Fórum mundial da água, fora da Amazônia?

Foto:William Costa/Portal Amazônia

Realizou-se em Brasília, ao longo da semana passada, a oitava edição do Fórum Mundial da Água, evento que se repete a cada três anos em um país diferente. A primeira edição ocorreu em 1997, em Marrakesh, no Marrocos, e a última em 2015, em Daegu, na Coreia do Sul. O encontro deste ano traz o tema “Compartilhando Água”. O objetivo, segundo os organizadores, é estabelecer compromissos políticos e incentivar o uso racional, a conservação, a proteção, o planejamento e a gestão da água em todos os setores da sociedade. Em Brasília, o 8ª Fórum Mundial da Água reúne representantes de 175 países, entre cientistas, governantes, parlamentares, juízes, pesquisadores e demais cidadãos.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), uma das estrelas do Fórum, promoveu debates com a participação de autoridades da ONU e de diversos países sobre a importância da gestão responsável da água para a produção de alimentos, tendo em vista o crescimento da população mundial, as mudanças climáticas e os fluxos migratórios. Segundo a FAO, cerca de 70% da água é extraída atualmente para a agricultura. Segundo a Organização, em virtude do aumento da população mundial para cerca de 10 bilhões até 2050, a demanda por alimentos aumentará em cerca de 50%. O desafio para o planeta é produzir mais comida com menos água, uma vez que a escassez de recursos hídricos deve se agravar no futuro.

A relação entre água e segurança alimentar pautou diversos momentos do Fórum. Destacaram-se, dentre outros aspectos, mecanismos para preservação do cerrado – segundo maior bioma da América do Sul –, o problema da fome no mundo e meios de promover a agricultura sustentável. Ao todo, representantes de 172 países participam do encontro. A 8ª edição do fórum inclui mais de 300 mesas de debate, restrita aos inscritos, além de programação paralela aberta ao público. Cerca de 45 mil pessoas passaram pelos corredores, stands, salas de conferências e debates.

Dados da Divisão de Água e Solo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), aponta que, apesar dos esforços internacionais para reduzir a pobreza, a fome crônica cresce no mundo. A situação, segundo a Organização ocorre principalmente na Ásia e na África, depois de ter diminuído durante a segunda metade da década de 1990. Mesmo assim, de acordo com a FAO, cerca de 850 milhões de pessoas “têm ido dormir com fome”.

Face ao relatório das Nações Unidas que fundamenta o incremento da demanda por alimento no mundo em torno 50% até 2050, haverá, consequentemente, aumento da demanda de água. Para a ONU, “o mundo terá que achar uma forma de suprir o aumento do consumo. O volume de água sempre foi constante, contudo, se vai elevar os níveis de produção de alimentos inevitável se preocupar em oferecer maior volume per capita de recursos hídricos.” Como solução para o problema, a FAO considera a importância de “analisar tanto soluções verdes como soluções cinzas”. Expressões que se referem às tecnologias baseadas na natureza, como o reflorestamento de nascentes e bacias, e as que exigem mais infraestrutura, como barragens e cisternas.

No Brasil, concentram-se 12% da água doce do mundo. Mas, mesmo abundante, essa água é distribuída de forma irregular. Por exemplo, a Amazônia, com as mais baixas concentrações populacionais, possui 80% da água superficial. Já a região Sudeste, com a maior concentração populacional do país, tem disponível 6% do total da água. O que então justifica a realização do Fórum Mundial em Brasília e não na região Norte do país?

A solução para o problema hídrico nacional está na Amazônia, não no cerrado. Alter do Chão, o maior aquífero do mundo em extensão de água, localiza-se no polígono compreendido pelos estados do Amazonas, Pará e Amapá. Com grande volume de água potável, que dispensa tratamento, calcula-se seria suficiente para abastecer toda a população mundial por 100 vezes.

Manaus, 26 de março de 2018.

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