Título de mestre para indígena da etnia Apurinã é concedido pelo Inpa

Oriundo da terra indígena Caititu, no Amazonas, sobre a qual realizou o estudo, o mestrando destaca que a relação de familiaridade foi importante e o motivou durante o período de realização do mestrado.

‘Governança e Gestão Ambiental dos Castanhais em Área Protegida no Sul do Amazonas‘, esse é o título da dissertação de mestrado de Joedson Quintino, o primeiro indígena da etnia Apurinã a defender o título de mestre no do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). A defesa da dissertação ocorreu no dia 21 de dezembro. Quintino é pós-graduando do Mestrado Profissional em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia (MPGAP) do Inpa.

O trabalho de conclusão de curso de Quintino aborda a governança de castanhais na Terra Indígena Caititu, no município de Lábrea (AM), no rio Purus. Ele identificou os principais atores envolvidos e analisou as políticas e práticas de gestão ambiental de castanhais.

Em sua pesquisa buscou compreender como os indígenas de duas aldeias locais, as autoridades governamentais e as organizações não governamentais estão colaborando para a preservação e uso sustentável desse recurso natural.

“Esse estudo contribui para uma compreensão mais aprofundada das questões de governança e gestão ambiental em áreas protegidas na Amazônia e oferece percepções valiosas para a promoção da sustentabilidade e da conservação dos recursos naturais”,

destaca o indígena.

Foto: Reprodução/Inpa

Diante da importância da região Amazônica no combate às mudanças climáticas, Quintino aponta os castanhais como uma espécie-chave na manutenção da biodiversidade local pelo valor econômico e ambiental que possui para as comunidades locais, mas é ameaçado pela exploração irregular e a falta de governança.

Quintino ingressou no MPGAP em 2021 e foi selecionado com outros quatro indígenas, na ação afirmativa iniciada pelo programa em 2021, durante a pandemia. Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) pelo Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG/Capes), é o primeiro a concluir o mestrado.

Oriundo da terra indígena Caititu, sobre a qual realizou o estudo, o mestrando destaca que essa relação de familiaridade foi importante e o motivou durante o período de realização do mestrado, além de possibilitar um novo olhar sobre a região da qual é originário.

“Conectar o conhecimento acadêmico com as experiências da minha região proporcionou uma compreensão mais profunda e pessoal. Isso não apenas fortaleceu minha identidade, mas também trouxe uma perspectiva valiosa às questões estudadas. A interseção entre a vivência e a teoria tornou a jornada acadêmica mais significativa e motivadora”.

Foto: Reprodução/Inpa

Henrique Pereira, agrônomo, ecólogo, docente permanente do MPGAP, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e atual diretor do Inpa, foi o orientador de Quintino no mestrado e destaca a vasta experiência de seu orientando com gestão e conhecimento da área estudada.

“Quintino é o 17º mestrando do MPGAP a quem eu tive o privilégio de orientar e o primeiro indígena. Além de sua formação como biólogo de graduação e sua experiência como gestor de áreas protegidas, enquanto chefe da Reserva Extrativista Ituxi, na sua pesquisa de mestrado, Joedson, como indígena e ex-gestor, pode aportar todo o seu conhecimento sobre a sua região e sua capacidade de dialogar a um só tempo com as lideranças indígenas, com organizações do terceiro setor e governamentais”, destaca Pereira.

O pós-graduando destaca que apesar do desafio, conciliar os saberes ancestrais e acadêmicos trouxe para si novos horizontes e aprendizados.

“Para o meu povo, que carrega consigo a riqueza cultural e a força da Amazônia, compartilho meu orgulho ao conquistar o título de mestre em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia. Que este feito seja um marco, incentivando a todos, a perseguirem seus sonhos e a preservarem nossa Amazônia querida. A vitória é de todos nós, com respeito, coragem e amor pela nossa casa comum. Que essa conquista inspire e motive outros parentes em suas jornadas”,

comemora.

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