Jogos Indígenas do Baixo Tapajós: evento esportivo busca resgatar cultura indígena no Pará

Os jogos, conhecidos como Jibat, começaram em 2015, são realizados pelo Conselho Indígena Tapajós (CITA) e tem a duração de três meses.

Os Jogos Indígenas do Baixo Tapajós (Jibat) são realizados pelo Conselho Indígena Tapajós (CITA) no Pará e surgiram a partir de uma iniciativa de professores de educação física e de artes. Com 10 modalidades, como natação, canoa, corrida com tora, futebol, arco e flecha, lança, e subida no açaizeiro, os jogos duram em torno de três meses.

As eliminatórias acontecem nos territórios indígenas a cada fim de semana, com representantes de todas as aldeias, e os vencedores de cada etapa seguem para disputar a final. Em 2022, as duas primeiras etapas ocorreram em aldeias das margens dos rios Tapajós e Arapiuns, enquanto a terceira ocorreu na aldeia Alter do Chão, que contou com a participação de atletas das aldeias do Eixo Forte, Planalto e Belterra. A final aconteceu no centro de Santarém, tendo os atletas finalistas de cada região.

O Jibat surgiu em 2015, por iniciativa de professores de educação física e de artes inicialmente pensado para o ambiente escolar, com alunos do ensino médio. Mas logo seus organizadores e o movimento indígena perceberam a dimensão política e o papel estratégico do esporte como instrumento de afirmação e resgate da identidade dos povos indígenas.

O Portal Amazônia conversou com o coordenador geral e um dos idealizadores do Jibat, Adriano Patrese Lobato, para saber mais sobre o processo de criação e implementação do projeto.

“Os jogos surgiram através de uma conversa com o professor Marcelo, quando trabalhamos juntos na aldeia de Nova Vista. Eu sou professor de Educação Física, então sempre dentro das minhas atividades trabalhava com jogos indígenas e quando eu joguei a proposta para o professor Marcelo, o intuito primeiramente era de realizar os jogos estudantis, já que eu trabalho no módulo. Como nosso módulo é itinerante, nós passamos por várias aldeias durante o ano e aí veio a ideia. Quando nós levamos para a plenária, para a reunião, junto com algumas lideranças, surgiu a ideia do por quê não fazer os jogos estudantis envolvendo todos os povos?”.

contou Lobato.

Foi então que, após um ano da idealização, a primeira edição dos Jogos Indígenas aconteceu, com a participação de todos os 13 povos indígenas da região, com três eliminatórias: a primeira no rio Tapajós, a segunda na aldeia de Nova Vista e a terceira na aldeia de Bragança, além de uma no Planalto e a final em Alter do Chão. Ao todo, cerca de 2 mil indígenas participaram da primeira edição.

Foto: Adriano Patrese / Cedida

Assim, segundo Lobato, as modalidades do Jibat envolvem as atividades que estão no cotidiano dos indígenas. “São modalidades que eles já vivenciam durante sua rotina de vida na aldeia. Elas já são atividades praticadas dentro das aldeias. Nós só fizemos trazer para modalidades de jogos”, afirma.

Foto: Adriano Patrese / Cedida

Os jogos são previstos para acontecerem a cada dois anos, com três etapas por ano de realização. Devido a pandemia de covid-19, a realização dos jogos teve que ser adiada. 

Mas retornaram em 2022, com a primeira etapa realizada entre os dias 8 e 9 de outubro, na aldeia Arapiuns, situada entre os rios Arapiuns e Tapajós, com cerca de 300 indígenas, de 13 etnias diferentes. Os classificados foram para a próxima etapa,  realizada na Aldeia Alter do Chão, entre os dias 4 e 6 de novembro e a final na cidade de Santarém, no mês de Dezembro.

A importância do Jibat para os povos indígenas 

Segundo Lobato, a criação do Jibat é uma satisfação pessoal, além de ser o fortalecimento da cultura indígena.

“Me sinto muito feliz, honrado em fazer parte da criação desses jogos. É uma conquista pessoal e acima de tudo é o resultado do fortalecimento da cultura, do empenho dos parentes que fizeram parte dessa construção”, 

declarou.

O objetivo de manter os jogos é dar visibilidade e fazer com que sejam vistos como potencial Jogos Etnoesportivos. “Para os outros anos, esperamos que venha a crescer mais, para que possamos dar o apoio para os parentes que participam, que tenhamos um apoio logístico maior. Os jogos tem tudo para se tornarem um dos eventos etnoesportivos da região e a gente sabe do potencial que os jogos tem para quebrar paradigmas de que não existem indígenas no Baixo Tapajós”, defende. 

 Confira alguns registros dos Jogos:

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