As mais afetadas pelas enchentes e alagamentos são as pessoas que moram nas áreas da cidade onde a altitude continental é menor ou igual a 04 metros.
Já dobraste a barra da calça jeans em dias de chuva por saber que vai colocar o pé na água? Se a resposta é sim, então sabes que este é apenas um dos problemas em tempos de inverno amazônico em Belém. Vias alagadas, casas invadidas pela água e trânsito congestionado fazem parte da rotina do belenense.
Todos esses problemas são causados pelas inundações e alagamentos que acometem periodicamente a cidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), eles são ainda mais acentuados entre os meses de dezembro e maio, quando as chuvas ocorrem com maior intensidade, o popularmente conhecido inverno amazônico.
“As inundações ocorrem quando um corpo d’água, como rio ou canal, transborda. Isto pode ocorrer por conta do excesso de chuvas e do aumento do escoamento superficial, por processos de maré alta em áreas costeiras. Já o alagamento é o acúmulo momentâneo de água na superfície, e pode acontecer dentro da área urbanizada”, explica a Professora Milena Andrade, coordenadora do Grupo de Estudos de Risco, Impacto Ambiental e Geotecnologias na Amazônia, do Instituto Ciberespacial da Universidade Federal Rural da Amazônia (Icibe/Ufra).
Como muitas cidades amazônicas cercadas por rios, Belém é margeada pelo Rio Guamá e pela Baía do Guajará e, segundo dados de pesquisas do Museu Emílio Goeldi (MPEG), está a uma altitude média de aproximadamente 10 metros acima do nível do mar. No entanto, os alagamentos não são causados apenas pela maré alta. A ausência de medidas de prevenção na infraestrutura da cidade contribui para que os alagamentos e enchentes continuem afetando de forma negativa a cidade e a população.
“Uma área alagada se forma pelo acúmulo momentâneo de água em áreas urbanas ou rurais. No caso de áreas urbanizadas, a constante modificação do uso e cobertura da terra transformando áreas de planícies de inundação em áreas impermeabilizadas aumenta a possibilidade de se ter alagamentos, caso não haja um dimensionamento apropriado da rede de drenagem”, explica a professora.
“Existem várias formas de se evitar desastres provenientes de inundação e alagamento, e uma delas é não ocupar áreas de risco. Mas, uma vez que essas áreas estão ocupadas, como é o caso de Belém, medidas estruturais e não-estruturais podem ser feitas. A construção de obras de drenagem, o estabelecimento de uma rede de monitoramento, a limpeza dos canais e ações de educação ambiental são exemplos que contribuem para a mitigação deste problema”, avalia.
As mais afetadas pelas enchentes e alagamentos são as pessoas que moram nas áreas da cidade onde a altitude continental é menor ou igual a 04 metros. “Também é agravante a baixa cobertura vegetal de Belém, que contribui para que a água não fique retida no solo, desaguando nas áreas mais baixas”, diz a pesquisadora.
Imagens de dados da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) mostram as áreas mais afetadas em Belém e o nível de risco de alagamentos nos bairros. Jurunas, Condor, Cidade Velha, Guamá, Terra Firme, Telégrafo e Barreiro são alguns dos mais afetados pelas enchentes e alagamentos, pois, além de se situarem em áreas mais baixas, são bairros à beira do Rio Guamá e da Baía do Guajará.
Com os alagamentos, a população dessas áreas é afetada por perdas e danos materiais, além de estar mais sujeita a doenças de veiculação hídrica, em função do saneamento básico inadequado. “As doenças de veiculação hídricas são as que ocorrem através de contato, uso ou consumo de água imprópria. Exemplos desse tipo de doença são a amebíase, leptospirose, cólera e diarreia”, esclarece a pesquisadora da Ufra.
(*) Com informações da Ascom Ufra