Técnicos de Enfermagem falam dialetos para atender indígenas em hospital rondoniense

Localizado na divisa com a Bolívia, no interior de Rondônia, os técnicos também usam ervas locais para tratar doenças.

O Hospital Bom Pastor, localizado em Guajará-Mirim, Rondônia, desenvolveu iniciativas que incorporam o entendimento e o respeito à cultura indígena na assistência humanizada oferecida para uma população de mais de cinco mil indígenas da região. Na fronteira com a Bolívia, a unidade atua como referência para 54 aldeias da região, das quais cerca de 90% só são acessíveis por meio fluvial.

Entre as iniciativas desenvolvidas no hospital, ganham destaque a presença de técnicos em enfermagem indígenas, com fluência no dialeto para facilitar a comunicação, serviço de nutrição voltado aos hábitos alimentares indígenas, e a horta medicinal, para atender a cultura das aldeias com tratamento fitoterápico.

Foto: Divulgação/Pró-Saúde

Por meio do projeto ‘Semear com Amor’, a unidade hospitalar faz uso farmacêutico de ervas e hortaliças no combate a diversas doenças e sintomas. A horta está atividade há cerca de quatro anos e possui cerca de 35 plantas de espécies diferentes.

“São ervas que estão no cotidiano e cultura de nossos pacientes indígenas. Após a colheita, transformamos em chás que podem ajudar em diversos sintomas, como alívio de dores, gripes, problemas no fígado e no intestino e calmantes, além de fortalecermos o vínculo com pacientes e comunidade”, explica o diretor Técnico do hospital, médico Juan Carlos Boado.

A unidade também conta com outras adaptações especialmente para acolhimento dos povos originários, como instalação de redes nas enfermarias, horário livre para visita e a permissão para mais de um acompanhante, quando liberado pelo médico e enfermeiros.

“Podemos destacar ainda o ambiente com uma oca indígena, construída para humanizar o atendimento dos pacientes e visitantes, buscando trazer para dentro do hospital um local próximo do vivido nas aldeias”, 

complementa o diretor Hospitalar, Geraldo Fonseca.

“Eles conhecem nosso trabalho, se sentem acolhidos e seguros em nos procurar”, ressalta o gestor.

Foto: Divulgação/Pró-Saúde

25% de internações de indígenas

Distante dos centros urbanos, a unidade própria da entidade filantrópica Pró-Saúde, atende uma população de mais de cinco mil indígenas, com realização de consultas, exames, cirurgias, partos e internações. Pneumonia, infecções virais, malária e desnutrição estão entre as principais causas de atendimento.

Em 2022, quase 25% das internações realizadas foram de pacientes indígenas, principalmente para tratamentos clínicos, obstétricos, ginecológicos, pediátricos, além de partos.

O índice permite traçar as características mais relevantes das necessidades deste público. “Na pediatria, a maioria dos pacientes busca assistência para problemas gastrointestinais, respiratórios, desnutrição e para tratar picadas de animais peçonhentos”, explica o médico.

Já na clínica-geral para adultos, a maioria busca auxílio por problemas respiratórios, como pneumonia e bronquiolite, diarreicos, infecções virais e do trato urinário, além de malária. “Há também muitos casos de desnutrição, principalmente em pacientes idosos. São problemas diretamente relacionados com os hábitos de vida nas aldeias e dentro da floresta”, explica Juan Carlos Boado.

A unidade também atua como a única maternidade do município, assim, todas as gestantes são diretamente encaminhadas ao Bom Pastor, inclusive as indígenas. No ano passado, dos 786 partos realizados, 159 foram de pacientes indígenas.  

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