O secretário Jório Veiga, da Seplancti, definiu, em reunião de diretoria da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), as prioridades do governo tendo em vista a diversificação da economia amazonense. Hoje, como se sabe, concentrada em cerca de 90% no Polo Industrial de Manaus (PIM). A tese é desafiante. Governos estaduais anteriores, contudo, cederam ao “mais fácil” e se deixaram dominar por visões políticas de curtíssimo prazo, ditadas, não raro, por compromissos políticos atrelados basicamente às próximas eleições. Não contando com uma Suframa forte e estruturalmente organizada, ao contrário, desprovida de suas prerrogativas institucionais de gestão e com seus recursos próprios “desviados” e contingenciados ao Orçamento da União, déficits de políticas públicas de curto e longo prazos foram se acumulando, gerando, consequentemente, inestimáveis prejuízos ao Estado e à Zona Franca.
Antonio Silva, presidente da Fieam, vem exibindo importantes indicativos de que o setor produtivo vê como de absoluta prioridade a exploração sustentada e a integração da bioeconomia ao PIM. Durante o encontro com o secretário Veiga, na Fieam, Silva reafirmou a confiança na exploração dos recursos da biodiversidade levando em conta as vocações regionais. Acentuou que cadeias produtivas derivadas de atividades minerais, da produção de alimentos, pescado, fruticultura e do turismo devem ser urgentemente estimuladas, como forma de contenção do êxodo rural que atinge escala explosiva em Manaus e nas sedes municipais. Levando em conta o quadro do desemprego instalado em Manaus como resultado da cruel recessão que se abateu sobre a economia brasileira e que se agravou a partir de 2015, essa massa migratória, sem emprego, apenas engrossa a marginalidade.
Diante do quadro conjuntural, o governo não tem alternativa, salvo priorizar investimentos em pesquisa e desenvolvimento visando estimular e sustentar o florescimento de novos e promissores ramos de negócio. Convém salientar que o PIM, concentrando 93% do seu faturamento em apenas sete cadeias produtivas chegou a estágio de esgotamento de suas forças. Além do mais, dadas as especificidades de suas atividades manufatureiras, não tem como se expandir em direção ao interior. Aqui, efetivamente, conforme destacou o secretário Jório Veiga, encontram-se as bases dessa nova economia. A partir da exploração do turismo, da mineração, da piscicultura, da bioeconomia, da economia digital e do setor primário (agronegócio), setores que “serão mensurados pela Seplancti, para avaliar os impactos na geração do Produto Interno Bruto (PIB) estadual”, afiança Veiga.
As intenções do governo, associado à nova Surama, são boas. O principal desafio para os gestores da política econômica, todavia, continua sendo criar condições favoráveis de competitividade, previsibilidade e confiança para que o potencial do mercado doméstico e os investimentos planejados se concretizem. A Zona Franca depende de um quadro mais estável de inflação, do equilíbrio das contas públicas, de ter capacidade de gerar setor externo. Nesse sentido, urge quebrar o ciclo de dependência de tecnologias de processo e produto atreladas exclusivamente a componentes, partes e peças importados.O mercado externo é outra importante saída, embora de longo prazo, para a ZFM.
O processo, entretanto, demanda altos investimentos no ensino, ciência, tecnologia e inovação. Mas, segundo o professor de economia da Ufam, Iran Gadelha, pesquisas, no Amazonas, “vêm servindo apenas para justificar, regra geral, diplomas de mestrado e doutorado, seguindo, depois, para a prateleira”. Apesar de ser financiada pelo Estado, os resultados “mantêm-se na posse do pesquisador, não somando inteligência, não chegam a ser apropriada pela inovação, nem divulgada para a sociedade”. Vício contraproducente que, segundo Gadelha, o governo precisa solucionar via governança do sistema de P&D, do qual o CBA é o centro.