camponesas do lavrado voltarão a usar as tendas debaixo do novo teto.

Sobre o Autor

Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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