O presidente Jair Bolsonaro afirmou em Manaus que a região amazônica é a “mais rica do planeta Terra” e que pode ser a “alma econômica do país ao casar desenvolvimento com preservação ambiental”, ou ainda, que “possui todos os recursos para alavancar a economia brasileira a partir da biodiversidade, riquezas minerais, água potável, grandes espaços vazios, áreas turísticas inimagináveis”. Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, “Manaus é a capital mundial da biodiversidade”, portanto, não podemos, como afirmou, “continuar, com toda essa riqueza a insistir apenas sobre diferenças de impostos”. Posicionamentos dessa envergadura apenas repercutem e compartilham ideias e propostas elaboradas por renomados cientistas dedicados a estudar e elucidar o bioma amazônico e a desenvolver tecnologias para exploração sustentável da região. Não disseram, presidente e ministro, por conseguinte, nenhuma novidade. O inusitado, e a relevância de tais pronunciamentos decorrem do fato de serem provenientes exatamente deles, o que não se repetia desde a Redemocratização de 1985.
Para a amazonóloga Bertha Becker, o Brasil, nos últimos 60 anos, assistiu a quatro revoluções seminais: a criação da Petrobrás, em 1953; da Embraer, em 1969; do Proálcool, em 1975, e a fundação da Embrapa, em 1973, que tornou o país, em menos de 50 anos, um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Para Becker a quinta revolução brasileira será a da Amazônia. A região, afirma, “é alvo de acirrada disputa entre potências detentoras de tecnologias sobre o controle dos estoques de natureza, localizados, sobretudo, em países periféricos”. Na base das disputas, pondera Becker, o fatoed de que “três grandes eldorados podem ser reconhecidos contemporaneamente: os fundos oceânicos ainda não regulamentados; a Antártida, partilhada entre potências, inclusive o Brasil, e a Amazônia, único a pertencer, em sua maior parte, a um só Estado Nacional”.
Samuel Benchimol, em sua vasta obra, enfatiza que “terras e florestas, águas e rios amazônicos desafiam o homem brasileiro para a última grande aventura da raça humana sobre a Terra”. Para o cientista amazonense, “a Amazônia representa, com seu imenso potencial de recursos naturais, a razão da grandeza do País, o espaço de manobra do futuro, a fronteira e o horizonte de seu crescimento, o poder escondido do amanhã. Antecipar esse amanhã e revelar o poder incógnito que o espaço amazônico encena constitui o grande desafio para todos nós”. Para Benchimol, mesmo “atrasada no tempo, dispersa no espaço, primitiva no trabalho, a sociedade amazônica cumriu no passado sua função histórica de vigia e guardiã da fronteira”. Cabe à atual geração a responsabilidade por avançar as conquistas do passado. Não ficar choramingando pelos cantos, como diziam nossos avós, transferindo recorrentemente responsabilidades a terceiros por problemas que nos cabe solucionar.
Para Eça de Queirós não há nada de novo sob o sol. Por isso, neste momento crucial de nossa história, precisamos assumir atitudes construtivas. Sou contrário a derrotismo antecipado. Tenho lido algumas críticas ácidas sobre os pronunciamentos e as medidas do governo Federal visando destravar a Zona Franca e criar novo modelo de desenvolvimento. Cumpre salientar que a Suframa, nestes últimos quinze anos vinha sendo gerida pelo terceiro escalão de Brasília. Hoje temos um superintendente muito próximo do presidente da República. Extraordinária vantagem que precisa ser maximizada. Desolador assistir líderes empresariais e de classe a mendigar, como o fizeram perante o secretário Carlos da Costa, da Sepec, na Fieam, “uma tolerânciazinha, ao menos até 2073” para nos ajustarmos à reforma tributária. Atitude subalterna que nada constrói, apenas nos deprecia. A hora é nossa. Chega de pires na mão. Temos capital para negociar. Cumpre-nos meter a mão na massa e formular as soluções que, de nossa ótica, melhor atendem aos interesses da região.