Causos amazônicos – 2: ataque às frutas

Já estávamos a mais de duas horas amarrados à espera dos mecânicos montando a nova hélice quando o Manuel chega a mim, deitado em uma rede no terceiro piso, e fala: "Dudu, aqui em cima do barranco tem uma plantação de frutas. Poderias ir até lá perguntar se poderíamos pegar algumas frutas?".

Imagem gerada por IA

Por Dudu Monteiro de Paula

Um dia estávamos em um barco rumo a Maués, no Amazonas, Manuel e eu. No meio da viagem, em um motor de rotina, subitamente a hélice solta e vai para o fundo do rio. Em uma situação como essa, o motor fica à deriva.

Um barco sem hélice, no meio do rio cheio, tem a tendência de ser levado para margem e os membros da tripulação ficam tentando laçar o motor a alguma árvore ou tronco suficientemente grande para aguentar. Depois de muito esforço, finalmente conseguimos uma árvore frondosa e o barco foi amarrado a beira de um barranco bem alto.

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Já estávamos a mais de duas horas amarrados à espera dos mecânicos montando a nova hélice quando o Manuel chega a mim, deitado em uma rede no terceiro piso, e fala: “Dudu, aqui em cima do barranco tem uma plantação de frutas. Poderias ir até lá perguntar se poderíamos pegar algumas frutas?”.

E assim fui. Subi, acho que uns 150 degraus, e era mesmo uma plantação de algumas árvores frutíferas: jambo, manga, banana, melancia, ingá. Na verdade era um belo sítio com uma bela área.

Ao me aproximar, percebi que tinha uma grande antena parabólica. Quem foi me receber foi uma senhora de meia idade que, ao me ver foi logo falando: “O Dudu do Globo Esporte! Que prazer de recebê-lo! O que posso fazer por você?”.

A abracei, expliquei o que se passava e complementei pedido autorização para pegar algumas frutas. Prontamente atendido, agradeci e voltei para o barco. Expliquei ao Manuel que estava liberado, que ele poderia
ir apanhar algumas frutas e voltei a dormir na minha rede.

Acordei com o motor sendo ligado e iniciando o deslocamento. Imediatamente me levantei e perguntei ao Manuel, que se deliciava com uma manga, se tudo tinha corrido bem e ele me respondeu: “Sim, estamos satisfeitos”.

Perguntei: “Nós quem?”.

E ele complementou: “Eu e os meus amigos” (quase todos os passageiros).

Fique imaginado que tinham tirado todas as frutas da educada senhora. Tinha sido um ataque mortal a plantação da senhora. Envergonhado, disse: “Nunca mais brinco desta maneira”.

Por hoje é só. Semana que vem tem mais! Fuiii!!!

Sobre o autor

Eduardo Monteiro de Paula é jornalista formado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com pós-graduação na Universidade do Tennesse (USA)/Universidade Anchieta (SP) e Instituto Wanderley Luxemburgo (SP). É diretor da Associação Mundial de Jornalistas Esportivos (AIPS). Recebeu prêmio regional de jornalismo radiofônico pela Academia Amazonense de Artes, Ciências e Letras e Honra ao Mérito por participação em publicação internacional. Foi um dos condutores da Tocha Olímpica na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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