Moacir Andrade. Foto: Divulgação
Em 1988 eu era locutor e diretor da rádio Amazonas FM. Recebi um comunicado passado pela Associação Amazonense de Imprensa, instituição que reunia todos os veículos de comunicação no Amazonas, dirigida pelo Dr. Francisco Garcia Rodrigues, anunciando o prêmio na categoria Rádio.
Imediatamente me coloquei à disposição para criar algo que pudesse destacar na programação e oferecer ao ouvinte algo que seria diferente do que era apresentado em quase todas as rádios do estado. Inspirado e motivado pelo crescente movimento dos bois de Parintins, busquei algo que complementasse a história de nossa terra amazônida.
Fui em busca de um personagem que representasse muito bem a nossa região e, de repente, resolvi convidar o mais importante pintor de nossa região, Moacir Andrade.
Ao analisar a obra geral de Moacir percebe-se a sua contínua busca de caracterização do amazônida. Mas não era uma exposição de quadro e sim um programa de rádio. E logo no primeiro contato senti que seria muito difícil.
Ele, Moacir, era um excelente contador de história e das lendas amazônicas, e falava horas intermináveis. Eu tinha pensado que no Dia da Natureza apresentaria a cada meia hora um “programete” de um minuto e trinta segundos, mas como? O Moacir não tinha freio, falava sem parar.
Como havia convidado para editar o competente radialista e amigo Ray Áureo (hoje na CBN Amazônia Manaus), ele sugeriu que gravássemos o Moacir livre e depois, em cima do que ele falava, faríamos um roteiro e o convidaríamos para ler.
Primeiro Moacir não gostou da ideia, acho que ele pensou que seria desvirtuar a história, e segundo eu passaria vários dias ouvindo para fazer o roteiro. Mas assim ficou decidido e ele acabou aceitando sob a condição que ele aprovasse o texto. Eu parti para a longa jornada com o fone no ouvido por longas horas. Não foi fácil, entretanto cheguei a um texto enxuto das longas lendas e histórias.
Para a minha surpresa ele gostou, mas mesmo assim ele sempre acrescentava algo mais. Foi necessário muita paciência de meu amigo Ray Áureo que finalmente editou e, escolhido um BG, o resultado ficou muito bom.
Nós inscrevemos na Associação e em seguida foi ao ar. Como são muita lendas vou destacar esta, exatamente como foi ao ar em 1989 na voz e desenvolvimento de Moacir Andrade:
Programa número 3: A lenda do Mapinguari
“A lenda do mapinguari conta que nas matas amazônicas existe um animal chamado de mapinguari, que tem a forma de macaco com um olho só na testa e uma abertura que vai ao umbigo. Este animal é uma espécie de defensor da floresta amazônica, ele só mata caçadores ou qualquer indivíduo que penetra na floresta fora de tempo regulamentar, por exemplo feriados, dias santos, domingo. Em dia reservado para a tranquilidade da floresta nenhuma pessoa pode entrar sob pena de ter os miolos devorados pelo mapinguari”.
Esta e mais 16 histórias conquistaram os jurados e fomos vencedores na categoria Rádio. Graças ao Moacir, que aceitou o desafio, e o talento e paciência do amigo Ray Áureo, dividimos o prêmio em dinheiro por nós três, que foi bem-vindo. O melhor foi o reconhecimento do talento das pessoas que compunham a rádio Amazonas FM.
Por hoje é só! Semana que vem tem mais. FFFFUUUUUUUUUUIIIIIIIIIIII!!
Sobre o autor
Eduardo Monteiro de Paula é jornalista formado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com pós-graduação na Universidade do Tennesse (USA)/Universidade Anchieta (SP) e Instituto Wanderley Luxemburgo (SP). É diretor da Associação Mundial de Jornalistas Esportivos (AIPS). Recebeu prêmio regional de jornalismo radiofônico pela Academia Amazonense de Artes, Ciências e Letras e Honra ao Mérito por participação em publicação internacional. Foi um dos condutores da Tocha Olímpica na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.
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