P&D, árduos caminhos a trilhar

Foto:Reprodução/INPA

Aprofundando o exame da estrutura de pesquisa e desenvolvimento (P&D) vigente no país e no Amazonas é certo que os números são desfavoráveis ao Brasil no conjunto das nações mais evoluídas tecnologicamente. Comprovadamente, há urgente necessidade de rever a gestão desses investimentos, e o retorno à sociedade, considerando a relação de eficiência, efetividade e eficácia voltados ao desenvolvimento. O pesquisador do INPA Carlos Roberto Bueno, sobre a questão, sinaliza: “a formação de um doutor custa em torno de 8 milhões de dólares e assim essa “máquina” tem que dar resultados produtivos”. É evidente e fundamental a necessidade de formação de recursos humanos mínimos para a região. Nesse sentido, para o pesquisador, o fortalecimento da Ufam e UEA precisa acontecer efetivamente, na pratica. Em um segundo momento, salienta Bueno, “deve-se incluir o IFAM, que vem crescendo muito rapidamente pelo interior (para evitar duplicidade de esforços) e a pesquisa, pelo menos INPA e EMBRAPA, tendo em vista prover embasamento técnico e cientifico ao processo”.

Os desafios são gigantescos. Mais ainda as carências de recursos financeiros e humanos para dar suporte ao esforço de produção de P&D e à subjacente necessidade de formação de quadros capacitados. Segundo o pesquisador e ex-diretor geral do INPA, Adalberto Luis Val, transpondo a questão a um plano empírico, pragmático, a situação complica ainda mais quando se observa que “no papel está tudo muito bonito, mas, na prática, o fato real perde substância”. Recomendável seria formular e conduzir políticas públicas pé no chão. Defende, com efeito, deixar “o que está protegido, protegido; e que, havendo um efeito de degradação mais significativo, que se utilize a informação científica para aproveitar os recursos naturais e ainda, simultaneamente, recuperar essas áreas”.

No tocante à agricultura, Adalberto Val aprofunda sua análise: “Deve-se evitar o uso de áreas novas, aproveitando-se as degradadas por meio do emprego da ciência e tecnologia disponível para produzir naquela determinada área. Há uma conexão disso muito perigosa com o fato de não providenciarmos uma educação de alto nível a essas novas gerações, para serem capazes de julgar criticamente o que se deve ou não fazer com o meio ambiente”. Necessário se torna, com efeito, segundo Val, “estimular a sociedade a cobrar do governo uma educação de alto nível, do fundamental ao ensino superior. Estamos perdendo dramaticamente a capacidade crítica da sociedade sobre a falta de investimentos no meio ambiente. E, simultaneamente, estamos colaborando para a degradação do ambiente. Ou seja, quem tem a capacidade de produzir decretos acaba não tendo os contrapontos de uma sociedade bem-educada”.

O mais grave da questão, contudo, conforme aponta o ex-diretor geral do INPA, diz respeito a que “o desequilíbrio relacionado à capacidade de pesquisa aqui na Amazônia mantém-se a mesmo de duas décadas atrás. Não ultrapassamos a faixa dos 2,5% do investimento total do governo em CT&I em todo o País. Ao contrário, tomando-se como referência 2009, 2010, quando o investimento em CT&I nacional girava em torno de R$10 bilhões, em 2017 o investimento despencou para cerca de R$2,5 bilhões, ou seja, quatro vezes menos. Nestes termos, torna-se difícil conseguir manter avanço expressivo para superar o fosso que separa a Amazônia do resto do País”.

Nos últimos quinze anos, ressalta o pesquisador, “implantaram-se laboratórios muito competitivos na produção de informações robustas sobre a Amazônia, que poderiam ser utilizadas para intervenções mais seguras na região. Avançou-se muito nessas áreas, em questão de muito pouco tempo, porém, cerca de dois ou três anos, estamos perdendo essa infraestrutura por falta de manutenção e, ainda por cima, o governo não está usando a informação que foi produzida aqui”.

Trata-se, por conseguinte, de duplo crime contra a sociedade brasileira, conclui Val.

Manaus, 2 de outubro de 2017.

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