O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, na última terça-feira, 24., concorde-se ou não com seu estilo político, foi corajoso, altivo, independente, destemido. O chefe da Nação soube defender seus pontos de vista em um tom incisivo, porém respeitoso, sem exibicionismos e bravatas. Foi direto ao ponto ao denunciar a hipocrisia, o fanatismo ambiental e ideológico, bem como interesses subalternos sustentados por ONGs ambientalistas radicais e governos ditatoriais aliados à velha, cansada e superada esquerda latino-americana e internacional.
Contextualizando a questão ambiental enfatizada por Bolsonaro há de se levar em conta, à luz dos interesses vitais amazônicos, este momento particular em que a região aglutina atenções de governos estrangeiros e da mídia mundial. Ressalto, aprioristicamente, a chamada à realidade da amazonóloga Bertha Becker em sua obra “Amazônia – Geopolítica na Virada do III Milênio”, 2004., quando aponta haver três grandes Eldorados que podem ser reconhecidos contemporaneamente: os fundos oceânicos ainda não regulamentados; a Antártida, partilhada entre as potência, e a Amazônia, único a pertencer a um só Estado Nacional. Constatação que em si evidencia grave dicotomia estabelecida, de um lado, entre o extraordinário interesse mundial , e, de outro, o distanciamento do governo brasileiro em relação ao potencial econômico da região. Estágio letárgico supostamente quebrado diante da proliferação dos incêndios florestais que este ano varreram as regiões tropicais do planeta.
Como fato de extrema relevância, há de se destacar a baixíssima importância dispensada pelo governo à Amazônia, sobretudo no período posterior ao da redemocratização (1985). Nos anos 1960 e 1970, de acordo com Samuel Benchimol em seu clássico “Amazônia – um pouco-antes e além depois”, de 1977, o governo militar desencadeou a “Operação Amazônia”, um conjunto de políticas públicas que impactaram a região mediante a execução de importantes obras de infraestrutura, de urbanização, de telecomunicações, na educação, saúde pública, no saneamento básico, portos e aeroportos. Desse período, cumpre registrar, resultou a criação da SUDAM, da SUFRAMA e a reestruturação do Banco da Amazônia. Subsequentemente, o Brasil redemocratizado, abateu-se prolongado silêncio sobre a região.
ONGs e outros interesses, nem sempre confessáveis, aproveitaram-se da apatia do governo e se fortaleceram a ponto de ditar políticas públicas via ocupação de importantes setores da administração pública. O exemplo mais consistente é o do Fundo Amazônia. Formalmente administrado pelo BNDES, suas decisões operacionais, todavia, eram tomadas por um Conselho Gestor sobre o qual o Brasil detinha mínima autoridade. O governo do presidente Jair Bolsonaro resolveu dar um basta nessa esdrúxula situação, trazendo o controle do Fundo para o Estado brasileiro. Na verdade, simples atitude de soberania, sem qualquer intuito de menosprezar Noruega e Alemanha, cuja preocupação com a salvaguarda do bioma o Brasil reconhece e louva.
O valor do patrimônio natural da região, segundo tese de Bertha Becker, em “Um Futuro para a Amazônia”, 2008, “não se esgota na biodiversidade, que codifica a vida, constituindo base para a fronteira da ciência contemporânea, como a biotecnologia e a engenharia genética”. Não por acaso, prossegue Becker, a região tornou-se alvo de disputa das potências, envolvendo fortes “interesses geopolíticos, além de ambientais, científicos e econômicos”. Desta forma, dado “o potencial e a oportunidade que passou a representar para o mundo, de promover uma utilização alternativa de recursos naturais e de manter a sustentabilidade do planeta, a Amazônia adquiriu valor simbólico para o futuro da humanidade”. Ao Brasil não resta alternativa salvo cuidar e explorar sustentavelmente os recursos de nossa biodiversidade. Senda, penso eu, que o atual governo procura descobrir.