Parteira ensina mulheres a confeccionarem absorventes ecológicos em Rio Branco

Zenaide Carvalho administra o projeto com o objetivo de melhorar a saúde de mulheres que não tem acesso aos absorventes.

Não ter dinheiro para comprar um absorvente íntimo, que é um item básico de higiene pessoal, é a realidade de muitas adolescentes e mulheres adultas. Para ajudar pessoas que não têm condições de comprar o item, a parteira Zenaide de Souza Carvalho tem um projeto que ensina a confecção de absorventes ecológicos em Rio Branco (AC).

Os absorventes são feitos de tecidos costurados pelas participantes. A ideia é criar alternativas de combate à pobreza menstrual e até mesmo uma renda para quem se encontra nessa situação. A produção dos absorventes é feito no Espaço Arte de Ser, no Parque Capitão Ciríaco, no Segundo Distrito de Rio Branco.

Zenaide é natural de Tarauacá, interior do estado, e já contabiliza mais de 300 partos. Um trabalho, que segundo ela, era feito apenas como vocação. “Não ganhava nada para pegar um filho, não tinha dinheiro para pagar. Muitas vezes, quando a gente ganhava algo, era uma galinha. Tinha casa que a gente fazia parto que não tinha, sequer, uma roupa para a criança”, relembra.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

A parteira viajou, se especializou e se tornou uma referência na região. Ela se declara feminista e luta pelos direitos das mulheres, principalmente em relação a saúde e a dignidade. Pra ela essas são causas pelas quais se deve lutar.

“A maior vontade que eu tenho, como mulher e parteira, é defender os direitos das mulheres e a saúde delas. Se o Brasil não tiver saúde, as mulheres também não tem. Se a mãe não tiver saúde, o filho também não tem. E nem o marido porque se a mulher estiver doente, o marido tem algum problema. Ainda vamos alcançar isso, as mulheres todas com seus direitos, com roupas para vestir e comida para comer”, 

defende.

Ela explica também que confecção de absorventes ecológicos traz alternativas para a pobreza menstrual, que afeta diretamente a vida de milhares de pessoas no Brasil.

“Não são em todas as pessoas, mulheres mais jovens que podem comprar o absorvente. Tem delas que não têm dinheiro para comprar um pão para comer de manhã. Como vão comprar um pacote de absorvente que está custando R$ 8. A gente fazendo esses absorventes, tanto a natureza como as mulheres, vão saber cuidar e ter mais saúde. Vão ter uma renda, vão fazer e vender”, destaca.

Espaço Arte de Ser 

A coordenadora do espaço, Amanda Shoenmaker, diz que o local abriga vários projetos voltados para saúde mental tanto para as pessoas em fase de tratamento quanto para o público em geral.

“Esse espaço sem promove eventos culturais, a gente faz um cuidar da saúde mental através, principalmente da arte e cultura, e em um desses eventos convidamos a dona Zenaide para cantar, que cantou e encantou. Conheceu esse espaço, a gente pôde conversar um pouco mais sobre qual o papel desse serviço no cuidar da saúde mental. É uma pessoa com muitos saberes, com muita generosidade e tem um impulso de compartilhar o que sabe para promover melhorias na vida das pessoas, principalmente das mulheres que é o grande foco da vida dela”, complementa Amanda.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Semana passada, a parteira realizou a 2ª edição do projeto e reuniu cerca de 20 pessoas para confeccionarem absorventes. A artista Líli Rocha foi uma das participantes e contou o que achou da iniciativa.

“Achei muito importante, interessante também cada etapa do processo e saber também para gente, pessoas que menstruam, autonomia da gente construir nossos próprios absorventes, tem uma alternativa ecológica pra gente cuidar da saúde e todo conhecimento que a gente tem, que pode contribuir com a vida de outras pessoas é interessante”, comemora.

Zenaide conta que tem mais projetos em mente e que quer ver as mulheres conhecendo o proprio corpo e se tornando donas de si. “Eu penso em um projeto para eu trabalhar anatomia das mulheres. Tenho o projeto Conhecer para Cuidar, porque se você não conhecer seu corpo, como cuida. Precisamos de mais incentivo, do poder público, de tudo que vier será bem-vindo para trabalhar com as mulheres”, conclui.


*Por Agatha Lima, da Rede Amazônica AC

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